Jornal denúncia propina na escolha do Rio de Janeiro como sede Olímpica
Publicado por:
Anderson Costa Costa
O jornal francês “Le Monde” publicou na
edição desta sexta-feira (3) que um empresário brasileiro pagou US$ 1,5
milhão ao filho do ex-presidente da Federação Internacional de
Atletismo, três dias antes da votação para escolha da sede da Olimpíada
de 2016. Segundo a publicação, a Justiça francesa investiga se o
pagamento foi propina para que o pai dele votasse no Rio, que venceu a
eleição e sediou os Jogos, no ano passado.
De acordo com a publicação, o pagamento foi feito por Arthur Cesar
Menezes Soares Filho, que é ligado ao ex-governador Sérgio Cabral, a
Papa Diack, filho do senegalês Lamine Diack. Lamine era membro do Comitê
Olímpico Internacional (COI) e foi um dos que votaram no Rio como sede
dos Jogos de 2016.
Ao G1, o diretor de comunicações da Rio-2016 disse que tem “plena
certeza” de que a escolha da cidade foi através de uma “eleição limpa”.
“Há uma investigação em curso, mas o que se sabe do nosso lado é que a
vantagem de 63 a 32 [votos a favor do Rio] é que a vitória foi por ampla
maioria”, afirma.
Após perder por duas tentativas a sede
(para Atenas, em 2004, e Londres, em 2012), o Rio venceu, em 2009, a
escolha para os Jogos de 2012. A diferença de 29 votos contra Madri foi
apenas no terceiro turno da eleição, realizada na Dinamarca. No primeiro
turno, o Rio ficou em segundo, atrás da capital espanhola (28 votos).
Após a eliminação de Chicago, o Rio teve 46 votos, contra 29 de Madri e
20 de Tóquio.
A publicação europeia ainda que o depósito feito três dias antes da
eleição foi por meio de empresas com endereços em paraísos fiscais. O
“Le Monde” chama o caso de “evidência de corrupção”.
Arthur era dono da Facility, grupo de empresas que presta serviços ao
governo e à prefeitura do Rio em diversas áreas como saúde, limpeza,
alimentação e até no Detran. No início de fevereiro, ele prestou
depoimento ao Ministério Público Federal do Rio.
Para os procuradores, ele pode ter envolvimento no esquema de corrupção
chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral. Arthur negou que tenha pago
qualquer vantagem indevida pra que suas empresas fossem contratadas pelo
governo.
Ainda segundo o jornal “Le Monde”, o pagamento ao filho de Diack teria
sido feito através da empresa de Arthur César, com sede nas Ilhas
Virgens britânicas, a Matlock Capital Group.
O jornal afirma também que um segundo depósito, de US$ 500 mil, teria
sido feito numa conta na Rússia do filho de Diack. Pai e filho são
investigados na França.
O “Le Monde” diz também que, no dia da escolha, o ex-atleta da Namíbia,
Frankie Fredericks, recebeu de Papa Diack, um pagamento de quase US$ 300
mil dólares. Na época da votação, Fredericks era presidente da Comissão
de Atletas do COI e encarregado de supervisionar a lisura da votação
para a escolha da sede de 2016. Atualmente ele preside a comissão de
avaliação das candidatas a sede de 2024.
O Comitê Olímpico Internacional divulgou uma nota à imprensa em que
afirma que está colaborando com as investigações na França e já afastou
Lamine Diack das funções em novembro de 2015.
O COI disse que confia na versão de Fredericks, de que ele está
concentrado em explicar sua inocência e de que os 300 mil dólares pagos a
ele teriam sido referentes a serviços de marketing esportiva. O comitê
informou ainda que, “imediatamente depois de ter sido estabelecida uma
ligação entre este pagamento contratual e o voto para a cidade anfitriã
dos Jogos Olímpicos de 2016, o próprio Fredericks recorreu também à
Comissão de Ética do COI, que agora acompanha todas as alegações para
esclarecer completamente esta questão” (leia a íntegra da nota no fim da
reportagem).
Papa Diack e Lamine Diack estão afastados do esporte. O filho foi banido
do atletismo, enquanto o pai foi preso suspeito de lavagem de dinheiro e
corrupção.
O “Le Monde” entrou em contato com os investigados e somente o filho
respondeu. “Boa sorte com a sua reportagem”, teria dito ao jornalista.
O advogado de Arthur César de Menezes Soares Filho disse que seu cliente
desconhece o assunto e que jamais teve qualquer notícia sobre o fato
divulgado pelo jornal francês.
G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário