Após ação contra senador do PMDB, Congresso articula anistia ao Caixa 2
Publicado por:
Amara Alcântara
O medo pautará o Congresso enquanto
houver Lava Jato. Essa é a avaliação de integrantes do Judiciário diante
da forte reação de parte da classe política, que acusa o Supremo
Tribunal Federal de criminalizar doações legais.
Ministros de tribunais superiores que assistiram à grita de congressistas após a corte tornar réu o senador e ex-presidente do PMDB Valdir Raupp (RO) apostam, em conversas reservadas, que deputados e senadores votarão neste ano somente medidas “para que não sejam presos”.
Segundo a Folha apurou, o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado,
Eunício Oliveira (PMDB-CE), têm se reunido com líderes de todos os
partidos para discutir a melhor maneira de aprovar não só a anistia ao
caixa dois, mas também um pacote mais amplo, incluindo anistia a doações
oficiais nos casos em que o dinheiro for considerado de fonte ilícita.
No ano passado, a Casa tentou –por duas vezes e sem sucesso– aprovar a anistia ao caixa dois e livrar de punições todos aqueles que haviam recebido dinheiro para campanha eleitoral sem conhecimento da Justiça.
Agora, dizem deputados e senadores, é
preciso delimitar uma linha divisória entre o que é caixa um, caixa dois
e propina e evitar que todos fiquem no “mesmo bolo”.
A interpretação do STF sobre Raupp –réu
por corrupção passiva e lavagem de dinheiro– foi a mesma do juiz Sergio
Moro, responsável pela Lava Jato no Paraná: apesar de declarada
oficialmente à Justiça Eleitoral, a doação de R$ 500 mil da empreiteira
Queiroz Galvão à campanha do peemedebista em 2010 seria “propina
disfarçada”, com origem no esquema de corrupção da Petrobras.
Essa foi a primeira vez, em um caso
referente à Lava Jato, que o Supremo admitiu que doações oficiais podem
ser consideradas propina, o que acendeu os ânimos de grande parte dos
políticos.
“Acho que se colocou pimenta no
tabuleiro e realçou-se uma preocupação: como fica a política a partir
daqui? O Legislativo é o Poder que pode anistiar, cassar, então vai ter
que tomar medidas para recolocar as coisas no lugar”, disse o deputado
Vicente Cândido (PT-SP), relator da reforma política na comissão
especial da Câmara.
Segundo ele, a Casa precisa votar pelo
menos três medidas: a nova lei de leniência, a legalização do lobby e
uma lei diferenciando doação legal e caixa dois.
“Financiamento de campanha era assim,
poucas pessoas davam dinheiro apenas pela ideologia, daí é fácil fazer
confusão sobre o que foi favor, o que foi doação, o que foi caixa dois.”
Como revelou a Folha, horas
depois de Raupp virar réu, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves
(MG), também defendeu a tese de que não se pode criminalizar doações
eleitorais. O tucano estava num jantar em Brasília e foi corroborado,
inclusive, por um deputado de oposição, Chico Alencar (PSOL-RJ).
O discurso de Aécio fazia eco à recente
nota do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que disse ser preciso
fazer “distinções” entre quem recebeu recursos de caixa dois e quem
obteve dinheiro para enriquecer.
Era a senha para que políticos de todos os matizes passassem a defender publicamente a tese de que caixa dois não é crime e que não se pode criminalizar o caixa um.
Era a senha para que políticos de todos os matizes passassem a defender publicamente a tese de que caixa dois não é crime e que não se pode criminalizar o caixa um.
JURÍDICO
Ministros do Judiciário ouvidos pela Folha
ponderam que cada caso deverá ser analisado separadamente, visto que
será preciso “provar” que houve contrapartida para a doação legal à
campanha e, com isso, tentar diferir o que é caixa um, caixa dois e
caixa um travestido de propina.
Advogados e juízes ouvidos pela
reportagem consideram que a tentativa para aprovar a anistia ao caixa
dois ou até mesmo um pacote mais amplo é uma forma de conseguir um
benefício ao acusado. Por exemplo: caso haja condenação por outros
crimes, o caixa dois não ajudaria a agravar a pena.
Além disso, dizem, os políticos querem
tratar o caixa dois como “mera irregularidade”, o que não é admissível
no caso de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, e,
dessa forma, conseguir certo alívio diante da opinião pública.
Fonte: Folha
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