Asa Branca, obra imortal de Luiz Gonzaga, o 'Rei do Baião, completa 70 anos
Nesta sexta-feira (03), faz exatamente 70
anos que foi gravada a música Asa Branca, considerada um hino para o
Nordeste e imortalizada na voz do Rei do Baião, Luiz Gonzaga.
No dia 3 de março de 1947, Luiz Gonzaga gravava a
canção pela primeira vez nos estúdios da RCA, no Rio de Janeiro. Uma
composição dele com o médico Humberto Teixeira, que passou dois anos
para ser concretizada.
A gravação foi acompanhada pelo grupo de Regional do Canhoto. Ao fim
do trabalho, Canhoto, líder do grupo, olha para Gonzaga e diz que a
“letra era música para cego pedir esmolas”.
Ele sai dos estúdios e zomba com um chapéu pedindo esmolas ao som da
canção. Mal sabia Canhoto que Asa Branca iria ser um nos maiores
sucessos da música brasileira.
Foram duas versões. A primeira foi gravada pelo próprio Gonzaga em
forma de toada e logo fez sucesso, levando o artista pela primeira vez
ao cinema, tocando a música no filme ‘O Mundo é um Pandeiro’.
Nesta época, Gonzaga já havia iniciado a transposição dos gêneros
musicais nordestinos para a mescla com o choro carioca. Asa Branca foi
essencial para preparar o terreno para o Baião, que seria gravado ano
seguinte e viraria uma febre nacional.
O sanfoneiro logo percebe que uma repaginação poderia ser a saída
para reinventar a toada. Talvez Luiz Gonzaga não imaginasse o tamanho da
proporção que Asa Branca ganharia ao gravar um Baião com a mesma letra.
Essa nova versão foi lançada três anos mais tarde, em 1950, num
compacto que trazia ‘Paraíba’ do outro lado, o que aumentou ainda mais o
sucesso, já que as duas canções ecoaram nas rádios e vitrolas do
Brasil.
O professor e historiador Armando Andrade diz que a identidade do cantor se confunde com a letra de Asa Branca.
Para ele a canção é marca registrada de Gonzaga. É nela que se
misturam o homem, a música e seu povo. “A partir de Asa Branca o Brasil
viu o drama através da voz do próprio nordestino. É dessas coisas que a
poesia e a literatura conseguem fazer, transportar através da linguagem
as pessoas a vivenciar a dor do outro” diz.
Outra característica marcante de Asa Branca é a saudade do amor perdido com o exílio forçado devido a seca.
Se os clássicos traziam as guerras como o motivo da partida do homem e
a promessa de volta para o grande amor, em Asa Branca, é a seca que
expulsa o homem e a ave, numa metáfora que se estende à condição humana.
“Talvez aí resida a universalidade e aceitação pelo grande público,
além de retratar a real condição das famílias nordestinas. A promessa da
volta do homem para seu grande amor está presente desde a literatura
grega, como a Odisséia. É um tema universal com que todos se
identificam”, diz Armando Andrade.
A força de Asa Branca pôde ser vista em 2009, quando a Revista
Rolling Stone Brasil, publicou uma lista com as 100 maiores músicas da
história do país. Um honroso 4º lugar, ficando atrás de clássicos como
Carinhoso, Águas de Março e Construção.
G1
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