Cidade de Mineiros, em Goiás, não sabe o que fazer com 150 mil perus
Esse problema se agrava diariamente, não apenas por conta do volume de aves acumuladas, mas principalmente pelo peso que os animais passam a ganhar
© Reuters
A tensão que o embargo da carne causou em todo o País tem
testado seus limites na pequena cidade de Mineiros, município de 60 mil
habitantes a 450 quilômetros de Goiânia. O clima é de desespero entre os
produtores de peru e frango do município, que abastecem o complexo
frigorífico da BRF Perdigão, unidade que está com as portas fechadas
desde sexta-feira, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne
Fraca.
No entra e sai que há uma semana tumultua o escritório da Associação
dos Avicultores Integrados da Perdigão em Mineiros (Avip), os produtores
de aves buscam alguma resposta sobre o que será feito com os milhares
de animais que já estão em fase de abate pelo frigorífico. "O que temos
para dizer é simplesmente alarmante", afirma Fábio Lemos,
vice-presidente da associação. "Estamos perdidos. Não temos nenhuma
relação com as acusações, mas estamos aqui sozinhos, sem ter a menor
ideia do que vai acontecer."
A unidade da Perdigão de Mineiros é um dos três frigoríficos que
tiveram suas linhas de produção paralisadas por determinação do
Ministério da Agricultura, até que se apurem as eventuais falhas
sanitárias investigadas pela Polícia Federal. Em operação regular até a
semana passada, o frigorífico teve sua licença sanitária aprovada em
fevereiro e vinha abatendo diariamente cerca de 25 mil perus, aves que
são enviadas ao exterior, principalmente a países da União Europeia.
Com o fechamento da unidade, as 219 granjas do município travaram as
atividades. Nos últimos seis dias, cerca de 150 mil perus que deveriam
ter deixado os criadouros para serem abatidos na unidade da BRF tiveram
de continuar no campo. Esse problema se agrava diariamente, não apenas
por conta do volume de aves acumuladas, mas principalmente pelo peso que
os animais passam a ganhar.
O limite do peso para abate de cada ave, segundo os produtores, é de
até 25 kg. Em média, os animais, conhecidos como "peru pesado", estão
com cerca de 20 kg no momento do abate. Ao permanecerem nas granjas,
eles ultrapassam 25 kg e não podem mais entrar na linha de produção por
conta da configuração técnica da fábrica. Ou seja, não poderão ser
processados pela unidade da Perdigão, além de não atenderem às
exigências de boa parte dos compradores internacionais.
Nas fazendas de Mineiros, dentro de galpões ventilados 24 horas por
dia e com temperatura mantida constantemente em 27 graus, há 4,3 milhões
de perus em alguma fase de sua vida de seis meses até o abate. A
produção no frigorífico é permanente e ocorre de segunda a sábado, o ano
todo. Por dia, 25 mil aves deveriam seguir para a unidade de
processamento, mas estão em cativeiro, e continuam a engordar. Por isso,
cada dia de paralisação nesse processo gera um efeito em cascata em
toda a cadeia.
As acusações que envolvem a unidade da BRF em Mineiros são de
pagamento de propina a fiscais agropecuários para evitar o fechamento da
unidade e facilitar a emissão de autorizações sanitárias. Dois
funcionários tiveram prisão preventiva decretada e um vice-presidente
foi alvo de condução coercitiva e busca e apreensão.
Notícias ao Minuto com informações do
Estadão Conteúdo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário