Mulheres empreendem em busca de independência no Estado da Paraíba
Cristina Heim premiada no Mulheres de Negócios |
Elas são rejeitadas no mercado quando atingem
certa idade. Costumam ganhar menos, mesmo ocupando cargos iguais aos
dos homens. E muitas vezes trabalham bem mais, quando se leva em conta a
‘terceira jornada’ daquelas que precisam cuidar da casa e dos filhos. A
luta por melhores condições de trabalho está presente no Dia das
Mulheres desde a sua criação, por isso o Portal MaisPB
traz, neste 8 de Março, histórias de trabalhadoras que fizeram do
empreendedorismo um instrumento de luta para enfrentar mais uma
desigualdade que desde cedo lhes é imposta.
Dados divulgados pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a
América Latina e o Caribe (CEPAL) denunciam este cenário: no Brasil,
mulheres ganham até 25,6% menos que os homens, mesmo quando têm cargos e
qualificações iguais. No que diz respeito aos postos de gerência ou
direção, elas recebem até 32% menos que eles, segundo informações da
Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Os indicadores apontam aquilo que muitas já têm
percebido ao tentar entrar no mercado de trabalho: a desigualdade.
Gestora de Educação Empreendedora do Sebrae Paraíba, Humara Medeiros,
diz que estas discrepâncias têm feito muitas mulheres abrirem seus
próprios negócios. “O empreendedorismo tem sido o caminho para aumentar o
número de mulheres que têm sua independência financeira. Mesmo
realizando atividades igualitárias aos homens, elas não alcançam o mesmo
nível salarial no mercado de trabalho. As oportunidades de empregos não
são as mesmas e isso dificulta sua inserção, levando-as a buscar
qualificação para empreender”, destacou.
Quem conhece bem este cenário é Alkiria Rezende, de 52 anos, da MUXITO,
empreendimento especializado em produção e venda de sanduíches
naturais. Sua história tem o enredo das milhares de paraibanas que
precisaram de força e determinação para burlar o destino de dependência e
falta de oportunidades que logo cedo é apresentado.
“Me divorciei e precisei me virar, porque tinha três filhas que
dependiam de mim. Vendi de tudo: produto de beleza de porta em porta,
produtos naturais, até plano funerário eu vendi. Consegui mais
tranquilidade quando assinaram minha carteira, até o dia que fui
demitida e não consegui mais emprego. Já tinha mais de 40 anos e o
mercado não me absorvia”.
Depois de muitas portas fechadas, Alkiria percebeu que empreender
poderia abrir um caminho de novas possibilidades. “Minha mãe sempre me
orientou a ter meu negócio, mas me casei e fiquei na dependência do
marido. Depois que nos divorciamos, tentei de tudo para sobreviver, mas
só encontrava obstáculos. As contas chegavam, meu apartamento foi a
leilão porque não tive mais como pagar. Uma amiga me aconselhou investir
nos sanduíches naturais, porque era um nicho que estava crescendo.
Assim começou a história da minha empresa”, lembra.
Sororidade: palavra que designa a aliança entre
mulheres, baseada na empatia e companheirismo. Do conselho da mãe no
passado à orientação da amiga no presente, Alkiria construiu seu
empreendimento de mãos dadas às várias outras companheiras. “Nesta época
era minha filha mais velha quem sustentava a casa. Ela saiu do emprego
para me ajudar. Com o pouco dinheiro dela investimos nos sanduíches.
Saíamos de porta em porta, muitas vezes não tínhamos nem o que comer
para investir no produto. Minha filha caçula dizia que estava com fome,
eu mandava ela tomar água e dormir. Tivemos que ter perseverança e aos
poucos fomos tentando conquistar nosso espaço”, destaca a empreendedora.
E juntas, mãe e filha conquistaram o mercado. Hoje são cinco
funcionários, mais de 60 clientes em pontos de vendas fixos, fora as
vendas para eventos. Já são três linhas de produtos (além dos
sanduíches, são torradas integrais e tofus, também usado nos produtos,
que não têm lactose). Com o faturamento, conseguiu formar as três
filhas: uma administradora de empresas, uma nutricionista e a outra
chefe de cozinha. “Para mulher é sempre mais difícil. Por mais
qualificação que você tenha, nem sempre conseguimos os espaços.
Empreender para mim foi uma porta de saída daquela dificuldade. Meu
conselho é que se faça o que se gosta, acreditando no que faz”, destacou
Alkiria, que já está há 14 anos no mercado com a Muxito Lanches.
“Para mulher é sempre mais difícil. Por mais qualificação que você tenha, nem sempre conseguimos os espaços. Empreender para mim foi uma porta de saída daquela dificuldade” – Alkíria Rezende
Vencedora do Prêmio Sebrae Mulheres de Negócios, outra que encontrou
no empreendedorismo o caminho para a independência financeira foi
Cristina Heim, da GuardeBem,
empresa especialista em soluções de espaço compartilhado: Escritório
virtual, Coworking e Self Storage. “O empreendedorismo é bem mais
democrático, permite que pessoas de qualquer idade iniciem seu negócio. É
trabalhoso, tem riscos e precisamos de muita determinação, mas ele
permite que você alcance patamares no limite dos seus sonhos”, disse.
A empreendedora observa que, comparado com o mercado de trabalho
comum, o empreendedorismo dá às mulheres a liberdade de alcançarem com
maior liberdade o objetivo desejado. “O emprego formal acaba limitando
muitas pessoas, principalmente quando se chega a uma certa idade. Hoje
tenho grande satisfação em servir como inspiração para muitas outras
mulheres que querem ter independência, com coragem e atitude. Nunca me
imaginei sendo liderada por outras pessoas ou em alguma função
burocrática, daí a escolha do empreendedorismo”.
Ela reforça ainda que, ao contrário do que acontece no mercado de
trabalho, ao assumirem os próprios negócios, as mulheres não precisam
ficar divididas entre ser mãe ou empresária, já que há mais
flexibilidade àquelas que precisam cuidar dos filhos. “Atrelado ao
empreendedorismo vem toda a necessidade de gestão e manutenção da
própria casa e família, sem deixar de desenvolver uma função produtiva,
que traga retorno financeiro com satisfação profissional e pessoal”,
destacou Cristina Heim.
Sebrae destaca crescimento do empreendedorismo feminino
A pesquisa “Os Donos de Negócio no Brasil: análise por sexo”,
divulgado pelo Sebrae Nacional, mostram que, apesar do número de homens
com negócio ser superior ao de mulheres, a taxa de expansão das mulheres
tem superado a dos empreendedores masculinos. Durante os últimos 13
anos, o número de donas de negócio cresceu em 2 milhões de pessoas
(passando de 5,9 para 7,9 milhões de pessoas).
Em consequência disso, a participação relativa das mulheres com
negócio cresceu de 29% em 2001 para 32% em 2014. Por outro lado, a
participação relativa dos homens perdeu três pontos percentuais,
passando de 71% em 2001 para 68% em 2014.
O estudo revela ainda que 41% das mulheres que tem negócios são
chefes de domicílio. O número é 14 pontos percentuais maior que o estudo
anterior, quando apenas 27% delas eram as responsáveis pelas famílias.
Na Paraíba, os dados também reforçam o poder do empreendedorismo
feminino.
Em números: 32% mais empreendedoras no Brasil; 41% delas são chefes de família; +42 mil MEI mulheres só na PB
Dos 92.682 mil microempreendedores individuais (MEI) do Estado,
42.122 são mulheres, equivalente a 45,4%, apontam dados da Receita
Federal divulgados pelo Sebrae Paraíba. Elas atuam em atividades como
cabeleireiros, tratamento de beleza, serviços domésticos, confecção de
peças do vestuário, fabricação de bijuterias e artefatos, entre outras,
além de atividades tradicionais aos homens, como serviço de táxi,
manutenção e reparação mecânica de veículos automotores, obras de
alvenaria e instalação e manutenção elétrica. Em 2016, mais de 10 mil
mulheres buscaram orientação e capacitação nas onze agências do Sebrae
na Paraíba.
A gestora de educação empreendedora do Sebrae Paraíba, Humara
Medeiros, reforçou o poder do empreendedorismo feminino na Paraíba. “Os
números de atendimentos mostram que elas estão cada vez mais
interessadas em empreender, perceberam que este é o caminho e hoje tem
crescimento mais expressivo que o dos homens, quando pensamos em novos
empreendimentos. Ano passado elas foram destaque e tenho certeza que
continuarão sendo por muito tempo”, finalizou.
Beto Pessoa – MaisPB
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