Sertão da Paraíba recebeu mais de 74 mil cisternas em 15 anos, diz ASA
Segundo entidade, programa beneficiou 345 mil pessoas no Semiárido.
Trabalho começou mais de um século depois das ações do padre Ibiapina.
Mais de 100 anos depois que o padre Ibiapina trouxe as primeiras
cisternas à Paraíba, o estado conta com mais de 74 mil equipamentos de
captação e armazenamento de água na região do Semiárido atualmente. De
acordo com a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), desde 2001, quando a
entidade começou a distribuir cisternas no interior do Nordeste,
345.338 pessoas foram beneficiadas no estado.
Os dados se referem ao Programa Um Milhão de Cisternas, lançado pela
ASA no início da década passada com o objetivo de combater a fome e a
sede durante os períodos de seca no Sertão. O programa é uma das
estratégias que vêm sendo utilizadas para garantir uma convivência
sustentável com o bioma da Caatinga, cuja preservação é um dos
motivadores da Campanha da Fraternidade 2017. A campanha promovida pela
Igreja Católica, que está sendo lançada nesta Quarta-feira de Cinzas
(1º) em todo o Brasil, tem como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e
defesa da vida”.
Até agora, segundo o órgão, além dos 170 municípios da Paraíba
localizados na região do Semiárido, outros 16 de áreas próximas ao
litoral, mas que também enfrentam tempos de estiagem severa, já
receberam cisternas, totalizando 186 cidades atendidas no estado.
O trabalho em larga escala chegou à região historicamente castigada
pela falta de recursos hídricos mais de um século depois que o padre
Ibiapina inaugurou as primeiras cisternas na Paraíba. Pioneiro na defesa
do meio ambiente na Caatinga, o religioso lutava pela construção de
açudes e ensinou técnicas de cultivo aos trabalhadores do campo,
inspirando outros clérigos, como o padre Cícero.
Produção de alimentos e economia
Em 2009, a ASA lançou outro programa de investimento em captação de
água no Semiárido, Uma Terra e Duas Terras, voltado para a produção de
alimentos. Desde estão, 9.565 cisternas para essa finalidade foram
entregues em 87 cidades do estado.
Ainda seguindo a linha iniciada por Ibiapina no século 19, além da
distribuição de cisternas, há um trabalho de orientação dos
beneficiários. Como explica Sérgio Camelo, coordenador do Programa de
Recursos Hídricos da ASPTA, uma das organizações que compõem a ASA, não
basta construir a cisterna. O agricultor tem que saber economizar e
cuidar da qualidade da água captada no equipamento.
Capacitação técnica
"Muita gente acha que se a água estiver cristalina, é de qualidade.
Mas, depois da instalação, se o telhado estiver sujo, a sujeira vai
descer para o fundo do depósito, e a gente não vê. Por isso, a gente
orienta a família a retirar o cano que conecta a calha da casa à
cisterna e só voltar a conectar depois da primeira chuva. Porque é essa
água da primeira chuva que vai lavar o telhado", diz.
Ainda de acordo com Camelo, na região da Borborema, na Paraíba, cada
formação dura normalmente três dias. "A gente trabalha para que as
famílias entendam a realidade hídrica da região e o déficit de água. A
gente também ensina a arborizar a propriedade e técnicas como o
gotejamento para economizar. É importante perceber que a água deve ser
mantida na propriedade, para que os agricultores consigam produzir com a
pouca água que têm", afirma.
Para conferir se as famílias estão cumprindo o que foi repassado nas
formações, o coordenador da ASPTA diz que a associação promove reuniões
com os trabalhadores rurais. "Temos feito intercâmbios para que as
famílias troquem experiências e realizado encontros municipais e
estadual", conta.
Campanha da Fraternidade 2017 - (Foto: Reprodução/ CNBB) |
Sobre a Campanha
O material elaborado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) descreve bioma como um conjunto de vida (animal e vegetal) que se
constitui pelo agrupamento de tipos de vegetação identificáveis numa
região, com condições geográficas e climáticas similares. Isso resulta
em uma diversidade biológica própria.
Dessa forma, um bioma é formado por todos os seres vivos de uma
determinada região, onde a vegetação é similar e contínua, o clima é
mais ou menos uniforme e cuja formação tem uma história comum. No Brasil
existem seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa
e Pantanal.
Na Paraíba a Igreja Católica vai abordar os dois biomas identificados
no estado: a Mata Atlântica e Caatinga. De acordo com o secretário
executiva da Ação Social Arquidiocesana (ASA), cônego Egídio de Carvalho
Neto, “ao abordá-los, vamos entender melhor suas características e seus
problemas para que, à luz da fé, questionemos os desafios atuais desses
biomas e dos povos que neles vivem". "Vamos discutir o que podemos e
devemos fazer em defesa e em respeito à criação que Deus nos deu não
para maltratar e destruir e sim para ‘cultivar e guardar’”, afirma.
Para o cônego, a CF quer ajudar a construir uma cultura de
fraternidade, apontando para a justiça e denunciando ameaças e violações
da dignidade e dos direitos. "Neste ano de 2017, o chamado da Igreja é
lançado a todas as pessoas de boa vontade a enfrentar com compromisso as
palavras do Criador que nos convida a 'cultivar e guardar a criação'. A
nossa caminhada de fé não nos deixa ser indiferentes à realidade de
violência e de descaso com que são tratados os biomas brasileiros”,
justifica.
Biomas na Paraíba
A Caatinga encontra-se envolvida pelo clima semiárido. O semiárido
abrange territórios de oito Estados do Nordeste, mais o norte de Minas
Gerais, totalizando 1.135 municípios, onde vivem cerca de 27 milhões de
pessoas. Essas pessoas representam 46% da população do Nordeste e 13,5%
da população brasileira. A Caatinga cobre mais de 90% desse território
com uma extensão de 844.453km². A palavra Caatinga é de origem
tupi-guarani, que significa “mata branca” e este é o único bioma
exclusivamente brasileiro. É o semiárido mais chuvoso do planeta. É
muito rica em biodiversidade tanto vegetal quanto animal. Muitas plantas
deste bioma, como o Umbuzeiro, guardam água em suas raízes para poder
se utilizar dela em tempos de falta de chuva. As árvores, secas e
retorcidas, e os cactos, com seus espinhos, não representam pobreza, mas
são sinais de vida, que soube se adaptar ao clima semiárido. A Caatinga
abriga 178 espécies de mamíferos, 591 tipos de aves, 177 tipos de
répteis e 241 classes de peixes.
A Mata Atlântica é uma das áreas mais ricas em biodiversidade e mais
ameaçadas do planeta. Originalmente, esse bioma correspondia a uma área
de 1.315.460km² e abrangia 17 estados. Hoje restam apenas 8,5% de
remanescentes florestais acima de 100 hectares do que existia
originalmente. Vivem na Mata Atlântica, atualmente, quase 72% da
população brasileira (IBGE 2014). Isso corresponde a mais de 145 milhões
de habitantes, distribuídos em 3.429 municípios que, por sua vez,
correspondem a 61% dos municípios existentes no Brasil. A maioria das
nossas capitais litorâneas, das grandes regiões metropolitanas,
concentra-se neste Bioma. Neste Bioma vivem mais de 20 mil espécies de
plantas, 270 espécies de mamíferos conhecidos, 992 espécies de aves, 197
espécies de répteis, 372 espécies de anfíbios e 350 espécies de peixes.
Vale do Piancó Notícias com G1
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