Delações da empreiteira Odebrecht vão provocar efeito dominó nos estados
Terremoto político que virá com a revelação dos
conteúdos ameaça atingir vários governadores num momento delicado para
eles, que tentam aprovar medidas duras de ajuste fiscal
| Vice-governador do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, alegou que todas as doações eleitorais que recebeu foram feitas de acordo com a lei |
As delações premiadas dos 77 diretores e ex-executivos da empreiteira
Odebrecht prometem abalar não apenas Brasília quando forem reveladas.
Os depoimentos à Lava Jato também produzirão um efeito dominó nos
estados. E ameaçam virar a opinião pública contra os governadores
envolvidos e, assim, dificultar a governabilidade num momento delicado
em que os estados discutem a adoção de medidas para aliviar as contas
estaduais.
A expectativa é de que o conteúdo das delações da Odebrecht se tornem
públicas em breve. Na única colaboração premiada cuja íntegra já se
tornou pública até agora, do ex-diretor da empreiteira Cláudio Melo
Filho, são citados dois governadores: Renan Calheiros Filho (Alagoas) e
Rui Costa (Bahia), além do vice-governador do Rio de Janeiro, Francisco
Dornelles.
O número de envolvidos, porém, deve se tornar bem maior. O chamado
listão da Odebrecht contém o nome de outros oito governadores, além de
12 ex-governadores. O listão é uma relação de cerca de 200 políticos que
teriam recebido pagamentos (não necessariamente ilegais) da Odebrecht. A
lista foi apreendida em fevereiro do ano passado, durante a 23.ª fase
da Lava Jato, na sede da construtora.
Momento delicado
O terremoto político que ameaça chegar aos estados chegaria num
momento delicado para os governadores. Todos os estados enfrentam
problemas de orçamento. E muitos estão buscando adotar medidas duras de
ajuste fiscal que precisam ser aprovadas pelas Assembleias Legislativas.
Além disso, o governo federal estuda exigir dos governadores, em
troca de socorro financeiro, que privatizem as estatais de água e
energia dos estados – outro tipo de decisão que normalmente precisa ser
referendada pelos deputados estaduais e que costuma enfrentar forte
resistência popular.
Baixa legitimidade
“A dificuldade para o governador [que for citado nas delações] é que
ele se torna um interlocutor com baixa legitimidade; o custo de
negociação [das medidas de ajuste fiscal] fica maior”, diz o cientista
político Marco Antonio Carvalho Teixeira, da Fundação Getulio Vargas
(FGV).
Teixeira cita o caso do Rio, um dos estados com a pior situação das
contas públicas. O atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), era
vice de Sérgio Cabral – preso pela Lava Jato. E seu vice, Francisco
Dornelles, também é citado nas delações. Pezão vem enfrentando protestos
populares e dificuldades para aprovar seu pacote de ajuste fiscal.
“Ainda assim, a Assembleia do Rio ainda dá apoio ao Pezão”, lembra o
cientista político.
Segundo Teixeira, isso tende a se repetir nos estados em que os
governadores aparecerem nas delações. Eles terão problemas, mas manterão
a governabilidade – do mesmo modo que o presidente Michel Temer, também
citado nas investigações, consegue manter apoio no Congresso.
No entanto, o cientista político avalia que a situação piora para os
governadores se a crise política produzida pelas delações também chegar
às Assembleias Legislativas e afetar os interlocutores dos governos. No
listão da Odebrecht, por exemplo, constam os nomes de 23 deputados
estaduais.
6 prefeitos de capitais
Seis prefeitos das 26 capitais dos estados também aparecem no chamado
listão da Odebrecht como supostos beneficiários de pagamentos feitos
pela empreiteira. A relação de nomes, porém, não indica o que teria sido
financiamento legal de campanha e o que teria sido pagamento de propina
ou caixa 2 eleitoral.
Outro lado
Os dois governadores e o vice-governador já citados na delação da
Odebrecht que se tornou pública negam ter cometido irregularidades.
O governador de Alagoas, Renan Calheiros Filho (PMDB), é citado na
delação do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho, que disse que o
político recebeu doações legais de R$ 1,5 milhão da construtora, para
sua campanha, após um pedido do pai, o senador Renan Calheiros, durante
tramitação da MP 677/15. A medida provisória era de interesse da
empresa. Renan Filho, quando foi citado, alegou que todas as
contribuições financeiras de suas campanhas foram feitas dentro da lei e
declaradas à Justiça Eleitoral.
Já o governador da Bahia, Rui Costa (PT), aparece no depoimento de
Cláudio Melo por ter recebido doações eleitorais de valor não
esclarecido a pedido do ex-governador e ex-ministro Jaques Wagner
relacionado a um problema com a Bahia Gás. À época em que teve seu nome
envolvido, Costa negou que tenha recebido dinheiro da Odebrecht.
O vice-governador do Rio, Francisco Dornelles (PP), recebeu R$ 200
mil, segundo Cláudio Melo Filho. O delator alega que a Odebrecht
mantinha uma relação de proximidade com Dornelles por sua atuação como
parlamentar influente que adotava posições alinhadas com os interesses
da empresa. Dornelles alegou que todas as doações eleitorais que recebeu
foram feitas de acordo com a lei e que a Justiça Eleitoral as aprovou.
Fonte: Fernando Martins
Nenhum comentário:
Postar um comentário