Com medo de morrer, prefeitável abandona eleição no município de Magé
Líder do PSDB no Rio de Janeiro, Otávio Leite tentava articular uma candidatura viável em Magé (RJ) |
Interessado
em retomar o poder em Magé, cidade da Baixada Fluminense, após 12 anos,
o diretório do PSDB no Rio planejava até pouco tempo encontrar uma
opção viável para concorrer à prefeitura. A missão cabia ao presidente
tucano no Estado, o deputado federal Otávio Leite, que disse ao UOL ter
achado, há alguns meses, o “candidato perfeito”.
Tratava-se de um homem descrito como “família” e “muito religioso”. Leite não esperava, porém, que o correligionário desistisse de encabeçar a chapa tucana por uma razão estranha ao ambiente democrático: o medo de morrer. O escolhido não quis sequer ser identificado pela reportagem.
O temor do pré-candidato, por outro lado, é coerente. Desde 1997, ao menos 14 pessoas ligadas à política municipal foram assassinadas. Desde novembro do ano passado, em toda a região da Baixada Fluminense, houve 13 homicídios contra vítimas que ocupavam cargos eletivos ou que pretendiam ingressar na vida pública – dois deles em Magé.
O caso que alarmou o tucano desistente, afirma Leite, foi o do vereador Geraldo Gerpe (PSB), de 41 anos, morto a tiros dentro do estacionamento da Câmara Municipal. Em meados de julho, a pré-candidata a vereadora Agá Lopes Pinheiro (DEM) foi assassinada quando estava com o marido em um bar no bairro da Barbuda. Os inquéritos estão a cargo da DHBF (Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense).
Após o assassinato de Gerpe, o então pré-candidato tucano começou a ser pressionado pela família para que abandonasse o projeto político. E o fez sem pensar duas vezes.
“A pessoa me procurou e disse que, pela pressão em casa, não estava mais disposto a concorrer. Afirmou que lamentava muito, mas que o ambiente político da região representava uma insegurança para ele e para família. Um risco que ele não queria correr e ponto final”, explica o presidente do PSDB fluminense.
A pedido da reportagem, Leite tentou contato com o antes pré-candidato a prefeito de Magé, para que ele fosse entrevistado. O convite foi rejeitado e o político respondeu que não se sentia seguro para falar com a imprensa. “A política não era para ser assim”, desabafa Leite. [O pré-candidato] apresentava boas perspectivas. A gente conseguiria compor uma alternativa interessante, uma novidade em relação à clássica realidade de beligerância que existe há muito tempo em Magé, onde existe um nível agudo de radicalização política.
Otávio Leite, deputado federal e presidente do PSDB no Rio
No município, de acordo com o líder tucano, “qualquer candidato precisa andar com seguranças” porque são comuns as tentativas de homicídio. Em geral, o método é simples: as vítimas são abordadas por criminosos em carros ou motocicletas e mortas a tiros. O histórico de violência contra ocupantes ou pleiteantes de cargos públicos na região indica que todos os casos ocorreram praticamente dessa forma. "Mesmo sabendo que a barra é mesmo pesada em alguns lugares, acho que chegamos ao fundo do poço. (…) Nossos candidatos em Magé sempre comentam esse clima violento. Alguns disseram que evitam andar na rua à noite, relatam problemas com milícias e coisas do tipo”, disse Leite.
Na visão do deputado, Magé “está um pouco mais à parte” das atenções eleitorais, o que facilitaria a prática de crimes de motivação política e impulsionaria a sensação de impunidade. “Em outros lugares, as campanhas têm mais televisão. Magé é uma cidade mais escondida. Isso me assusta um pouco”, declarou. “Você pega o histórico do município e vê que há lutas fratricidas de grupos lá. E observa que a resolução desses casos tem sido muito precária.”
CPI aponta impunidade
Em 2000, uma CPI foi criada na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) para investigar e debater a ocorrência de crimes violentos contra políticos na região metropolitana do Estado. No relatório final, duas das sete conclusões apontadas pela comissão foram a “cumplicidade de agentes do poder público” e “a impunidade como principal elemento propulsor da violência política”.
Bol
Tratava-se de um homem descrito como “família” e “muito religioso”. Leite não esperava, porém, que o correligionário desistisse de encabeçar a chapa tucana por uma razão estranha ao ambiente democrático: o medo de morrer. O escolhido não quis sequer ser identificado pela reportagem.
O temor do pré-candidato, por outro lado, é coerente. Desde 1997, ao menos 14 pessoas ligadas à política municipal foram assassinadas. Desde novembro do ano passado, em toda a região da Baixada Fluminense, houve 13 homicídios contra vítimas que ocupavam cargos eletivos ou que pretendiam ingressar na vida pública – dois deles em Magé.
O caso que alarmou o tucano desistente, afirma Leite, foi o do vereador Geraldo Gerpe (PSB), de 41 anos, morto a tiros dentro do estacionamento da Câmara Municipal. Em meados de julho, a pré-candidata a vereadora Agá Lopes Pinheiro (DEM) foi assassinada quando estava com o marido em um bar no bairro da Barbuda. Os inquéritos estão a cargo da DHBF (Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense).
Após o assassinato de Gerpe, o então pré-candidato tucano começou a ser pressionado pela família para que abandonasse o projeto político. E o fez sem pensar duas vezes.
“A pessoa me procurou e disse que, pela pressão em casa, não estava mais disposto a concorrer. Afirmou que lamentava muito, mas que o ambiente político da região representava uma insegurança para ele e para família. Um risco que ele não queria correr e ponto final”, explica o presidente do PSDB fluminense.
A pedido da reportagem, Leite tentou contato com o antes pré-candidato a prefeito de Magé, para que ele fosse entrevistado. O convite foi rejeitado e o político respondeu que não se sentia seguro para falar com a imprensa. “A política não era para ser assim”, desabafa Leite. [O pré-candidato] apresentava boas perspectivas. A gente conseguiria compor uma alternativa interessante, uma novidade em relação à clássica realidade de beligerância que existe há muito tempo em Magé, onde existe um nível agudo de radicalização política.
Otávio Leite, deputado federal e presidente do PSDB no Rio
No município, de acordo com o líder tucano, “qualquer candidato precisa andar com seguranças” porque são comuns as tentativas de homicídio. Em geral, o método é simples: as vítimas são abordadas por criminosos em carros ou motocicletas e mortas a tiros. O histórico de violência contra ocupantes ou pleiteantes de cargos públicos na região indica que todos os casos ocorreram praticamente dessa forma. "Mesmo sabendo que a barra é mesmo pesada em alguns lugares, acho que chegamos ao fundo do poço. (…) Nossos candidatos em Magé sempre comentam esse clima violento. Alguns disseram que evitam andar na rua à noite, relatam problemas com milícias e coisas do tipo”, disse Leite.
Na visão do deputado, Magé “está um pouco mais à parte” das atenções eleitorais, o que facilitaria a prática de crimes de motivação política e impulsionaria a sensação de impunidade. “Em outros lugares, as campanhas têm mais televisão. Magé é uma cidade mais escondida. Isso me assusta um pouco”, declarou. “Você pega o histórico do município e vê que há lutas fratricidas de grupos lá. E observa que a resolução desses casos tem sido muito precária.”
CPI aponta impunidade
Em 2000, uma CPI foi criada na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) para investigar e debater a ocorrência de crimes violentos contra políticos na região metropolitana do Estado. No relatório final, duas das sete conclusões apontadas pela comissão foram a “cumplicidade de agentes do poder público” e “a impunidade como principal elemento propulsor da violência política”.
Bol
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