MULHER DIZ SENTIR ORGASMO DE CINCO A VINTE VEZES EM UMA ÚNICA VEZ
"Se eu gozar duas vezes, a transa não foi das melhores"
Por Nathalia Ziemkiewicz
(Getty Images) |
Tenho
uma inveja visceral dessa amiga. E ela sabe disso. Há anos, trocamos
confidências íntimas, dividindo com a outra detalhes que coram nossas
bochechas só de pensar. Num dos nossos encontros, comentei que gozar é,
de longe, a maior ânsia sexual das mulheres que me escrevem e assistem
minhas palestras. Segundo a pesquisa Mosaico Brasil 2.0, coordenada
pela psiquiatra Carmita Abdo (Prosex/USP) e divulgada no mês passado,
40% das brasileiras têm dificuldades de chegar ao orgasmo.
Ela
deu alguns goles a mais em sua caipirinha, estupefata: “mas é tão
difícil assim?”. Havia me esquecido que essa amiga é a exceção das
exceções. Orgasmo com ela é coisa para se contar com vários dedos e usar
mais de um mão. Não consegue entender como as mulheres fingem - nem pra quê.
Depois de ouvir seu depoimento (abaixo), tive vontade de baixar um
decreto que a proibisse de gozar tanto assim. Junte-se a mim na campanha
pela distribuição de gemidos, como na distribuição de renda. Por um mundo menos desigual também sexualmente falando.
“Sou
publicitária, tenho 29 anos. Perdi a virgindade aos 16, com meu
primeiro namorado. O sexo era incrível e virou parâmetro de comparação
com os seguintes. Já nesta fase descobri o que era o orgasmo, mas
demorei para entender que sentia o prazer de um jeito diferente da
maioria das mulheres. Percebi quando, nas conversas com amigas, ouvia
elas dizerem felizes que haviam gozado na transa. Perguntei: ‘como
assim? se eu gozar uma ou duas vezes só, foi péssimo!’.
Posso
gozar de cinco a vinte vezes em uma única vez. Geralmente, é um orgasmo
mais rápido e menos intenso, mas que rola várias vezes durante a
relação. Os melhores, nem tão frequentes assim, são aqueles que me
deixam tão cansada e relaxada a ponto de querer parar o sexo. Chego a
ficar sem ar e tonta nesses casos, mas aí preciso de bem mais estímulo. Acho que a natureza foi bondosa comigo porque nunca estudei nenhuma técnica, como tantra, por exemplo.
Não
calculo quantos orgasmos tenho por relação. Nem quero, tenho outras
coisas mais interessantes em que me focar. Meu namorado acha estranho
quando gozo apenas duas vezes. Ele pergunta se não curti, se estou me
sentindo bem… É que, normalmente, mal começa a rolar a transa e já tenho
orgasmos. Se passam cinco minutos e nada, ele sabe que algo não está
normal comigo. E não é uma questão de desempenho do outro, mas uma
sensibilidade do meu organismo mesmo.
Gozar
tantas vezes me atrapalha também: não me contento com pouco. Parece que
meu corpo precisa daquele gozo final que vai me deixar bamba, nem que
leve quatro horas pra isso. E nem sempre dá para acompanhar meu ritmo,
né? Sexo tem que ser prazeroso. Se não fosse, eu não faria. Essa história de “estou com dor de cabeça, amor” não rola lá em casa.”
*Nathalia Ziemkiewicz, autora desta coluna, é jornalista pós-graduada em educação sexual e idealizadora do blog Pimentaria.
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