Incerteza sobre Previdência aumenta procura por aposentadoria antecipada
Quem esperava completar a pontuação da
fórmula 85/95 para obter o benefício integral já cogita antecipar o
pedido e receber um valor menor que o previsto, com receio de que as
regras mudem novamente.
Por: Blog do Gordinho
O
medo de que a reforma da Previdência prolongue o tempo para poder se
aposentar tem feito trabalhadores mudarem os planos para o futuro. Quem
esperava completar a pontuação da fórmula 85/95 para obter o benefício
integral já cogita antecipar o pedido e receber um valor menor que o
previsto, com receio de que as regras mudem novamente.
Uma das possíveis mudanças da reforma é a criação de uma idade mínima
para pedir o benefício. Hoje, a idade média da aposentadoria por tempo
de contribuição no Brasil – atendendo à regra antiga – é de 54 anos, uma
das mais baixas do mundo.
A professora do ensino particular Denise Bergamo, de 49 anos, poderia
ter se aposentado em agosto do ano passado pelo fator previdenciário,
mas preferiu esperar mais dois anos para receber 100% do benefício pela
regra que passou a valer no ano passado.
Com receio de precisar trabalhar por mais tempo para se aposentar
caso as regras mudem ainda este ano, ela estuda pedir a aposentadoria
antecipada e receber cerca de metade do teto ao qual teria direito – por
volta de R$ 2,5 mil. Hoje, o teto da aposentadoria é de R$ 5.189,82.
“Não vou esperar mais anos para conseguir receber pelo que sempre
paguei. Assim que o anúncio sair, vou pedir a aposentadoria antecipada
[pelo fator previdenciário]”, desabafa Denise.
O fator previdenciário é uma fórmula matemática que permite
aposentar-se mais cedo, mas com o benefício reduzido. Ele foi criado
justamente para desestimular os pedidos de aposentadoria precoce, mas o
brasileiro gostou da ideia.
“O mecanismo não teve o efeito que o governo pretendia, que era fazer
com que os segurados retardassem a aposentadoria. O segurado é muito
imediatista”, explica o especialista em Previdência, Newton Conde.
Benefício 40% menor
Ana Luíza Conicelli, também professora, planejava pedir a aposentadoria
integral em agosto deste ano, quando completa 55 anos de idade. Mas uma
eventual reforma pode adiar seus planos e reduzir o valor do benefício
em 40%. “Minha vida está suspensa até definirem as mudanças na
Previdência. Isso me apavora”, conta.
Pela regra atual, ela teria direito a receber o teto do INSS já em
agosto. Caso as regras mudem, porém, ela só poderia se aposentar até lá,
pelo fator previdenciário, com um benefício de R$ 3.200. “Já saí do
colégio onde eu trabalhava, mas com esse valor de aposentadoria vou
precisar continuar trabalhando”, conta.
Os professores estão entre os profissionais que, antes, podiamse
aposentar com 25 anos de contribuição – tempo até 10 anos menor que
outras categorias de trabalhadores, devido ao fator de risco e desgaste
que envolve a função.
Mais benefícios concedidos
Entre janeiro e junho deste ano, o número de aposentadorias concedidas
pelo INSS por idade e por tempo de contribuição saltou 11,7% na
comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados fornecidos
pelo órgão via Lei de Acesso à Informação.
Foram 446.794 benefícios concedidos no acumulado deste ano, contra
399.910 em igual período de 2015. Nos anos anteriores, a concessão das
aposentadorias cresceu abaixo de 7% ao ano.
Em março, o G1 noticiou que o valor médio das aposentadorias por tempo
de contribuição havia subido para R$ 2.792,29 com incidência da fórmula
85/95, que estimulou mais pedidos de 100% do benefício. Este valor é 57%
superior à média das aposentadorias com aplicação do chamado “fator
previdenciário” (R$ 1.779,88).
Menos de 1% recebem o teto
Cerca de 180 mil pessoas – ou menos de 1% dos aposentados no Brasil –
recebem o teto da Previdência, segundo o INSS. A maior parte – 66,8% dos
beneficiários, ou 17 milhões de pessoas – recebe o piso, que é
equiparado a um salário mínimo de R$ 880 em 2016. Outros 30,24% estão na
faixa intermediária, com valores entre dois e cinco salários mínimos.
Segundo a presidente do Instituto Brasileiro de Direito
Previdenciário (IBDP), Jane Berwanger, o interesse pela aposentadoria
antecipada aumentou cerca de 30% em seu escritório desde que o governo
anunciou a intenção de reformar a Previdência este ano.
Ela acredita, contudo, que não há motivo para preocupação em muitos
casos, principalmente entre as pessoas que já poderiam ter se aposentado
com o benefício integral pela fórmula 85/95, mas que ainda não pediram o
benefício.
Já quem preferiu esperar para atingir a pontuação da fórmula 85/95 e
se aposentar com 100% do benefício corre o risco de ter que esperar mais
anos para ter esse direito ou ser obrigado a pedir a aposentadoria
antecipada, com um benefício menor.
A advogada previdenciária e vice-presidente do IBDP, Adriane
Bramante, conta que clientes que não planejavam se aposentar agora têm
pressa em agendar o pedido de aposentadoria. “As pessoas estão
assustadas porque não sabem até que ponto seus direitos adquiridos vão
ser respeitados”, afirma.
Estimativa de rombo
Segundo o Ministério do Planejamento, a previsão mais recente para o
rombo do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) neste ano subiu de
R$ 136 bilhões, em março, para R$ 146 bilhões em maio deste ano.
Na comparação com o ano passado, quando somou R$ 85,81 bilhões, a
previsão é de um crescimento de 70% em 2016 – ou de R$ 60,55 bilhões. As
estimativas constam no relatório de receitas e despesas do orçamento
federal de 2016, relativo ao segundo bimestre.
A nova previsão é de que o pagamento dos benefícios do INSS atinjam a
marca inédita dos R$ 500 bilhões em 2016 – contra R$ 436 bilhões no ano
passado. Ao mesmo tempo, a arrecadação líquida do INSS deverá totalizar
R$ 356 bilhões neste ano, em comparação com 350 bilhões no ano passado.
G1
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