Delação premiada cita propina de R$ 30 milhões a caciques peemedebistas
Uma
nova delação premiada, firmada com a Procuradoria-Geral da República,
aponta o suposto repasse de propinas milionárias para senadores do PMDB,
entre eles o presidente do Congresso, Renan Calheiros (AL), Romero Jucá
(RR) e Eduardo Braga (AM).
Nelson Mello, ex-diretor de Relações
Institucionais do Grupo Hypermarcas, afirmou em depoimento aos
procuradores que pagou R$ 30 milhões a dois lobistas com trânsito no
Congresso para efetuar os repasses.
A Procuradoria-Geral da
República vai pedir ao Supremo Tribunal Federal que as afirmações
envolvendo os políticos sejam investigadas. O relato não é alvo de
inquérito na Operação Lava Jato. O Estado apurou que as informações
repassadas por Mello referem-se à atuação de parlamentares na defesa de
interesses da empresa no Congresso.
Os lobistas, segundo Mello,
diziam agir em nome de políticos e que estes poderiam tomar iniciativas
de interesse da empresa e do setor no Congresso.
Segundo o
delator, Lúcio Funaro se dizia “muito próximo” do presidente afastado da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e de outros peemedebistas da Casa. Já
Milton Lyra afirmava agir em nome dos senadores “da bancada do PMDB” que
teriam sido destinatários da maior parte da propina.
Mello disse
que conheceu os lobistas em Brasília. Ele afirmou que se “ajustou” com
Funaro e Lyra para “se aproximar” do poder. Seu objetivo, declarou, era
“proteger” o mercado que representava. Disse ainda que, para ele, o
setor “tinha que ter uma proteção legal”.
Mello trabalhou por mais
de 20 anos no Hypermarcas, grupo do qual se desligou depois de fechar a
delação. Ele afirmou que “ressarciu” o grupo daquele montante que disse
ter repassado aos lobistas. Segundo ele, a empresa Hypermarcas “não
auferiu nenhuma vantagem nem sofreu prejuízos porque foi reembolsada”.
Operadores
O
executivo citou vários nomes em sua delação premiada, incluindo Renan,
Jucá, Braga e Cunha. Na Operação Lava Jato, Funaro já foi apontado como
operador de Cunha e responsável por viabilizar o escoamento de propina
das empreiteiras para as contas do deputado afastado fora do País.
Os
investigadores chegaram a mapear dois carros –um Hyundai Tucson e uma
Land Rover Freelander– em nome da empresa C3 Produções, da mulher de
Cunha, mas que foram pagos por empresas ligadas a Funaro.
Também
na Lava Jato, os irmãos Milton e Salim Schahin, do grupo Schahin,
disseram aos investigadores que foram ameaçados por Funaro por causa de
problemas em obra de interesse dele e de Cunha.
Também na apuração
do cartel que atuou na Petrobras, Lyra foi apontado como operador de
Renan e seu nome apareceu em uma anotação apreendida no gabinete do
senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS).
No documento,
ele está relacionado a um suposto pagamento de R$ 45 milhões em propina
para o PMDB. Em outra frente da Lava Jato, que apura desvios em fundos
de pensão, Lyra é investigado por aparecer como operador de duas
empresas que captaram R$ 570 milhões do Postalis, o fundo de pensão dos
Correios.
Zelotes
Renan e Jucá também são investigados na
Operação Zelotes, deflagrada inicialmente pela Polícia Federal em março
de 2015 para investigar um esquema de corrupção no Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) – órgão colegiado do
Ministério da Fazenda, responsável por julgar recursos de autuações
contra empresas e pessoas físicas por sonegação fiscal e previdenciária.
A
investigação da Operação Zelotes se desdobrou para a apuração de
suposta compra de medidas provisórias no Congresso. Os senadores
peemedebistas são suspeitos de terem recebido propina para aprovar
medidas provisórias de interesse de empresas do setor automobilístico.
Já
Eduardo Braga, ex-ministro de Minas e Energia durante o governo Dilma
Rousseff e atualmente senador pelo Amazonas, foi citado em delação
premiada de ex-executivos ligados à empreiteira Andrade Gutierrez como
destinatário de propina em obras no Amazonas e em licitações
relacionadas à Copa.
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