Ganhando R$ 30 mil ao mês, jovem pede no Distrito Federal valorização de prostitutas
A jovem conta que começou a trabalhar na área há quatro anos e por
opção. Ela afirma ganhar cerca de R$ 30 mil por mês sob a alcunha de
“Spartana Hera”. O dinheiro a permitiu trocar a vida simples por viagens
e ajudas regulares aos pais, além de carro e casa próprios.
“Sempre gostei de sexo e, quando digo isso, é num nível alto, podemos
considerar uma porta para a profissão. Não quer dizer que todas gostam
assim, mas eu tenho essa sorte. E, claro, também pelo dinheiro. Só uni o
útil ao agradável”, afirma. “Sempre pensei como uma opção de vida,
nunca julguei de forma ruim ou tive olhos preconceituosos.”
Hera trabalhava na compra e revenda de roupas, maquiagem e sapatos. O
salário era de R$ 2 mil. A jovem decidiu então apostar no próprio corpo
como produto e passou a atender em uma casa de massagens. Ela diz ainda
se lembrar da primeira experiência.
“Foi estranho, mas, ao mesmo tempo, gostoso. Eu estava nervosa e
apreensiva por quem poderia ser esse primeiro cara. Me lembro dele, sim,
foi muito paciente e educado”, detalha. “Conheci ele somente na sala
reservada. Um homem muito elegante, cheiroso, e não foi o melhor nem o
pior programa. Na época recebi R$ 350 por uma hora.”
A mulher conta ter trocado a clínica pela personagem para melhorar o
trabalho e ter qualidade de vida. Como deusa grega, ela diz conseguir
atender em dias e horários em que ela escolhe e em locais mais seguros e
confortáveis. A jovem não tem mais preço fixo por cliente.
Além de ter clientes no Distrito Federal, Hera também viaja para
serviços no Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Bahia com
frequência. Ela faz em média três atendimentos por dia. Em épocas “muito
boas”, a mulher afirma dobrar o trabalho. A jovem diz não ter restrição
e atender tanto homens quanto mulheres. A garota de programa também
atende com uma amiga, quando solicitado.
“Viajo bastante, mas só com clientes que já conheço há algum período,
por segurança mesmo. Essa ‘seleção’ [de clientes] sempre será um risco,
mas faço diversas perguntas antes, vejo fotos, e mesmo assim não é
nenhuma garantia, esse é o risco que toda garota corre”, explica.
Segundo a garota de programa, a maioria dos clientes quer sexo e
realização de fetiches. “Outros são bem carentes, querem carinho e
atenção. Não sei se posso relacionar os papos com psicologia, mas rolam
muitos desabafos e confissões de frustrações e fraquezas que escondem
das esposas e família. Eu apenas ouço com atenção e faço meu trabalho.”
O primeiro
contato costuma acontecer justamente em viagens de negócios dos clientes
a São Paulo. Os clientes mais antigos têm prioridade no atendimento,
justamente por já serem conhecidos, pagarem “bem” e toparem arcar com os
custos pelo restante do dia ou até da semana para ficar com Hera.
Luta
Carregando cartazes com mensagens como “Seja deputado ou puta, todo
mundo precisa de respeito” e “Eu sou puta, mas o governo que fode todo
mundo”, a jovem tem protestado em Brasília por mais segurança e
garantias para a área. Ela faz referência ao projeto de lei 4.211/2012,
do deputado Jean Wyllys (PSOL). A proposta ficou conhecida como PL
Gabriela Leite – uma garota de programa que defendeu os direitos dos
profissionais do sexo e chegou a fundar a ONG Davida – Prostituição,
Direitos e Saúde.
“Eu presto um serviço e não tenho garantias nenhuma. Precisamos
primeiramente regulamentar a profissão e a partir daí muitas conquistas
virão. As maiores reclamações são sobre a falta de segurança. Dados
dizem que temos mais 1,5 milhão de pessoas trabalhando na prostituição
no Brasil, e todas essas pessoas estão sem direitos previstos pela lei”,
afirma.
Hera não contou se chegou a ser vítima de violência durante o
trabalho, mas diz sofrer preconceito de forma indireta diariamente.
“Normalmente ocorre em conversas com pessoas que não sabem que sou e
acabam destilando suas maldades. Me sinto triste, não posso mentir, mas
também me dá força para lutar no dia a dia. As pessoas precisam
respeitar mais, o que faço com meu corpo não afeta a vida delas. Chega
de nos colocarmos à margem da sociedade. Estamos no centro.”
| Spartana Hera, garota de programa que tem seis clientes em Brasília e que ganha R$ 30 mil por mês (Foto: Spartana Hera/Divulgação) |
Amigos próximos a apoiam no trabalho. “Acredito que as pessoas que
mais se colocam à frente desse preconceito na sociedade são os que mais
consomem nosso trabalho. Pode até ser uma forma de disfarçar os
desejos.”
Ela conta que criou a personagem justamente para se resguardar e para
poder preservar clientes. Rainha do Olimpo na mitologia grega, Hera era
a deusa protetora do casamento, da vida e da mulher. A garota de
programa diz que agregou o “spartana” por sempre ter se visto como
“guerreira”.
“As roupas foram desenhadas por um amigo e confeccionadas por um
estilista em São Paulo. A personagem foi criada para chamar atenção pela
causa, ela é uma batalhadora que lutará por direitos da classe”,
afirma.
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