Energia elétrica residencial teve impacto de 0,56 ponto percentual e ovo subiu 15,39%, maior variação desde o início do Plano Real; é o maior aumento do IPCA no mês desde 2003
Entre as altas em fevereiro, destacam-se o ovo de galinha (15,39%) e o café moído (10,77%) - Foto: Alex Silva/Estadão / Estadão |
RIO E SÃO PAULO - Passada a trégua de janeiro proporcionada pelo bônus de Itaipu, a normalização das contas de luz e os reajustes sazonais de mensalidades escolares pressionaram a inflação oficial no País em fevereiro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou de uma elevação de 0,16% em janeiro para uma alta de 1,31% em fevereiro, resultado mais agudo para o mês desde 2003, informou nesta quarta-feira, 12, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa acumulada em 12 meses voltou a subir depois de dois meses seguidos de arrefecimento, passando de 4,56% em janeiro para 5,06% em fevereiro, a mais alta desde setembro de 2023.
A aceleração do IPCA continua indicando que a inflação está disseminada, incompatível com a meta de 3,00% perseguida pelo Banco Central, avaliou o economista-chefe da corretora de investimentos Monte Bravo, Luciano Costa. Neste sentido, tende a demandar uma postura firme do Banco Central.
"Reforça a sinalização de manutenção do ritmo de alta de 100 pontos-base na reunião de março", disse Costa.
Os dados apontam para uma fotografia pior para a inflação doméstica, com sinais de alerta para os grupos de serviços e bens industriais, corroborou o economista sênior do Banco ABC Brasil, Francisco Lima. Ele afirma não ver perspectiva de melhora à frente nos aumentos de preços de serviços, devido ao mercado de trabalho ainda aquecido. Quanto ao encarecimento de produtos industriais, ele nota influência da alta do dólar.
"É uma piora que reflete o repasse da desvalorização cambial do fim do ano passado. Geralmente é um item que traz conforto para o IPCA, mas esse ano deve contribuir negativamente para o índice", previu ele, que projeta uma taxa de câmbio a R$ 6,16 ao fim do ano.
Para Fabio Romão, economista da LCA Consultores, o IPCA deve encerrar 2025 com uma elevação de 5,6%, sob influência também da "robustez do mercado de trabalho" nos preços de serviços e do impacto do câmbio mais desvalorizado no conjunto de preços industriais, mas também de "reajustes relevantes" em itens monitorados, incluindo tarifas de transporte público, taxa de água e esgoto, energia elétrica residencial e óleo diesel. O economista espera alívio, porém, do custo da alimentação no domicílio.
"Por conta de boas safras em algumas commodities, bem como descompressão em (alimentos) in natura, o que aponta algum alívio no atacado agropecuário que poderá desaguar no varejo. Destacamos que a redução de impostos de importação de alguns produtos pouco afetou a nossa expectativa anual para a alimentação no domicílio, passando de +7,3% para os atuais +7,1%", acrescentou Romão, em relatório.
Os alimentos voltaram a subir em fevereiro, pelo sexto mês consecutivo, mas a alta foi mais branda e menos espraiada, ficando concentrada em uma menor quantidade de itens, segundo Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE. O grupo Alimentação e bebidas saiu de uma elevação de preços de 0,96% em janeiro para uma alta de 0,70% em fevereiro. Em fevereiro, o encarecimento dos alimentos foi "basicamente café e ovo", disse Gonçalves.
"O café vem sustentando alta (de preços) desde janeiro de 2024. No ano de 2024, a alta no café foi de 39,60%. Nos dois primeiros meses de 2025, o café já subiu 20,25%. Em 14 meses, desde janeiro de 2024, o café acumula um aumento de 67,87%", citou o pesquisador.
No mês de fevereiro deste ano, o café moído subiu 10,77%. Já o ovo de galinha aumentou 15,39%, a maior variação para o item desde o início do Plano Real, em julho de 1994. Segundo Gonçalves, os Estados Unidos tiveram perdas do produto por causa de gripe aviária, levando a um aumento nas exportações brasileiras de ovos para o País. Além disso, houve maior demanda pelo item em função do início do ano, ao mesmo tempo em que a ocorrência de um clima mais quente também prejudicou a produção de ovos.
Na direção oposta, ficaram mais baratos em fevereiro a batata-inglesa (-4,10%), o arroz (-1,61%) e o leite longa vida (-1,04%). O índice de difusão de produtos alimentícios, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 71% em janeiro para 55% em fevereiro, ou seja, ainda há mais da metade dos alimentos pesquisados com elevações de preços.
A elevada inflação registrada no País em fevereiro foi concentrada especialmente no aumento extraordinário da energia elétrica residencial e no reajuste sazonal de mensalidades escolares, afirmou Fernando Gonçalves. Os gastos das famílias brasileiras com Habitação tiveram uma elevação de 4,44% em fevereiro, uma contribuição de 0,65 ponto porcentual para a taxa do IPCA. A energia elétrica subiu 16,80% em fevereiro, subitem de maior pressão no mês, 0,56 ponto porcentual. A alta recente decorre da recomposição das contas de luz após a incorporação em janeiro do Bônus de Itaipu.
O grupo Educação teve um avanço de 4,70% em fevereiro, impacto de 0,28 ponto porcentual para a taxa do IPCA. A maior contribuição veio do aumento de 5,69% nas mensalidades dos cursos regulares, por conta dos reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo. As variações mais agudas ocorreram no ensino fundamental (7,51%), ensino médio (7,27%) e pré-escola (7,02%).
"Educação todo mês de fevereiro tem essa sazonalidade", lembrou Fernando Gonçalves, do IBGE.
Em Transportes, as passagens aéreas recuaram 20,46% em fevereiro, subitem de maior alívio no IPCA, -0,16 ponto porcentual. Por outro lado, houve um aumento de 2,89% nos combustíveis. Ficaram mais caros o óleo diesel (4,35%), etanol (3,62%) e gasolina (2,78%). O gás veicular teve redução de 0,52%.
O ônibus urbano subiu 3,00% em fevereiro, como reflexo de reajustes nas tarifas de São Paulo, Campo Grande, Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Recife, Belo Horizonte, Fortaleza e Curitiba.
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