Ele defende que o grande resultado do trabalho de planejamento
financeiro é conferir ao cliente uma vida com mais paz, previsibilidade e
tranquilidade.
"Não tentamos encaixar a independência financeira
no estilo de vida da pessoa. Nós priorizamos a independência financeira e
a construção dos sonhos, e aí ajustamos o estilo de vida nessas
projeções que são feitas", afirma Cerbasi em entrevista à Folha.
Ele
acrescenta que, normalmente, o planejamento financeiro passa pela
modelagem de uma vida ideal para que a pessoa alcance os objetivos bem
diferente da vida atual que a pessoa vinha levando até então.
"Se
estamos falando de reduzir custo fixo, estamos falando, sim, de
potencialmente comprometer algum grau de conforto que a pessoa tem no
seu meio de transporte, na sua moradia", assinala o especialista.
*
Folha - Qual a sua definição para o conceito da independência financeira?
Gustavo Cerbasi -
Independência financeira tem a ver com o grau de certeza que podemos
ter sobre o planejamento financeiro. Podemos falar de independência
financeira total ou parcial. A independência financeira parcial é quando
a pessoa tem uma renda que depende apenas dela. É um trabalho que ela
exerce como profissional liberal, como autônomo, atividades que, se
forem interrompidas, a pessoa pode optar por ter uma cobertura de seguro
que dê uma certa continuidade.
A independência financeira é total
quando ela já tem um patrimônio ou um mecanismo de geração de renda que
proporcione essa estabilidade sem depender do trabalho dela. Vamos supor
que a pessoa tenha um custo de vida de R$ 10 mil por mês e tenha um
patrimônio de R$ 1,2 milhão, que é o suficiente para proporcionar
perpetuamente esse rendimento. Essa pessoa pode até estar trabalhando na
fase produtiva da vida, mas ela é financeiramente independente porque,
se ela tiver que parar de trabalhar, ela consegue manter os gastos
mensais dela com o rendimento do patrimônio, seja previdência, sejam
imóveis, sejam aluguéis, seja rendimento de carteira de ações, algo
nesse sentido.
Folha - A independência financeira é uma demanda recorrente por parte de clientes que lhe procuram?
Gustavo Cerbasi -
Como o trabalho de planejador financeiro ainda é pouco conhecido no
Brasil, as pessoas procuram a SuperRico, procuram um planejador
financeiro, em um primeiro instante, com o objetivo de ter uma
rentabilidade melhor dos seus investimentos. Mas esse seria o trabalho
do consultor de investimentos, um trabalho até que acontece com bastante
imprecisão.
O que a pessoa acaba descobrindo ao conversar com o
planejador financeiro é que, primeiro, nós não discutimos carteira de
investimentos antes de entender quais são os projetos que a pessoa quer
concretizar, incluindo independência financeira, reforma da casa, troca
de casa e automóvel, educação dos filhos e projetos de menor porte ou
menor prazo, como viagens, enfim, experiências. É quando temos uma noção
mais completa dos objetivos que a pessoa tem, que chamamos de curva de
vitalidade financeira, e, a partir da curva de vitalidade financeira,
explicamos para o cliente o quão distante ele está da capacidade de
alcançar a independência financeira, ao mesmo tempo que realiza os
demais projetos de vida.
Folha - Quais são as recomendações que o sr. passa para essas pessoas?
Gustavo Cerbasi -
São recomendações diversas, porque recebemos diariamente tanto pessoas
que estão endividadas quanto pessoas que recebem algum tipo de
patrimônio, herança, bonificação, aumento de renda. E a orientação
normalmente começa pela inversão da ordem nas escolhas. Não tentamos
encaixar a independência financeira no estilo de vida da pessoa. Nós
priorizamos a independência financeira e a construção dos sonhos, e aí
ajustamos o estilo de vida nessas projeções que são feitas.
Para que
fique claro, normalmente trabalharemos na vida do cliente a modelagem de
uma vida ideal para que a pessoa alcance os objetivos, mas que
normalmente será uma vida ideal bem diferente da vida atual. As
principais consequências são ajuste no estilo de vida, revisão dos
custos fixos, estímulo a substituir parte do que é custo de vida para
uma qualidade de vida, um consumo de cuidados pessoais, lazer,
experiências que permitam à pessoa se desenvolver como profissional,
como ser humano e aumentar o seu potencial de trabalho na carreira.
Folha - Quais são os principais passos que uma pessoa que busca a independência financeira precisa seguir?
Gustavo Cerbasi -
O segredo está na ordem das escolhas. O primeiro ponto, o mais
importante, tem que entender que a renda que é obtida com o trabalho não
é uma renda para custear a vida no mês. Trabalhamos para pagar a vida
como um todo e temos que entender que haverá um momento da vida em que
não desejaremos trabalhar. Partimos do conceito do equilíbrio, em que o
dinheiro que ganho com o trabalho será fracionado entre custo de vida
presente e a manutenção desse custo de vida futuro. Isso é muito
importante, não vamos simplificar a vida presente para tentar ter uma
vida melhor no futuro. Vamos maximizar ou otimizar a vida presente com a
maior qualidade possível, com lazer, com cuidados pessoais,
provavelmente simplificando o custo de vida.
Se estamos falando de
reduzir custo fixo, estamos falando, sim, de potencialmente comprometer
algum grau de conforto que a pessoa tem no seu meio de transporte, na
sua moradia, mas comprometemos o grau de conforto nesses itens para
aumentar, ou até incluir, um grau de conforto que não exista, em itens
que consideramos também importantes, que são os itens de
autodesenvolvimento.
Folha - Quais são as ações que devem ser evitadas por aqueles que buscam a independência financeira?
Gustavo Cerbasi -
Vivemos em uma sociedade em que 78% dos adultos estão endividados, com
compromissos financeiros que não planejaram ter. O erro a ser evitado é
fazer o que todo o mundo faz. São situações como, ao comprar uma
moradia, procurar no banco uma solução para moradia. O banco vende a
solução do financiamento ou consórcio, e, historicamente, sugere que a
pessoa comprometa até 30% da renda dela ao custear a moradia.
Normalmente a maioria das pessoas vai aceitar esse limite. Ao fazer
isso, está repetindo o erro que quase a totalidade da população adulta
brasileira comete, que é se colocar em uma situação de endividamento.
Não
podemos seguir esse modelo de ir ao banco entender qual é a casa que
nós podemos ter, ir à loja descobrir qual é o carro pelo qual nós
podemos pagar. Temos que ter uma estratégia montada antes, uma
estratégia que leve em consideração o que iremos construir ao longo do
tempo, e com base no que queremos construir ao longo do tempo, adotar um
estilo de vida limitado justamente por essa construção que queremos de
objetivos futuros, e consequentemente, adotando uma vida mais simples
que a maioria das pessoas adota. Mais simples em termos de custo fixo de
vida, porém mais rica em termos de custos variáveis.
Folha - Quais os desafios comuns que mais costumam aparecer no caminho daqueles em busca da independência financeira?
Gustavo Cerbasi -
Os adultos brasileiros não tiveram educação financeira. Essa educação
financeira começou muito recentemente no Brasil, e o que tivemos também
recentemente no Brasil foi um boom, uma moda da educação financeira, que
trouxe ao público tanto orientações de qualidade quanto orientações
superficiais. As orientações superficiais me preocupam muito, porque uma
população sem uma boa base educacional é uma população muito suscetível
a convites que são feitos para atalhos. Atalhos para rentabilidades
milagrosas, atalhos para adquirir bens de maneira que vai deixar a
família sufocada financeiramente por muitos anos, para adquirir algum
item de conforto, de luxo que possa ser ostentado, mas que não tenha a
devida qualidade, todas as escolhas ruins do ponto de vista do dinheiro
são fruto de uma má educação financeira.
Notícias ao Minuto
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