quarta-feira, 24 de abril de 2024

Ex-deputado paraibano opositor da Ditadura Militar morre em João Pessoa

Deputado estadual cassado e preso pelo Golpe Militar de 1964 morre aos 88 anos; Agassiz Almeida virou deputado federal entre 1987 e 1988

Morreu na noite do último domingo (21) o ex-deputado estadual e o ex-deputado federal constituinte Agassiz Almeida. Ele tinha 88 anos, era natural de Campina Grande, mas nos últimos anos vinha morando em João Pessoa.

A morte do político que teve uma postura contudente de oposição à Ditadura Militar foi confirmada pelo seu filho, o professor universitário Agassiz Almeida Filho, que destacou que o pai morreu de forma serena, em casa. "Agassiz partiu com serenidade, em casa, após uma vida inteira dedicada à causa democrática e ao Brasil", escreveu.

O velório aconteceu na segunda-feira (22), entre 8h e 15h, no salão nobre da Assembleia Legislativa da Paraíba. O sepultamento foi marcado para 16h, no cemitério Parque das Acácias.

De deputado cassado a deputado constituinte

Agassiz de Amorim e Almeida nasceu em 25 de setembro de 1935 no município de Campina Grande e desde cedo, ainda muito jovem, se alinhou a pautas de esquerda. Formado em Direito, foi um dos fundadores e um dos advogados das Ligas Camponesas na Paraíba e era professor da Faculdade de Ciências Econômicas de Campina Grande da Universidade Federal da Paraíba.

No início da década de 1960, foi eleito suplente de deputado estadual e chegou a assumir o mandato por vários meses. Na vida parlamentar, defendia temas como a reforma agrária.

"Era o idealismo de uma geração que acreditava numa mudança verdadeira”, relembrou Agassiz em 2023, numa de suas últimas entrevistas em vida, ao lembrar os 35 anos da Constituição de 1988.

Com o Golpe Militar de 1964, contudo, ele foi perseguido. Filiado ao PSB, ele e mais três colegas de legenda (Assis Lemos, Langstein de Almeida e Figueiredo Agra) foram cassados em 07 de abril de 1964, apenas seis dias depois da troca de poder por meio da força. Estaria assim entre os primeiros perseguidos pelos militares na Paraíba.

A perseguição não ficou por aí. Em 11 de abril daquele ano ele e mais oito professores da UFPB foram afastados de suas funções sob a acusação de "subversivo" e em 8 de maio de 1964 teve sua demissão sumária confirmada pelo Conselho Universitário da UFPB.

Em ambos os casos, não teve direito a apresentar defesa, porque foi preso e enviado para o arquipélago de Fernando de Noronha, à época utilizado como presídio político.

Agassiz Almeida no plenário da Câmara como deputado federal constituinte — Foto: Agassiz Ameida/Arquivo Pessoal
Agassiz Almeida no plenário da Câmara como deputado federal constituinte — Foto: Agassiz Ameida/Arquivo Pessoal

Já no período da reabertura política, participou das mobilizações das Diretas Já em João Pessoa e em Campina Grande. E em 15 de novembro de 1986 foi eleito deputado federal pela Paraíba, se tornando assim deputado constituinte que participaria do processo de criação e promulgação da Constituição Federal de 1988.

A Assembleia Nacional Constituinte foi instalada oficialmente em 1º de fevereiro de 1987 e era composta por 512 deputados federais e 81 senadores. Agassiz Almeida era um deles. Foram 21 meses de trabalho. Ela foi votada e aprovada em 22 de setembro de 1988 e promulgada em 5 de outubro de 1988.

Nos últimos anos, Agassiz Almeida vivia mais recluso, fora da vida pública, e estava concentrado nos meses anteriores à sua morte ao processo de escrever as suas memórias.

Blog JURU EM DESTAQUE com Polêmica Paraíba - Por Phelipe Caldas, G1 PB

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