Nonato Guedes

Sob a liderança do governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), o encontro do Consórcio Nordeste realizado ontem, 20, em João Pessoa, no Centro de Convenções, foi histórico e extremamente relevante por servir de paradigma para a inserção do Nordeste na grande agenda nacional que está sendo construída pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu terceiro mandato. A presença dos nove governadores da região foi significativa do novo momento que esta região passa a vivenciar, como parte fundamental do projeto de reconstrução nacional empalmado pelo presidente Lula. Se há um consenso que pode ser extraído da reunião está expresso na definição do próprio governador anfitrião e presidente do Consórcio: “O Nordeste não é problema, é solução”.

Ao longo dos anos, e de diferentes governos que se sucederam em Brasília, o Nordeste foi encarado de forma bipolar – ora como “coitadinho”, ora como “sanguessuga” da economia nacional. Essas duas concepções sectárias impediram que se promovesse um debate objetivo e realista não apenas sobre a problemática, mas também sobre a “solucionática” nordestina, parodiando expressão do famoso jogador Dadá, com passagem pela Seleção Brasileira.  Em meio a preconceitos, xenofobismos e paliativos de toda ordem, forjou-se uma caricatura do Nordeste que nunca correspondeu à sua verdadeira dimensão nem levou em conta suas peculiaridades, ou seja, o fato de que a região enfrenta desigualdades sociais agravadas pelas secas cíclicas mas também tem reagido positivamente em setores essenciais, com nichos promissores de mercado e polos de desenvolvimento. Quem atrapalhou um processo de emancipação ou de ascensão do Nordeste no plano nacional foram alguns governos que passaram pelo Planalto e, convenhamos, alguns Estados sulistas fechados na redoma dos seus próprios interesses.

Justiça seja feita aos dois governos anteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não só pelas suas origens nordestinas mas, sobretudo, pela sua sensibilidade com os mais carentes ou os mais desassistidos, Lula começou a reparar injustiças cometidas contra o Nordeste e a valorizar potencialidades sócio-econômicas existentes neste território do semiárido. Foi quem abraçou de forma decisiva o projeto de transposição das águas do São Francisco, ou de interligação de bacias, que remontava aos tempos de Dom Pedro II. No bojo da viabilização e aceleração do projeto de transposição das águas, foram germinados empreendimentos que se estenderam à produção agrícola e a propostas que estavam engavetadas, como a exploração da energia solar ou energia eólica. Hoje, o que o Nordeste gera de energias renováveis e na área do Turismo pode e deve ser contabilizado como avanço. Mais do que isso, como grande sinal de evolução.

Especialistas na fascinante temática nordestina, como a respeitável economista Tânia Bacelar, pontuaram, em entrevistas, ontem, em João Pessoa, a nova realidade do Nordeste, que se traduz em índices de competitividade e de eficiência de gestão pública. No governo de Jair Bolsonaro, que menosprezou a região, foi uma safra de governadores jovens e ousados quem partiu para um processo de reinvenção da história do Nordeste, com investimentos maciços em setores estratégicos como a Educação, sendo o Estado do Ceará modelo nacional que se constituiu com pujança no ensino e na aprendizagem em plena calamidade da pandemia de covid-19, quando os gestores estavam a braços com uma verdadeira guerra para evitar a expansão da calamidade. Os governadores foram ágeis, também, na aquisição de vacinas contra a covid-19, rompendo a dependência crucial do governo federal, que veio mais tarde, mesclando repasse de imunizantes com discursos negacionistas patrocinados pelo então presidente Jair Bolsonaro e ecoados por uma malta de apoiadores ignorantes ou desinformados.

Como foi destacado por vários governantes presentes ontem na Paraíba, inclusive pelos que chegaram agora ao poder estadual, como Raquel Lyra, de Pernambuco e do PSDB, um marco importantíssimo para a unidade do Nordeste foi o Consórcio Interestadual, ora presidido por João Azevêdo. O Consórcio possibilitou o compartilhamento de experiências com uma margem de êxito surpreendente, abrindo-se para as soluções inovadoras, assessorando-se da comunidade científica e universitária, criando comitês de gestão de crise nos momentos dramáticos como o de piques explosivos da covid-19. O cenário que se traçou ontem foi de extremo otimismo com as perspectivas da região porque o pacto de união entre os gestores está consolidado e porque, agora, é fácil dialogar com o governo federal, já que o governo do presidente Lula conta com nove ministros que foram governadores ou líderes políticos influentes na região. A esperança, agora, está nas respostas que o presidente Lula vai concretizar na reunião já agendada para o próximo dia 27 em Brasília.

Fonte: Os Guedes