quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Musa do tropicalismo apostava em ‘dias melhores’ para o Brasil

Ao portal MaisPB, a cantora Gal Costa deixou mensagem para o Brasil: “É momento de estarmos fortes”

Cantora Gal Costa

“É momento de estarmos fortes”. A frase é da cantora Gal Costa, durante entrevista exclusiva ao editor de cultura do Portal MaisPB, Kubitschek Pinheiro, em fevereiro de 2021, no ápice da pandemia de Covid-19. A artista morreu na manhã desta quarta-feira (09). No ano passado, ela foi entrevista pela Rede Mais por duas vezes.

Gal estava lançando o novo trabalho, ‘Nenhuma dor’, em alusão aos 75 anos da artista, celebrados em 26 de setembro de 2020. À época, Gal comentou sobre o disco, com foco nos jovens e do país. “A esperança move a humanidade”, diz ela.

Musa do tropicalismo nos anos 60, apostava em ‘dias melhores’ para o Brasil. “É o momento de ficarmos fortes que tudo vai passar”, profetizou.

Ainda na conversa, a cantora falou sobre o desejo que tinha de retornar à Paraíba. “Eu pretendo fazer uma turnê desse disco. Assim que tivermos todos vacinados e seguros, eu levo esse show para os palcos. Agora é mais importante cuidar de si e dos outros”, disse em fevereiro de 2021.

Crítica da gestão Bolsonaro, Gal Costa condenou o que chamou de banalizar a arte. “O que o atual governo faz com a arte, de banaliza-la, é horrível. É de uma ignorância e falta de consciência. Mas tenho a esperança de que dias melhores virão. A esperança move a humanidade”, avaliou.

Em novembro do ano passado, quando as festas começavam a ser retomadas depois do agravamento da Covid, Gal celebrou a possibilidade de voltar aos palcos em entrevista ao MaisPB.

“As lives substituíram os shows, eram uma alternativa para a gente ficar perto dos fãs, mas estar em cima do palco é algo que me deixa feliz demais. Eu estava com muitas saudades do frio na barriga antes de entrar no palco, de sentir a energia do público e não via a hora de estarmos todos com um mínimo de segurança, vacinados para nos encontrarmos no show”, afirmou, reforçando que tinha o desejo de estar em João Pessoa.

Reveja as duas entrevistas com Gal Costa:

1) Entrevista MaisPB: “É momento de estarmos fortes”, diz Gal Costa

MaisPB – Gal, primeiro foram saindo os singles e deixando os fãs ansiosos. Agora sai “Nenhum dor” completo. Fale desse processo tão precioso?

Gal Costa – O projeto inicial, que se chamava “Gal 75” foi uma ideia que o Marcus Preto teve antes da pandemia. Para mim foi um respiro, um alívio, poder ir ao estúdio. E espero que seja um alívio para a dor das pessoas com tudo isso que estamos vivendo.

MaisPB – Então, esse disco é fruto da pandemia e também celebra seus 75 anos. Está satisfeita com o resultado?

Gal Costa – Eu acho que esse projeto vai despertar muitas coisas boas nas pessoas. É muito gratificante saber que esse disco pode levar um conforto, um pouco de alegria para quem gosta e se conecta com o meu trabalho. Estou muito feliz e muito satisfeita com o resultado.

MaisPB – Como foi regravar “Nenhuma Dor” 54 anos depois, lá do disco Gal Costa – Domingo ( seu disco com Caetano) 1967 e agora cantando com Zeca Veloso, o filho de Caetano?

Gal Costa – Essa gravação ficou muito bonita porque o Zeca tem um timbre de voz suave, que combina com a minha voz. A gravação ficou pura, límpida e foi muito gratificante ver o resultado. Ela acabou virando o nome do disco pelo próprio momento que estamos vivendo. A letra fala para seguirmos firmes na estrada. É o momento de ficarmos fortes que tudo vai passar.

MaisPB – A capa é a coisa mais bela, do artista plástico Omar Salomão, com colagens de fotos antigas. Vamos falar desse arte, dessa beleza?

Gal Costa – O Omar é um amor, um talento. Ele já havia feito o cenário do show “A Pele do Futuro” e o projeto gráfico do DVD desse show. Eu trabalhei muitas vezes com o pai dele, Waly Salomão, que foi uma pessoa bem importante na minha carreira. Marcus Preto, que produziu o álbum “A Pele do Futuro”, trouxe primeiro Omar como compositor – ele é o letrista da canção “Palavras do Corpo”, musicada por Silva. Depois, Marcus trouxe Omar pra fazer o cenário. Apostamos nele e, sinceramente, foi um dos cenários mais bonitos da minha carreira. Agora veio essa capa. Por causa da pandemia, Marcus Preto sugeriu de usarmos fotos antigas – o que evitaria uma sessão com um fotógrafo, uma equipe e alguma aglomeração. Omar pegou essas fotos lindas, algumas da Thereza Eugenia, que nos fotografou muitas vezes, e fez essa maravilha de capa. Eu adorei.

MaisPB – “Avarandado” você canta com Rodrigo Amarante e canção começa já embalada e depois fica suavemente. Vamos falar desse resgate?

Gal Costa – Eu gosto demais do Amarante, sempre disse que ele era o João Gilberto do rock. Foi uma delícia trabalhar com ele e eu gostei demais da produção que ele fez para essa música. Essa música é alegre, é fresca. Eu gosto demais dela.

MaisPB – Aliás, como foi se dando o repertório desses clássicos de “Nenhuma Dor”.

Gal Costa – A ideia do projeto e os convidados me foram trazidas pelo Marcus Preto e eu recebi com muito amor. Eu já conhecia o trabalho de todos os convidados e achei ótimo cada sugestão porque eu gosto demais do trabalho de cada um. Cantar de novos essas músicas, muitas delas bem marcantes na minha carreira, foi especial. Cada um deles deu uma cara nova para a canção e isso foi muito positivo. Foi um trabalho bem democrático. O ponto central desse álbum era gravar com cantores homens que foram influenciados pelo meu canto, pelo meu trabalho. E eu fiquei muito emocionada com o resultado.

MaisPB – “Só louco”, você convidou Silva que é artista jovem e tem muito talento. E isso você já faz há muito tempo, quando convidou Zeca Baleiro para cantar no Acústico da MTV de 1997. Gal sempre valoriza novos talentos, não é?

Gal Costa – Claro. É importante os artistas de uma geração se conectarem com as outras. De certa forma, eu transmito o meu legado. Eu tenho uma grande influência de um homem, que é o João Gilberto. A estética do canto dele, a maneira como canta, sempre me atraiu muito. E é muito legal ver que esses artistas se inspiram em mim. O Silva tem um canto bem próximo e influenciado pelo meu trabalho.

MaisPB – “Paulo e Bebeto” ficou uma agitação, uma coisa linda com o novo arranjo. E aí você está com Criolo. Vamos falar dessa canção, de regravá-la em dueto?

Gal Costa – O arranjo dessa música foi uma das que eu mais gostei no disco. Criolo é de um talento único, eu já havia gravado uma música dele, “Dez Anjos”, no Estratosférica, em 2015.

MaisPB – Ficou alguma canção de fora ou a ideia era essa gravar dez sucessos?

Gal Costa – Ficaram várias canções de fora. A ideia inicial era regravar sucessos meus que não estavam nos dois shows mais recentes: Estratosférica e A Pele do Futuro. Tínhamos separado algumas outras, como “Vapor Barato” e “Folhetim”, dois clássicos do meu repertório de que eu gosto muito. Mas alguns convidados sugeririam outras canções, que para eles eram muito importantes, como o “Avarandado”, que fiz com Rodrigo Amarante, e o “Nenhuma Dor”, que fiz com Zeca Veloso. O repertório acabou pendendo mais para o Caetano. Mas isso não é um problema, já que Caetano é o compositor que mais escreveu canções para a minha voz.

MaisPB – Seu público hoje tem muitos jovens, além dos fãs de todos os tempos. Como você observa essa legião, a juventude que ama Gal, a voz de Gal, as canções de Gal?

Gal Costa – Meu público realmente rejuvenesceu muito, percebi isso pelas redes sociais e pelas pessoas que têm ido aos meus shows, um público mais jovem. Acho que uma música muito boa, com conteúdo, agrada sempre, qualquer faixa etária. Elas têm melodia, consistência e por isso são eternas. Eu fico feliz que a minha voz esteja passando por novas gerações. Eu trabalho ainda porque a música é muito importante tanto para o público quanto para a minha vitalidade. Eu tenho vontade sempre de ousar, é uma coisa de ímpeto mesmo, faz parte da minha personalidade. E acho que isso também ajuda a atrair o público mais jovem.

MaisPB – Como foi gravar “Pois É”, com o português Zambujo?

Gal Costa – Foi uma delícia. Talvez seja uma faixa que não tenha se sobressaído tanto quanto as outras, mas eu adro. O arranjo tem uma estranheza que, para mim, é a beleza da canção.

MaisPB – Seu disco sai nos formatos físicos: em CD, pela Biscoito Fino; e em vinil, pela Noize Record Club, uma prova de que apesar das plataformas digitais, ter o CD na mão ou o LP, é muito valoroso para os fãs e colecionadores?

Gal Costa – O impacto de uma canção, lançada sozinha, sempre vale muito. Quando a gente lançava os álbuns em vinil, sempre tinha uma ou duas faixas que se destacavam mais. Mas eu acho que o álbum físico, inteiro, continua sendo importante. Tem gente que acha que o vinil tem melhor sonoridade do que um CD ou streaming.

MaisPB – Depois que passar isso tudo vamos ter Gal Costa na Paraíba, novamente?

Gal Costa – Eu pretendo fazer uma turnê desse disco. Assim que tivermos todos vacinados e seguros, eu levo esse show para os palcos. Agora é mais importante cuidar de si e dos outros.

MaisPB – Como você tem visto o Brasil despencando. Como disse Caetano Veloso, teremos esperança?

Gal Costa – O que o atual governo faz com a arte, de banaliza-la, é horrível. É de uma ignorância e falta de consciência. Mas tenho a esperança de que dias melhores virão. A esperança move a humanidade.

2) Exclusivo: Gal Costa fala sobre retorno aos palcos e previsão de show em JP

MaisPB – E aí Gal, contente pela retomada dos shows?

Gal Costa – Estou ansiosa em reviver esse show, que estava fazendo ainda quando começou toda a pandemia. É um compromisso que eu tinha antes, espero que o show seja bonito”, afirma a cantora, de 76 anos de idade e 55 de carreira, sem esconder a adrenalina que marca a sua volta aos palcos.

MaisPB – O lançamento da turnê foi em São Paulo e agora vai começar a temporada no Vivo Rio, com toda segurança e, claro, a luminosidade de sua presença no palco?

Gal Costa – Estou muito feliz em poder voltar. Estava com saudades do palco, onde me sinto segura e serena. A música é importante para a minha vitalidade, me dá equilíbrio.

MaisPB – As lives tiveram sua importância, né Gal?

Gal Costa – As lives substituíram os shows, eram uma alternativa para a gente ficar perto dos fãs, mas estar em cima do palco é algo que me deixa feliz demais. Eu estava com muitas saudades do frio na barriga antes de entrar no palco, de sentir a energia do público e não via a hora de estarmos todos com um mínimo de segurança, vacinados para nos encontrarmos no show.

MaisPB – Como foi construído esse novo show “As Várias Pontas de uma Estrela”?

Gal Costa – Esse projeto existe há um tempo já e consiste em um show criado a partir da obra do Milton Nascimento. A direção é do Marcus Preto e, além das músicas do Milton que eu gravei ao longo da minha carreira, teremos também canções do Jobim, Caetano, Chico Buarque e Dorival Caymmi.

MaisPB – Você acredita que depois do Rio, a turnê poderá chegar ao Nordeste e João Pessoa estaria no roteiro?

Gal Costa – Com certeza faremos o possível para levar esse show ao Brasil todo no ano que vem.

MaisPB Vai cantar os clássicos compositores – Chico Buarque, Caetano Veloso, Caymmi e Tom Jobim e Milton Nascimento, além das surpresas que você sempre traz em seus shows?

Gal Costa – Sim. O roteiro do show é baseado nesses compositores.

MaisPB – O Brasil inteiro viu você falando com muita delicadeza sobre Marília Mendonça, que canta no seu disco “A Pele do Futuro”, a canção “Cuidando de longe”, dela, que vocês fazem um duo. Vai cantar essa canção no show para homenageá-la?

Gal Costa – Marília era incrível e merece todas as homenagens que estão sendo feitas para ela, mas infelizmente a música não faz parte do repertório criado para esse show.

MaisPB

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