quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Fim do PSDB

Com derrota de Rodrigo Garcia nas urnas, PSDB deixa de governar São Paulo em 2023, após 28 anos e 6 governadores diferentes

Por Rodrigo Rodrigues, G1 SP — São Paulo

O governador Rodrigo Garcia (PSDB) durante o 1º Encontro de Lideranças Comunitárias de SP.  — Foto: Divulgação
O governador Rodrigo Garcia (PSDB) durante o 1º Encontro de Lideranças Comunitárias de SP — Foto: Divulgação

Com a derrota de Rodrigo Garcia (PSDB) na eleição para o governo de São Paulo no último domingo (02), o maior estado do país deixará de ser governado em 2023 por políticos do partido depois de quase três décadas sob o comando da legenda ou de seus aliados.

Apesar de ter tido o maior tempo de TV e rádio entre todos os candidatos, Rodrigo não conseguiu avançar para o segundo turno e teve os planos de se reeleger para o cargo frustrados nas urnas, conquistando 18,4% das intenções de voto e ficando na terceira posição (veja apuração completa aqui).

O PSDB comanda o estado de São Paulo desde 1995, quando Mário Covas tomou posse como governador em 1º de janeiro daquele ano. De lá para cá, se passaram quase 28 anos, e o PSDB teve seis diferentes governadores no estado, em oito mandatos consecutivos.

A exceção foi nos anos de 2006 e 2018, quando Geraldo Alckmin deixou o Palácio dos Bandeirantes para concorrer à Presidência da República por duas vezes e assumiram no lugar dele os respectivos vices de chapa: Cláudio Lembo (no então PFL) e Márcio França (PSB). Juntos, os dois tiveram apenas 16 meses de mandato, conforme abaixo:

Os seis governadores do PSDB em SP: Mário Covas, Geraldo Alckmin, José Serra, Alberto Goldman, João Doria e Rodrigo Garcia.  — Foto: Montagem/g1
Os seis governadores do PSDB em SP: Mário Covas, Geraldo Alckmin, José Serra, Alberto Goldman, João Doria e Rodrigo Garcia — Foto: Montagem/G1

Governadores de SP nos últimos 28 anos

Nome do governador Período de mandato
Mário Covas (PSDB) – primeiro mandato de 1º/01/1995 a 1º/01/1999
Mário Covas (PSDB) – segundo mandato de 1º/01/1999 a 6/03/2001 (morreu em 6 de março de 2001)
Geraldo Alckmin (PSDB) - primeiro mandato de 6/03/2001 a 1º/01/2003
Geraldo Alckmin (PSDB) - segundo mandato de 1º/01/2003 a 31/03/2006
Claudio Lembo (PFL) de 31/03/2006 a 1º/01/2007 (8 meses de mandato)
José Serra (PSDB) de 1º/01/2007 a 2/04/2010 (renunciou para disputar a Presidência da República)
Alberto Goldman (PSDB) de 2/04/2010 a 1º/01/2011 (8 meses de mandato)
Geraldo Alckmin (PSDB) - terceiro mandato de 1º/01/2011 a 1º/01/2015
Geraldo Alckmin (PSDB) - quarto mandato de 1º/01/2015 a 6/04/2018 (renunciou para disputar a Presidência da República)
Márcio França (PSB) de 6/04/2018 a 1º/01/2019 (8 meses de mandato)
João Doria (PSDB) de 1º/01/2019 a 31/03/2022 (renunciou para disputar a Presidência da República)
Rodrigo Garcia (PSDB) de 1º/04/2022 até 1º/01/2023

Rodrigo Garcia ‘neotucano’

Filiado ao antigo DEM (hoje União Brasil) por 27 anos, Rodrigo migrou para o PSDB em maio de 2021 justamente para disputar a reeleição ao governo de São Paulo após a saída de João Doria do cargo.

Como Doria deixou o Palácio dos Bandeirantes com alta rejeição, Rodrigo dedicou a campanha a dizer que era um candidato independente e estava disputando "sem padrinhos", para evitar que a polarização nacional entre lulistas e bolsonaristas migrasse para o estado de São Paulo.

O governador de São Paulo, João Doria, ao lado do vice, Rodrigo Garcia, e do ex-secretário Alexandre Baldi. — Foto: Secom/GESP
O governador de São Paulo, João Doria, ao lado do vice, Rodrigo Garcia, e do ex-secretário Alexandre Baldi — Foto: Secom/GESP

A estratégia, como se vê, não teve sucesso. Rodrigo conquistou menos de 20% dos votos válidos no domingo (02), deixando o PSDB de fora do segundo turno no estado pela primeira vez depois de quase 30 anos.

Nas últimas três décadas, São Paulo era tido como a “fortaleza do PSDB” no Brasil, sendo berço da fundação e das grandes lideranças históricas da legenda, como Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro e Mário Covas.

O cientista político Cláudio Gonçalves Couto, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que a perda do “tucanistão” - como era chamado o estado de São Paulo no meio político pelos adversários - se deu por uma “série de equívocos” do partido desde a eleição presidencial de 2014.

“A perda do ‘tucanistão’, como os adversários apelidaram, se deu por uma série de equívocos e traições que desgastaram o partido no cenário nacional. A começar pela contestação das eleições de 2014 por Aécio Neves, passando pela traição de João Doria a Geraldo Alckmin em 2018 e a forma como o próprio Doria negociou com os outros diretórios do partido no Brasil para ganhar as prévias internas”, afirmou.

“Esses equívocos levaram não apenas à saída de lideranças importantes do partido, mas também à diminuição da bancada da legenda no Congresso Nacional. E isso reduziu a influência do PSDB na política nacional”, completou.

“A própria escolha de Rodrigo Garcia para concorrer ao governo de São Paulo, no lugar de um tucano histórico e identificado com o partido, pode ser considerada um equívoco. Até ontem, o Rodrigo era do DEM e migrou para o PSDB numa negociação do Doria para concorrer à Presidência. Rodrigo é um neófito no ninho tucano, com pouca identificação com nomes históricos da sigla”, afirmou.

Rodrigo Garcia (PSDB) durante evento de campanha em igreja de São Paulo em setembro de 2022. — Foto: Divulgação
Rodrigo Garcia (PSDB) durante evento de campanha em igreja de São Paulo em setembro de 2022 — Foto: Divulgação

Mudança de influência para o Sul

Com a derrota em São Paulo, o único estado em que os tucanos têm oportunidade real de comandar a partir de 2023 é o Rio Grande do Sul, onde o ex-governador Eduardo Leite passou para o 2º turno para disputar a reeleição com o candidato bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL).

O PSDB também disputa o segundo turno em outros dois estados: Pernambuco, com Raquel Lyra que vai enfrentar Marília Arraes (Solidariedade), e em Mato Grosso do Sul, onde Eduardo Riedel avançou também em segundo lugar e vai enfrentar o Capitão Contar (PRTB). Mas em nenhum dos três estados os candidatos tucanos são tidos como favoritíssimos.

Caso Leite vença o pleito no 2º turno, os especialistas ouvidos pelo G1 apontam que o eixo político do partido se deslocará para o Sul do país, com o governador gaúcho despontando como eventual candidato ao Planalto em 2026.

“Apesar de ser um partido de alma pura paulista, onde as decisões dos últimos anos partiram justamente de São Paulo, com Fernando Henrique, Covas, Alckmin, Serra, acho que a perda do estado mais importante vai deslocar essa órbita de influência da legenda para o Rio Grande do Sul, com Eduardo Leite. Mas é preciso saber qual o tamanho do PSDB que vai sair das urnas. Se a bancada se reduzir ainda mais, a influência nacional vai na mesma direção, e o partido vai ter dificuldade de conseguir dar as cartas em 2026 para uma candidatura nacional própria”, afirmou Claudio Couto.

O ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), junto com ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, no Palácio dos Bandeirantes. — Foto: Secom/GESP

O ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), junto com ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, no Palácio dos Bandeirantes — Foto: Secom/GESP

Em 2022, Leite tentou ser o candidato tucano à Presidência, mas perdeu as prévias para João Doria. Mesmo assim, lideranças do tucanato de fora do estado tentaram uma virada de mesa no resultado das prévias, substituindo Doria por Leite na reta final das convenções partidárias.

A manobra não teve sucesso, mas foi suficiente para que o rachado PSDB desistisse de lançar candidato próprio à Presidência da República, ficando apenas com a indicação de vice na chapa de Simone Tebet (MDB).

“O PSDB talvez veja a maior vítima do movimento antipolítica que foi criado a partir da Lava Jato, que acirrou os ânimos no Brasil e deu fôlego a uma extrema direita raivosa, escanteando legendas mais moderadas. Veja que os partidos do Centrão foram fortalecidos com essa polarização, assim como o PT, que se fortalece com a eleição de Lula e de outros governadores no Nordeste”, disse Claudio Couto. 

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