Brasil volta às urnas neste domingo, 30 de outubro, em cenário de indefinição entre Lula e Bolsonaro para presidente
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| Bolsonaro e Lula - Foto: Mauro Pimtentel e Sergio Lima / AFP | 
Os mais de 156,4 milhões de brasileiros aptos a votar neste domingo
 (30/10) vão às urnas para o segundo turno da eleição presidencial sob 
ambiente de indefinição. Em que pese o fato de Luiz Inácio Lula da Silva
 (PT), vencedor do primeiro turno, aparecer numericamente à frente do 
candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) em seis das pesquisas 
divulgadas nas horas anteriores à abertura das seções eleitorais, quatro
 delas apontam empate técnico: Datafolha, Genial/Quaest, CNT/MDA e 
Paraná Pesquisas.
O
 Datafolha, por exemplo, apontou 49% dos votos totais para o petista, 
ante 45% do chefe do Executivo, com margem de erro de dois pontos. Em 
meio à enxurrada de números e projeções sobre o resultado do pleito, 
Lula e Bolsonaro protagonizaram eventos que reforçaram estratégias 
adotadas por suas campanhas ao longo do segundo turno: o ex-presidente 
encerrou a campanha em São Paulo (SP), ao lado de Fernando Haddad (PT), 
candidato ao governo paulista e um de seus principais aliados. O atual 
presidente liderou carreata por ruas de Belo Horizonte e esteve ladeado 
pelo governador Romeu Zema (Novo), um dos principais cabos eleitorais do
 grupo bolsonarista.
Apesar da proximidade vista 
nos relatórios de Datafolha, Quaest, Paraná Pesquisas e MDA, outros dois
 institutos — Ipec e Atlas/Intel — projetaram vitória de Lula. O Atlas, 
que tem margem de erro de um ponto percentual, calculou o petista com 
52,4% dos votos totais, contra 45,7% de Bolsonaro. Campo de 
batalha bastante explorado nesta eleição, a internet também teve uma 
disputa própria, enquanto os candidatos iam às ruas para os últimos atos
 de campanha. De um lado, Bolsonaro apresentou texto com 22 compromissos
 para eventual segundo mandato; do outro, Lula negou a acusação, feita 
pelo atual presidente, sobre acabar com a categoria de microempreendedor
 individual (MEI).
Lula
 e Bolsonaro chegam às urnas após quatro semanas de intensa busca por 
apoios. Se, no início do ano, o discurso de parte dos atores políticos 
era pela construção de uma terceira via, o cenário, agora, é outro. 
Nomes como a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o senador eleito Sergio 
Moro (União Brasil-SP), defensores de uma candidatura alternativa à 
polarização entre PT e PL, optaram por um dos lados e passaram a ser 
considerados importantes cabos eleitorais.
Terceira
 colocada no primeiro turno da corrida eleitoral, Tebet explora o 
espólio de 4,9 milhões de votos, admite nunca ter votado em candidaturas
 petistas e trabalha para, nas próprias palavras, ser a “avalista” da 
escolha por Lula. Paralelamente, Moro reforça o discurso antipetista e 
anticorrupção que baseou sua trajetória política, marcada por idas e 
vindas na relação com Bolsonaro. Depois de brigas públicas com o atual 
presidente, ele, agora, é um dos mais importantes auxiliares do 
candidato à reeleição. Minutos após o debate da “TV Globo”, na 
sexta-feira (28), foi o ex-juiz que tentou acalmar Bolsonaro após o 
aliado se enfurecer com a pergunta de um repórter sobre a tentativa de 
associar uma visita de Lula a traficantes por causa de uma visita ao 
Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ).
Pelas
 redes sociais, Bolsonaro voltou as atenções aos indecisos e apresentou 
um texto com propostas para o país, como a redução da maioridade penal, 
fixada em 18 anos, a respeito de crimes hediondos, como estupro e 
homicídio. “É preciso compreender aqueles que ainda não decidiram e lhes
 oferecer segurança para que façam a melhor escolha para o futuro da 
nossa nação. Mais do que promessas vazias e abstratas, o Brasil precisa 
de um caminho sólido, pautado em ações concretas e, sobretudo, em 
princípios”, defendeu.
Enquanto isso, Lula 
compartilhou imagens de seu ato com Haddad em São Paulo e destacou o 
caráter ampliado de sua campanha. “Somos milhões nas ruas. Somos o povo 
brasileiro. E com muito amor, contra o ódio, amanhã (hoje) votaremos 
13”.
Minas Gerais é front importante
Bolsonaro
 tem, na ponta da língua, a estatística que atribui a Getúlio Vargas, 
eleito em 1950, o feito de ser o último a chegar à Presidência da 
República sem vencer em Minas Gerais. Ciente da importância do estado e 
impulsionado pelo apoio de Romeu Zema, o presidente fez oito eventos de 
campanha no estado neste segundo turno. Além das quatro visitas a Belo 
Horizonte, passou por Juiz de Fora, na Zona da Mata, onde considera ter 
renascido por causa da facada recebida em 2018, Governador Valadares 
(Vale do Rio Doce), Uberlândia (Triângulo) e Teófilo Otoni (Vales do 
Jequitinhonha e Mucuri). Lula também intensificou a presença no estado 
e, em busca de contrapor a ofensiva governista, fruto da união 
Zema-Bolsonaro, passou duas vezes por BH. Ele esteve, também, em Juiz de
 Fora e Teófilo Otoni.
Para
 tirar a vantagem de 563,3 mil votos conquistada por Lula em Minas na 
primeira votação, Zema e Bolsonaro escalaram prefeitos e outras 
lideranças regionais para tentar persuadir eleitores do interior. O 
presidente chegou a participar, inclusive, de um encontro com gestores 
municipais em BH. Do outro lado, para conter os efeitos das articulações
 e preservar o efeito do fenômeno “Luzema” — o voto casado em Lula e 
Zema —, petistas buscaram estabelecer pontes com associações regionais 
de prefeitos e pequenos consórcios. O senador Alexandre Silveira (PSD), 
de bom trânsito com gestores de centenas de cidades mineiras, foi 
escalado para a tarefa e assumiu o posto de coordenador político de Lula
 no estado.
No primeiro turno, Lula teve 48,29%
 dos votos válidos no estado, contra 43,6% de Bolsonaro. Boa parte da 
diferença entre eles foi preservada segundo o estrato regional da mais 
recente pesquisa divulgada pelo Datafolha, que apontou liderança de Lula
 em Minas por 48% a 43% dos votos totais.
Minas
 deu a ambos, também, peças-chave nas estratégias digitais das 
campanhas. Do lado lulista, o deputado federal André Janones, do Avante,
 abriu mão de uma candidatura própria ao Planalto e assumiu o papel de 
soldado digital do ex-presidente. No núcleo bolsonarista, o deputado 
federal eleito Nikolas Ferreira (PL), campeão nacional de votos, teve 
missão similar.
“A
 eleição de Lula será um marco para virar essa página triste da nossa 
história, para resgatar o desenvolvimento econômico e as políticas 
sociais do nosso país, que foram abandonadas pelo atual governo”, falou 
Alexandre Silveira. “Vamos continuar trabalhando até o último minuto, 
conversando com as pessoas para podermos comemorar a vitória do Brasil”,
 completou.
O deputado estadual Bruno Engler 
(PL), recordista de votos na disputa pela Assembleia Legislativa, adotou
 tom oposto. “O que se apresenta são duas opções. Um projeto, de 
Bolsonaro, é sério, honesto e dá resultado. (O presidente) é parceiro de
 nosso estado. O outro (é) de Lula, maior ladrão da história do país, 
que defende tudo que há de mais abominável, como liberação de aborto, 
drogas e ideologia de gênero, assaltou os cofres públicos e ameaça nosso
 governador de Minas”, opinou. Em que pese a citação de Bruno Engler a aborto e
 legalização das drogas, as pautas não constam no programa de governo do
 PT.
Apuração
Doze
 das 27 unidades da federação vão ter segundos turnos estaduais. Em São 
Paulo, por exemplo, Fernando Haddad reproduz, contra o bolsonarista 
Tarcísio de Freitas (Republicanos), a dicotomia nacional. Na Bahia, 
Jerônimo Rodrigues (PT) enfrenta ACM Neto (União Brasil) e, no Rio 
Grande do Sul, duelam Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB). No 
primeiro turno, todo o eleitorado brasileiro precisou entregar cinco 
votos à urna. Agora, parte precisará escolher apenas um candidato; 
outros, somente dois. Isso, além de diminuir o tempo diante das urnas, 
deve acelerar a apuração.
Segundo o cientista 
político Alberto Carlos Almeida, autor do livro  “A mão e a luva: o que 
elege um presidente”, a tendência é que Bolsonaro comece a totalização 
dos votos à frente de Lula, pois estados do Sul e do Sudeste têm o 
costume de liderar a marcha da apuração. “Tradicionalmente, e isso vem 
do voto no papel, o Paraná sempre apurou primeiro. O Paraná gostou e 
sempre fez questão desse título. Lá, há um voto conservador muito 
consolidado, onde Bolsonaro vai abrir boa margem”, projetou ele, em seu 
podcast, o “Bastidor da Política”. Na visão de Almeida, em caso de 
vitória de Lula, a ultrapassagem do petista deve ocorrer já na reta 
final da apuração.
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| Militantes de Bolsonaro e Lula vão às ruas - Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino | 
Fonte: Estado de Minas


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