Emmanuel Macron supera desgaste e vence Marine Le Pen na França para um segundo mandato de presidente
Antes dele, só Jacques Chirac (1995-2007), François Mitterrand (1981-1995) e Charles de Gaulle (1959-1969) haviam sido eleitos para um segundo mandato na Quinta República francesa, como é chamado o período após 1958.

Foto: Lionel Bonaventure / AFP
MICHELE OLIVEIRA - MILÃO,
ITÁLIA (FOLHAPRESS) - Cinco anos após chegar ao poder como um novato,
Emmanuel Macron, 44, resgatou, neste domingo (24), uma tendência que
andava fora de moda na França havia 20 anos - a reeleição. Antes dele, só
Jacques Chirac (1995-2007), François Mitterrand (1981-1995) e Charles
de Gaulle (1959-1969) haviam sido eleitos para um segundo mandato na
Quinta República francesa, como é chamado o período após 1958.
A
vitória de agora foi mais apertada do que aquela que o levou ao poder
em 2017 e veio marcada, no discurso da vitória, pela promessa de
mudanças e por acenos a outros campos, vindos de um sujeito que assumiu
se dizendo "nem de esquerda nem de direita". O peso de ter novamente
barrado a ultradireita, porém, tem simbolismos importantes.
"É
um sinal de refortalecimento para ele, porque a chance de vitória de
Marine Le Pen pareceu muito real no primeiro turno. E ele alcança algo
que os dois presidentes que o antecederam não conseguiram", avalia
Sylvain Kahn, geógrafo e professor de assuntos europeus do departamento
de história da Sciences Po, em Paris -a referência é a Nicolas Sarkozy e
François Hollande, que se limitaram a um único mandato.
Poucos
poderiam imaginar que aquele candidato de 2017 chegaria tão longe.
Novato, tanto pela idade como pela trajetória político-partidária.
Macron se tornou presidente aos 39 anos, o mais jovem da história do
país - antes dele, só Luís Napoleão Bonaparte, em 1848, aos 40. E chegou
ao poder sem nunca antes ter sido eleito para um cargo.
Depois
de trabalhar para o banco Rothschild (o que contribui ainda hoje para a
pecha de "presidente dos ricos"), tornou-se secretário-geral-adjunto da
Presidência sob o socialista Hollande, de quem também foi ministro da
Economia entre 2014 e 2016. Deixou o governo para lançar o próprio
partido, A República em Marcha, que, nas eleições legislativas de 2017,
conseguiu 308 cadeiras e lhe garantiu a maioria na Assembleia Nacional.
Ascendeu
como um político independente, prometendo romper com a política
tradicional e se posicionando como um centrista radical. Hoje
considerado de centro-direita por sua política reformista liberal, é
apontado como um dos responsáveis pelo colapso dos dois partidos
históricos, socialistas e republicanos –que, no primeiro turno,
receberam ínfimos 6,5% dos votos, na somatória de Anne Hidalgo e Valérie
Pécresse.
Ao
mesmo tempo, viu uma maior mobilização entre os eleitores de candidatos
com discurso radical antissistema. Na primeira etapa do pleito, somaram
52% os votos concedidos a Le Pen, ao ultraesquerdista Jean-Luc
Mélenchon e ao ultradireitista Éric Zemmour.
"Ainda hoje
Macron permanece um mistério: um líder que veio do nada, não pertence a
nenhum sistema partidário, desafia rótulos ideológicos e é estranhamente
sem raízes", escreveu a jornalista e sua biógrafa Sophie Pedder na
revista The Economist.
Casado desde 2007 com Brigitte Trogneux, 24 anos mais velha e que foi sua professora na escola, Macron não tem filhos.
Conturbado
tanto no âmbito doméstico quanto no externo, seu primeiro mandato foi
marcado, na primeira metade, pelo movimento dos Coletes Amarelos, uma
série de manifestações de rua que o forçou a recuar de uma taxa que
aumentaria o preço dos combustíveis. E, na reta final, pelos dois anos
da pandemia de Covid-19 e pela Guerra da Ucrânia.
Foi na crise
sanitária que Macron fortaleceu seu protagonismo como líder na União
Europeia, uma bandeira desde sempre na origem de seu posicionamento.
Desde que chegou ao Palácio do Eliseu, proclamava a necessidade de uma
"Europa soberana", autônoma tanto do ponto de vista de Defesa como
econômico. Ao lado da Alemanha de Angela Merkel, arquitetou o plano de
recuperação da pandemia, de EUR 750 bilhões.
Enquanto é
reconhecido por ter tornado a França mais atrativa para os novos
negócios e pela recuperação interna da crise econômica causada pela
pandemia -o desemprego é o menor em quase 14 anos-, ao mesmo tempo
encontra um país dividido e abalado pelo custo de vida em alta nos
últimos meses, um dos impactos do aumento do preço da energia.
"Foi
uma Presidência muito mais forte na política externa e mais fraca
internamente, o que se pode notar pelos resultados do primeiro turno e
pela falta de apoio entre os jovens", avalia a analista Teresa
Coratella, do Conselho Europeu de Relações Exteriores. Na faixa entre 18
e 34 anos, Macron teve menos votos do que seus adversários principais,
Le Pen e Mélenchon.
Segundo Coratella, para o
recém-reeleito começa agora o período mais difícil de sua Presidência.
No plano doméstico, a missão de melhorar seu relacionamento com os
franceses e de convencê-los de que seu projeto europeu não ameaça os
interesses nacionais. Internacionalmente, uma guerra dentro da Europa,
da qual ainda não se vê a saída.

© Getty Images
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