Após criticar fascismos “vermelho” e “verde-amarelo” em atos contra o governo Bolsonaro, Ciro dá um passo atrás e ergue ‘bandeira branca’
Ciro Gomes foi alvo de agressões e hostilidades após discurso na Avenida Paulista - (Foto: Reprodução/Twitter) |
Após discursar em um carro de som e criticar fascismos “vermelho” e “verde-amarelo”, Ciro foi alvo de vaias e até de uma tentativa de agressão por parte de um grupo de militantes. Foi logo após o episódio, exemplo simbólico da atual dificuldade de união entre a oposição de Bolsonaro, que o pedetista resolveu dar um passo atrás e erguer “bandeira branca”.
“Nós estamos propondo uma amplíssima trégua de Natal. Não tem nas guerras por aí afora, onde se faz até dois dias de trégua? Pois quando o assunto for Bolsonaro e impeachment, a gente deve esquecer tudo e convergir para esse consenso, que já não é fácil”, disse o ex-ministro, em coletiva de imprensa realizada um dia depois do protesto em São Paulo.
Depois, o próprio pedetista resumiu a questão nas redes sociais: “Mantemos aceso o debate e divergências, mas no âmbito do movimento só temos um antagonista, Bolsonaro, e uma meta, o impeachment”. Proposta por Ciro e reforçada por aliados, a “trégua” entre PT e PDT, no entanto, continua minimizada ou sendo vista com desconfiança entre petistas.
“Essa trégua tem que selar uma paz definitiva. É muito chato você ver uma pessoa que estava com você até outro dia no governo te agredir. Eu fui ministro com Ciro”, disse, em entrevista ao UOL, o candidato do PT à Presidência em 2018, Fernando Haddad. “O Ciro Gomes vem agredindo verbalmente a mim, a presidenta (nacional do PT) Gleisi (Hoffmann, deputada federal) e ao presidente Lula há três anos, e você nunca ouviu da minha parte uma menção desabonadora à figura dele”, destaca, em tom adotado por outros petistas.
“Ciro propõe trégua? Tudo bem, mas do PT observamos que ele briga sozinho contra a gente. Ninguém da direção ou representação parlamentar diz qualquer coisa a Ciro faz tempo”, disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Presidente nacional do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) corrobora: “O PT está em trégua há muito tempo”.
“Cada uma hora tu diz uma coisa, de manhã é uma coisa, de tarde é outra, de noite é outra. Não tem João Santana (marqueteiro contratado por Ciro) que dê jeito”, disse o ex-senador Eunício Oliveira (MDB-CE), aliado do petista, em gravação endereçada a Ciro e divulgada nas redes sociais.
Para a cientista política Monalisa Soares, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), a “trégua” de Ciro tem relação com o atual momento da estratégia eleitoral do pedetista. “Ele fica em uma posição mais confortável da imagem pública, de sair de quem era visto como a pessoa com as posições mais contundentes, para ser alguém que é atacado”, diz.
Com análise no mesmo sentido, o cientista político Cleyton Monte, também da UFC, classifica ainda como “arriscada” estratégia de Ciro pelo enfrentamento com o PT. “Ele já vem fazendo isso há dois anos e não trouxe resultados concretos nas pesquisas. Ele continua da mesma forma, não conseguiu atrair o eleitorado indeciso, o bolsonarista arrependido nem a direita democrática. Serviu mais para criar um polo de aversão nos grupos da esquerda e progressistas de forma geral, que foram um núcleo de sua votação em 2018”, diz.
Fonte: Estadão - Publicado por: Larissa Freitas
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