Estudo da universidade Positivo, de Curitiba, mostra avanço de fake news na rede social Facebook a partir de 2015
KATNA BARAN - CURITIBA, PR
(FOLHAPRESS)
Páginas do Facebook classificadas como propagadoras de
notícias falsas começaram a crescer em postagens e interações a partir
de 2015, quando avança a pressão pelo impeachment da presidente Dilma
Rousseff (PT), evoluíram durante a campanha eleitoral de 2018, atingiram
picos nos primeiros meses da pandemia, em 2020, e decaíram a partir do
inquérito das fake news, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Essas são
algumas conclusões de um estudo inédito de pesquisadores da
Universidade Positivo, de Curitiba, envolvendo eleições, redes sociais e
democracia. Os dois primeiros relatórios da análise - que ainda vai
contar com outros enfoques - foram acessados com antecedência pela Folha
de S.Paulo.
O trabalho usa dados do CrowdTangle, aplicativo de
navegação no Facebook que segue o conceito de posts mais populares, e
abrange páginas consideradas produtoras e difusoras de fake news em
relatório de abril de 2020 da CPMI das Fake News no Congresso.
O
primeiro recorte do estudo analisou as publicações e interações de 27
perfis do Facebook desde 2010 até 2020. Esse pequeno universo de páginas
conseguiu, com 206,6 mil publicações, gerar 253,7 milhões de interações
ao longo do período analisado, sendo a grande maioria (87,9%) via
curtidas e compartilhamentos.
O momento-chave para o crescimento
desses perfis foi 2015, quando ganham corpo as manifestações pelo
impeachment de Dilma, que deixou o cargo em agosto de 2016. A evolução
das páginas segue numa tendência de alta até que atingem um primeiro
pico em outubro de 2018, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
O
período de maior efervescência em número de postagens compreende o
início do mandato de Bolsonaro, em janeiro de 2019, e os primeiros casos
de Covid-19 no Brasil, em março de 2020. Já as interações atingem o
ápice logo após a Polícia Federal cumprir mandados no âmbito do
inquérito das fake news.
"Além do começo da pandemia, essa alta se dá
em meio à saída do ministro [Sergio] Moro e trocas ministeriais na
Saúde, o que gera outra visibilidade para as questões internas do
próprio governo, gerando um reflexo na dinâmica das redes", afirma
Eduardo Faria Silva, coordenador da Escola de Direito da Universidade
Positivo e orientador do estudo.
Depois disso, ambas as bases de
dados apresentam tendência de queda, mas tanto as postagens quanto as
interações se mantêm em níveis altos.
Silva ressalta que a maior
parte das páginas citadas no relatório da CPMI foram desativadas mesmo
antes da pesquisa. "Isso demonstra um universo de permanente
movimentação de contas nesse ambiente digital."
Mesmo com um número
significativamente menor do que o inicialmente registrado pelo
relatório, o especialista aponta que esses perfis conseguem formar uma
bolha em torno de determinados temas. "Esse universo de páginas é um
ambiente que nem todas as pessoas conhecem, que tem um trânsito num
determinado público e movimenta milhões de postagens e interações."
Essa
bolha é amplificada em uma segunda rodada da pesquisa, que tem como
foco entender a dinâmica dos campos de influência política no Facebook.
Para isso, os pesquisadores analisaram quantitativamente as postagens e
interações de 93 perfis classificados como de direita e de esquerda e
que interferiram na dinâmica da eleição presidencial de 2018, conforme
metodologia adotada pelo estudo.
Os pesquisadores constataram que os
campos políticos de maior influência pela rede se inverteram ao longo
dos anos. O ano de 2015 marcou a queda vertiginosa das páginas
consideradas de esquerda e a ascensão expressiva da direita no número
médio de seguidores de cada postagem. A dominância das repercussões do
campo da direita se consolida com a eleição de Bolsonaro, dois anos
depois.
Assim como se constatou na primeira parte da pesquisa, também
há picos de interações no período da última campanha presidencial e no
início da pandemia em 2020.
Silva ressalta que os dados coletados a
partir de 2015 mostram que as redes sociais passaram a ter maior
capacidade de mobilização do que veículos tradicionais de comunicação e
que essa tendência deve se expandir para os próximos pleitos. "Os
principais atores precisam ter as redes como elemento fundamental de
suas estratégias, porque o que ocorreu no passado não é mais suficiente
para gerar o convencimento do eleitor", avalia.
Notícias ao Minuto
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