Fenômino climático La Niña pode reduzir chuvas em até 30% e prejudicar ainda mais usinas hidrelétricas
Já entraram no radar, no entanto, os possíveis efeitos do La Niña, a partir de outubro, que poderiam reduzir o volume de chuvas de 10% a 30% na região
 
                                                    © Pixabay
DOUGLAS GAVRAS - SÃO
 PAULO, SP (FOLHAPRESS) 
Os técnicos do Inmet (Instituto Nacional de 
Meteorologia) contam com a volta no fim de setembro das chuvas ao 
centro-sul do país, onde a estiagem neste ano colocou em alerta os 
reservatórios de usinas hidrelétricas.
Já
 entraram no radar, no entanto, os possíveis efeitos do fenômeno 
climático La Niña, a partir de outubro, que poderiam reduzir o volume de
 chuvas de 10% a 30% na região.
O fenômeno causa uma alteração 
periódica na temperatura das águas do oceano Pacífico, o que tende a 
reduzir as chuvas no centro-sul do Brasil, agravando a seca na bacia do 
rio Paraná.
O temor é isso ocorrer novamente logo no 
início do período chuvoso deste ano, o que prejudicaria ainda mais a 
recuperação da capacidade dos reservatórios da região.
De 
acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), os 
reservatórios das usinas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste estão 
operando em patamares críticos há meses, e a crise do sistema elétrico 
nacional preocupa analistas.
Dados do Inmet mostram que os 
estados de São Paulo e Paraná tiveram chuvas abaixo da média desde 
janeiro. Durante todos os meses deste ano até julho, a maioria dos 
estados teve um volume menor de chuvas do que no mesmo período do ano 
passado.
Segundo o meteorologista Cleber Souza, do instituto, 
há sinais positivos de chuvas recentes na região Sul. Embora não se 
espere um volume de precipitações acima da média para os próximos meses,
 a volta da chuva no Sudeste e Centro-Oeste na segunda metade de 
setembro traria um alívio tanto para os agricultores quanto para o 
sistema elétrico.
"É
 difícil prever com exatidão qual seria o impacto exato do La Niña nas 
chuvas deste ano, mas é um fenômeno que tornas as frentes frias mais 
fracas e, sem dúvida, é uma fonte de preocupação", diz Souza.
O 
cenário de risco energético também preocupa os economistas, que começam a
 antever os efeitos da falta de água na recuperação da economia.
O
 Brasil pode entrar em um quadro de estagflação (estagnação econômica 
com inflação), caso as chuvas não voltem no quarto trimestre, segundo 
Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da RPS Capital.
Para 
ele, houve uma mudança de postura por parte do governo, que agora 
reconhece que a situação do setor elétrico é dramática. "O que preocupa 
é, além do quadro hídrico, o futuro aumento da bandeira tarifária mais 
cara por parte da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica)", diz.
Segundo
 Barros, para não desorganizar o setor elétrico e ampliar o déficit no 
custeio das térmicas, o novo valor da bandeira será importante para 
definir o impacto do preço da energia também na inflação do próximo ano.
Na
 avaliação de Roberto Wagner Pereira, especialista em energia da CNI 
(Confederação Nacional da Indústria), as medidas possíveis para diminuir
 o impacto da falta de chuvas no setor já estão na mesa, como contratar 
mais térmicas e promover um programa voluntário de redução de uso.
"Temos
 de torcer para que elas funcionem e para que passemos por isso de forma
 confortável. Não vejo um risco de apagão hoje, mas existe um risco 
óbvio de racionamento e a gente espera que isso seja suficiente", diz.
O
 volume menor de chuvas também preocupa produtores rurais e investidores
 em commodities agrícolas, avalia o consultor econômico Nicola Tingas, 
da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, 
Financiamento e Investimento).
Há um ambiente de deterioração 
das condições econômicas, afetando desde a produção de manufaturados até
 a agricultura, que também deve ter quebras de safra, afirma. Segundo 
ele, com problemas de oferta, pode haver mais um aumento da inflação.
"O
 conjunto diminui a motivação para investir e há uma desaceleração no 
ritmo de retomada da economia, com riscos que inibem uma maior taxa de 
investimento."
Ele também avalia que o governo poderia ter 
sido mais veloz nas medidas tomadas para resolver a crise. "O ideal era 
que algumas ações tivessem sido antecipadas e o problema agora pode ser
 maior do que a gente gostaria", diz.
Nesse cenário, o PIB 
(Produto Interno Bruto) da agropecuária deve crescer menos neste ano, 
indica o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que cortou a 
estimativa de alta para o indicador em 2021, de 2,6% para 1,7%.
"O
 pior é a ausência de um planejamento estruturado a médio e longo prazo,
 já que a as mudanças climáticas tendem a fazer deste um problema 
frequente", afirma Rafael Cagnin, do Iedi (Instituto de Estudos para o 
Desenvolvimento Industrial).
Ele avalia que o recurso das 
termelétricas é razoável para contornar o desafio imediato, mas não 
serve de resposta definitiva, dado que é mais caro, mais sujeito as 
variações cambiais e sobretudo incompatível com o meio ambiente.
"Esta crise hídrica não é um 
desafio só para 2021, mas como vamos lidar com ela indica nossa 
compreensão ou não da emergência ambiental", diz o economista.
Notícias ao Minuto
 
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