Manifestantes vão às ruas em ao menos 23 capitais em atos pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro
Cidades do interior de São Paulo, do Paraná e do Ceará também registraram atos
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JÚLIA BARON, MARCELO TOLEDO, FLÁVIO FERREIRA E DANIELLE BRANT
RIO
DE JANEIRO, RJ, SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) -
Manifestantes foram às ruas neste sábado (3) em ao menos 23 capitais
pedindo o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
É a
primeira mobilização desde que um superpedido de impeachment foi
protocolado na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira (30), e após
novas denúncias de corrupção na compra de vacinas contra a Covid-19
pressionarem o governo federal.
Os
atos foram preparados às pressas, depois que as organizações que puxam a
iniciativa decidiram antecipar a mobilização. Até então, o ato seguinte
seria em 24 de julho, mais de um mês depois do Ato protesto de 19 de
junho. A manifestação do dia 24, no entanto, está mantida.
Por
volta das 17h, estavam em andamento ou já haviam terminado
manifestações em Brasília, Belém, Porto Velho, Boa Vista, Recife,
Maceió, São Luís, Salvador, Fortaleza, Natal, Aracaju, Teresina, João
Pessoa, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Vitória, Curitiba,
Porto Alegre, Florianópolis, Goiânia, Cuiabá e Campo Grande.
Cidades do interior de São Paulo, do Paraná e do Ceará também registraram atos.
No
Rio de Janeiro, o protesto durou aproximadamente três horas. Começou
por volta das 10h e ganhou mais participantes por volta das 11h30,
chegando a ocupar três das quatro pistas da avenida Presidente Vargas,
no centro. Apesar de aglomerações em alguns momentos, foi mais esvaziado
do que o do dia 19.
Camisetas de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) eram vendidas no ato carioca.
No
Recife, palco de forte repressão policial no protesto de 29 de maio, o
ato transcorreu sem incidentes. Além de pedir o impeachment de
Bolsonaro, os manifestantes na capital pernambucana empunhavam cartazes
pedindo a aceleração da vacinação contra a Covid. Uma das faixas exibia a
mensagem "Ninguém aguenta mais! Fora Bolsonaro e seus generais".
Em
Belém, o ato contou com a presença do prefeito Edmilson Rodrigues
(PSOL). "Participei das manifestações democráticas contra a política
genocida do governo Bolsonaro e em homenagem às mais de 520 mil vítimas
da Covid-19 no Brasil. Por vacina para todos e todas e comida no prato
do povo", disse.
Em Maceió, manifestantes carregaram um
caixão no ato contra Bolsonaro. Uma faixa foi estendida com dizeres
"Fora Bolsonaro. Por vacina no braço e comida no prato".
Sob
chuva, os participantes do ato na capital alagoana utilizaram máscaras
e, na marcha pelas ruas, fizeram fila indiana para manter distanciamento
e evitar a propagação do novo coronavírus.
Manifestantes
também foram às ruas de Ribeirão Preto (SP) neste sábado pedindo
impeachment, vacinação em massa e a não privatização dos Correios. Eles
utilizaram máscaras e ao menos um voluntário distribuía álcool em gel,
mas houve aglomerações em alguns momentos.
Em Campinas (SP) e
em Franca (SP), grupos saíram em passeata pelas ruas, enquanto em Tatuí
(SP) os manifestantes fizeram uma carreata com centenas de veículos
decorados com balões e bandeiras, a maioria na cor vermelha.
As
manifestações são convocadas por movimentos sociais e partidos de
esquerda, que têm buscado ampliar a adesão de alas da direita e do
centro contrárias a Bolsonaro. Embora não seja a posição majoritária,
parte dos líderes resiste à entrada de novas cores ideológicas.
Um
superpedido de impeachment foi protocolado na Câmara por iniciativa de
PT, PDT, PSB, PC do B e PSOL, além de ex-bolsonaristas como os deputados
Alexandre Frota (PSDB-SP) e Joice Hasselmann (sem partido-SP) e de
outros movimentos da sociedade civil.
A bandeira "fora,
Bolsonaro" se mantém como a principal das manifestações, ao lado dos
pleitos por mais vacinas contra a Covid e por auxílio emergencial de R$
600. As suspeitas de corrupção que vieram à tona nos últimos dias vão
engrossar a lista de pautas.
Os organizadores atribuem a
diminuição no número de atividades ao prazo curto que tiveram para
preparar a nova rodada. De maio para junho, a quantidade de atos tinha
quase dobrado. A expectativa é que, ao menos nas maiores capitais, o
volume de participantes, na casa dos milhares, seja mantido.
Partidos
como o PT do ex-presidente Lula -hoje o maior adversário de Bolsonaro
para as eleições de 2022-, o PSOL e o PC do B estão envolvidas na
organização desde maio, em conjunto com frentes como a Povo sem Medo, a
Brasil Popular e a Coalizão Negra por Direitos, que reúnem centenas de
entidades.
No lado dos mobilizadores, uma das principais
novidades foi a entrada do diretório municipal de São Paulo do PSDB,
anunciada ao longo da semana por seu presidente, Fernando Alfredo. O
diretório nacional do partido, no entanto, manteve a decisão de não
participar ativamente da convocação.
A situação se repete em
outras legendas, que também têm movimentos internos e instâncias locais
envolvidas na mobilização, mas no plano nacional adotaram posição de
neutralidade, alertando para os riscos de aglomerações em meio à
pandemia e deixando a adesão a critério dos filiados.
Setores
ou dirigentes de siglas como PSL, PV e Avante decidiram endossar os
atos, uma novidade em relação a junho. Já estavam nessa situação: PDT,
PSB e Rede Sustentabilidade. O Cidadania é o único partido mais ao
centro que decidiu, em ato do presidente nacional, Roberto Freire,
apoiar os protestos.
A avaliação geral é a de que o presidente
da República perdeu de vez um fundamento estruturante de seu discurso, o
de que seu governo não tinha casos de corrupção -embora a tese já fosse
contestada a partir de investigações de ministros e de filhos por
suspeitas da prática de "rachadinha".
Grupos à direita, como o MBL
(Movimento Brasil Livre) e o VPR (Vem Pra Rua), que capitanearam
manifestações contra governos do PT e em favor da Operação Lava Jato,
até aqui se mantêm fora da convocação, apesar de assinarem pedidos de
impeachment de Bolsonaro.
Notícias ao Minuto
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