quinta-feira, 30 de julho de 2020

Cadela foi levada de Patos pra João Pessoa para se despedir do dono

O velório do músico paraibano Pinto do Acordeon começou em João Pessoa na noite de 21 de julho e perdurou na capital até a manhã do dia 22. O momento, de muita emoção, foi marcado por muito forró, com direito a sanfona, zabumba e triângulo, homenagens ao cantor e até despedida da cadela do músico, que viajou mais de 300 km para participar do velório.
Pinto do Acordeon morreu aos 72 anos de idade, vítima de um câncer na bexiga, em um hospital de São Paulo. O corpo chegou em João Pessoa, capital paraibana, e foi levado para ser velado no Cemitério Parque das Acácias, no bairro José Américo. Logo após, o corpo saiu de João Pessoa para Patos, no Sertão da Paraíba, onde aconteceu o sepultamento.
Durante a cerimônia, os filhos do cantor se reuniram e cantaram músicas que homenageiam e deixam viva a memória de Pinto do Acordeon, que se popularizou a partir de apresentações que fazia junto à trupe de Luiz Gonzaga.
Um dos filhos, Mô Lima, declarou que "a lágrima está lavando a alma". Lembrou da trajetória do pai, que saiu de uma situação triste e precária, para ganhar o mundo com o forró. "Se painho tivesse aqui, ele diria: 'não é em toda cacimba que cabe essa dor', porque perder uma pessoa como meu pai, não como artista, mas ele era alegre, espontânea, nossa coluna principal. Ele sabia lidar com a piada até na hora do 'aperreio'. Deixou o legado, homem forte", disse Mô Lima.

Velório de Pinto do Acordeon é marcado por forró e homenagens dos filhos, em João Pessoa
Velório de Pinto do Acordeon foi marcado por forró e homenagens dos filhos, em João Pessoa  

Pinto do Acordeon deixa seis filhos, sendo quatro homens e duas mulheres, e 23 netos. Alguns deles se reuniram e cantaram e tocaram juntos as músicas "Dom Cristalino" e "Saudade do Gonzagão", sem deixar conter as lágrimas. "Na terra, no ar, no mar, por onde eu andar, vou me lembrar de você", cantaram em coro. Antes de partir, Pinto do Acordeon disse não querer tristeza e, dessa forma, a família honrou o desejo do cantor.
A cadela de Pinto do Acordeon, chamada Pretinha, foi levada de Patos para João Pessoa para se despedir do dono.
Embora o músico estivesse internado desde o mês de janeiro, a morte de Pinto do Acordeon mexeu com o coração dos paraibanos, nordestinos e muitos forrozeiros. Artistas como Elba Ramalho, Flávio José, Antônio Barros e Cecéu e Lucy Alves homenagearam o cantor com declarações.
A viúva de Pinto, Madalena Alves, lembrou que o marido pensava em viver muitos anos, cantando e tocando para o povo. "Foi um homem que sempre honrou seus fãs, um carinho especial, um homem que sempre amou a vida de uma maneira para trazer alegria para todos", declarou.
O corpo de Pinto do Acordeon saiu de João Pessoa em um cortejo com carro aberto, com destino à cidade de Patos. Uma parada aconteceu em Santa Luzia, município também localizado no Sertão paraibano.
O corpo do músico chegou em Patos, também em cortejo com veículo aberto, que seguiu até o Cemitério Jardim da Paz, localizado na altura do quilômetro 328 da BR-230, na Vila Mariana.
Pinto do Acordeon morreu aos 72 anos na madrugada desta terça-feira — Foto: Rafael Passos/Secom-JP
Pinto do Acordeon morreu aos 72 anos na madrugada desta terça-feira — Foto: Rafael Passos/Secom-JP

Pinto do Acordeon

Francisco Ferreira Lima, o Pinto do Acordeon, nasceu no município de Conceição, no Sertão paraibano. Ele se tornou popular a partir de apresentações que realizava junto a trupe de Luiz Gonzaga. Ele gravou cerca de 20 álbuns durante a carreira. "Neném Mulher" é uma das músicas mais conhecidas do repertório.
Ele lançou seu primeiro LP solo (1976), no mesmo ano, a canção “Arte culinária”, uma parceria sua com Lindolfo Barbosa, fez sucesso com o Trio Nordestino; o LP “Gosto da Bahia”, pela Gravadora Japoti (1970); o álbum “As filhas da viúva” (1980); o LP “O rei do forró sou eu” Nova Produções (1994); participou da gravação do DVD do grupo paraibano Clã Brasil (2006); e os CDS: 20 anos de estrada, De língua, Forró Cocota, Me botando pra roer, Projeto divino, Eco nordeste, Vem viver essa paixão, Deixa o dia clarear; Sertanejo, entre outros. Durante toda a carreira, somam-se cerca de 20 álbuns gravados, entre LPs e CDs.
De autoria do deputado Delegado Wallber Virgolino, o projeto de lei foi aprovado por unanimidade na Assembleia legislativa, durante uma votação realizada no dia 18 de junho.
Em setembro do mesmo ano, ele foi reconhecido com o título "Mestre das Artes Canhoto da Paraíba". A homenagem foi oficializada pela Secretaria de Cultura do Estado através de uma publicação no Diário Oficial do Estado.
O título de Mestre das Arte’ foi criado pela Lei Estadual º 7.694, conhecida como Lei Canhoto da Paraíba. Ela é uma homenagem ao músico Francisco Soares de Araújo, conhecido como Canhoto da Paraíba, que morreu em 2008. O objetivo é proteger e valorizar os conhecimentos, fazeres e expressões das culturas tradicionais paraibanas.
Por meio do Registro no Livro de Mestres das Artes (REMA), as pessoas que contribuem há mais de 20 anos com atividades culturais na Paraíba recebem o título de “Mestres e Mestras”, ao terem suas artes reconhecidas.

Autoridades lamentaram morte de Pinto do Acordeon

O prefeito Romero Rodrigues lamentou, profundamente, a morte do cantor e compositor Francisco Ferreira de Lima, Pinto do Acordeon. Romero Rodrigues destacou que Pinto do Acordeon foi um artista que sempre teve um compromisso inarredável com a cultura de sua terra. Lembrando que, durante muitos anos, Pinto do Acordeon integrou o rol dos artistas que se apresentaram no Parque do Povo, o prefeito campinense assegurou que a cidade guardará com muito carinho e saudade a memória de seus shows de forró e baião marcados pela autenticidade e qualidade.
O prefeito Luciano Cartaxo, de João Pessoa, também se pronunciou sobre a morte do músico paraibano. "Foi com muito pesar que recebi a notícia do falecimento de Pinto do Acordeon. A Paraíba perde um de seus maiores nomes, uma referência em cultura nordestina e na nossa música. Ele era um artista nato, dono de um talento como poucos. Tive a oportunidade de ser seu companheiro na Câmara Municipal e muito me orgulhou poder homenageá-lo no nosso São João. Que Deus o receba de braços abertos e que sua família, amigos, fãs e admiradores tenham a força para superar o momento. Pinto do Acorden se vai, mais deixa uma história que jamais será apagada de nossas lembranças", afirmou o prefeito Luciano Cartaxo.
Bom Dia Paraíba: Viúva de Pinto do Acordeon falou sobre saudade que ficou do músico paraibano
Por Dani Fechine e Ítalo Di Lucena, G1 PB

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