Supremo Tribunal Federal define o futuro do inquérito das fake news, que preocupa Bolsonaro
São suspeitos de integrar o esquema deputados, empresários e blogueiros bolsonaristas, que foram alvo de operação policial no último dia 27

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O
STF (Supremo Tribunal Federal) julga nesta quarta-feira (10) o
prosseguimento da investigação de uma rede de disseminação de notícias
falsas e ameaças a ministros da corte, o chamado inquérito das fake
news, que incomoda o presidente Jair Bolsonaro.
São suspeitos de integrar o esquema deputados,
empresários e blogueiros bolsonaristas, que foram alvo de operação
policial no último dia 27.
O inquérito foi aberto em março de 2019
como resposta do Supremo a críticas e ataques crescentes nas redes
sociais. Desde o início, porém, a apuração foi contestada por juristas e
políticos por ter sido instaurada pelo presidente do tribunal, ministro
Dias Toffoli, de ofício – ou seja, sem provocação da PGR
(Procuradoria-Geral da República).
A
escolha do ministro Alexandre de Moraes para relatar o caso sem sorteio
é outro fato questionado. A tendência é que o plenário autorize a
continuidade do inquérito. Uma ala da corte argumenta em conversas
reservadas que, nesta quarta, o STF deve apenas declarar constitucional a
portaria que instaurou o inquérito.Há outro movimento interno no
tribunal, contudo, que defende atender, ao menos em parte, os pedidos da
PGR de ajustes na condução do caso.Isso porque, apesar de entenderem
que o Supremo pode iniciar apuração sem pedido do órgão responsável por
tocar investigações, é consenso na corte que a apresentação de denúncia é
competência exclusiva da Procuradoria.
Assim, seria
importante fazer sinalização em direção ao procurador-geral, Augusto
Aras, que tem a missão de pedir ou não a abertura penal contra pessoas
com foro especial e de enviar ou não à primeira instância situações de
cidadãos comuns. Dependerá de Aras, portanto, que haja consequências
práticas para os responsáveis por atacar e ameaçar os ministros.
Desde
que foi instaurado o inquérito, Toffoli procura o momento mais
favorável para levar os questionamentos ao plenário sem risco de
derrota. A oportunidade, na visão do presidente da corte, surgiu depois
de o STF demonstrar união incomum para dar resposta às investidas de
Bolsonaro, que criticou a operação autorizada por Moraes contra
bolsonaristas e até ameaçou descumprir decisões judiciais.
Assim,
apesar de o caso ter sido alvo de duras críticas internas, a avaliação é
que prevalecerá a necessidade de demonstrar força para impedir a
ofensiva do presidente. E o conjunto de ministros julgar constitucional o
ato mais contestado de sua gestão à frente do Supremo é visto por
interlocutores de Toffoli como imprescindível para a entrega do comando
da corte ao ministro Luiz Fux, em setembro, com saldo positivo.
Dias Toffoli
pretende que a caça aos responsáveis por atacar o Supremo e seus
integrantes fique como uma marca da sua presidência no tribunal. O
ministro fez diversos movimentos nesta semana a fim de respaldar a
atuação do STF. Primeiro, recebeu carta assinada por todas as
associações nacionais de magistrados, de integrantes do Ministério
Público, da Polícia Federal e diversas entidades da sociedade civil.
Depois, recebeu carta de apoio ao STF de deputados e senadores de
oposição a Bolsonaro. Assim, ficou claro que até grupos políticos
críticos ao inquérito das fake news passaram a apoiar a iniciativa.
Nesta
quarta-feira, por exemplo, será julgada ação da Rede Sustentabilidade
que pediu a extinção do inquérito nove dias após sua abertura. Depois da
operação contra bolsonaristas, porém, o partido recuou e disse que,
embora tenha apresentado "inquietantes indícios antidemocráticos" no
começo, a investigação "se converteu em um dos principais instrumentos
de defesa da democracia".
As contestações não partiram só de
políticos e juristas. Inicialmente, até colegas da corte questionaram
internamente a decisão de Toffoli. O ministro Marco Aurélio chegou a
fazer críticas públicas e disse que o limite do presidente do tribunal
diante de possíveis crimes seria "oficiar o Estado acusador, que é o
Ministério Público".
Uma ala do STF sustenta reservadamente que,
com ajustes, os ministros ficariam mais confortáveis para permitir o
prosseguimento das investigações. Ministros chegaram a defender, nos
bastidores, que seria um gesto importante de Moraes anunciar no
plenário, de antemão, impedimento para julgar futuras ações judiciais
relacionadas ao caso, uma vez que participou diretamente da produção de
provas. O magistrado, porém, tem sinalizado que não fará esse movimento.
O
argumento é que, pela lei, o juiz só pode se declarar impedido dentro
do próprio processo, e não de maneira genérica. Outro alvo de discussão
entre ministros nos bastidores é o pedido do procurador-geral para que
haja uma delimitação mais precisa do objeto das investigações. Em
memorial encaminhado ao STF, Aras criticou o que chamou de
"exorbitância" em relação ao alvo das investigações.
Aras também
pede que o inquérito seja desmembrado, com abertura de outro específico
para apurar a declaração do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de
que mandaria todo mundo para a cadeia, "começando pelo STF". Aras também
requer uma investigação em separado contra o chamado gabinete do ódio,
citado na decisão de Moraes. O gabinete é tutelado pelo vereador Carlos
Bolsonaro (Republicanos-RJ), suspeito de envolvimento no esquema das
fake news. Três servidores da Presidência foram mencionados no despacho
de Moraes.
Um temor do governo é que as provas colhidas pelo STF
sejam compartilhadas com as ações no Tribunal Superior Eleitoral que
pedem a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.
Notícias ao Minuto
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