Um dos mais importantes periódicos científicos mostra que a Hidroxicloroquina não reduz mortes ou intubação, mostra estudo
Um
novo e grande estudo publicado no The New England Journal of Medicine,
um dos mais importantes periódicos científicos, mostrou que a
hidroxicloroquina não tem eficácia para redução de mortes ou para
impedir intubação de pacientes com a Covid-19.
O estudo
observacional (ou seja, os pesquisadores não fizeram intervenções em
pacientes) analisou informações de 1.376 pacientes que tinham sido
tratados no Hospital Presbiteriano de Nova York (que é associado à
Universidade Columbia e a Weill Cornell Medicine) entre 7 de março e 8
de abril (com acompanhamento até 25 de abril).
As pessoas
infectadas pelo novo coronavírus poderiam receber uma dose de 600 mg de
hidroxicloroquina no dia 1, seguido por doses diárias de 400 mg por
quatro dias. Outra opção terapêutica era associação de hidroxicloroquina
e azitromicina, com uma dose inicial da segunda de 500 mg e de 250 mg
nos quatro dias seguintes.
Entre os 1.376 pacientes que tiveram do
dados analisados, 811 receberam hidroxicloroquina e 565 não. A maior
parte das pessoas que tiveram os dados analisados começou a receber a
medicação em até 48 horas após a hospitalização.
Após cerca de 22
dias, 346 pacientes morreram ou foram intubados. No fim do estudo, 232
pacientes tinham morrido, 1025 sobreviveram e receberam alta hospitalar,
e outros 119 permaneciam hospitalizados.
Segundo os
pesquisadores, a análise dos dados estatisticamente não aponta
benefícios no uso da hidroxicloroquina para os parâmetros observados, ou
seja, a morte ou a intubação.
“Nossos
achados não apontam para a indicação do uso da hidroxicloroquina fora
de testes clínicos randomizados que estejam testando sua eficácia”,
afirmam os autores.
Os pesquisadores também afirmam que as
sugestões de tratamento com azitromicina e com hidroxicloroquina foram
retiradas das orientações do hospital em 12 de abril e em 29 de abril,
respectivamente. A partir de então, de acordo com cada paciente, a
indicação das drogas ficou à discrição da equipe médica responsável pela
pessoa.
Segundo o estudo, alguns pacientes, em seguida, passaram a
tomar outras drogas que estão em teste contra o Sars-CoV-2, como o
sarilumab e o remdesivir – o qual apresentou resultados preliminares
modestamente positivos em pesquisa financiada pelo NIH (National
Institutes of Health), dos EUA, e que, por isso, recebeu uma autorização
para uso emergência contra a Covid-19 no país.
O infectologista
brasileiro André Kalil, da Universidade de Nebraska Medical Center, é um
dos cientistas que lideram os estudos com o remdesivir. Segundo ele, a
droga é a mais promissora no momento – mesmo não significando cura -,
considerando que nenhum outro estudo com fármacos mostrou efeito
significativo contra o vírus.
Há no momento diversos estudos em
andamento para buscar a melhor droga para combater o novo coronavírus.
Inclusive, a cloroquina e seu derivado, a hidroxicloroquina, são as
drogas mais estudadas no mundo para tratamento de pacientes com a
Covid-19. Um em cada três estudos em humanos estão usando a cloroquina –
e o Brasil está entre os países com a maior quantidade dessas
pesquisas.
A droga ganhou forte apelo político após o presidente americano Donald Trump passar a defender a droga como resposta à pandemia.
O
presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) seguiu as ações de
Trump e passou a defender pública e constantemente a hidroxicloroquina
como resposta para a Covid-19. Bolsonaro chegou a instruir que o
exército aumentasse a produção da droga.
De início, o Ministério
da Defesa chegou a divulgar que produziria 1 milhão de comprimidos por
semana. Contudo, recentemente a produção foi interrompida por falta de
insumos e o foi colocado um teto para a produção da droga: mais 1,75
milhão de pílulas e depois só se houver demanda.
Bolsonaro e Trump
diminuíram o tom na defesa da droga. Antes, a hidroxicloroquina estava
presente em pronunciamentos brasileiros oficiais em rede nacional e nas
redes sociais dos dois presidentes.
O estudo publicado pelo The
New England Journal of Medicine, por seu desenho, não coloca ainda um
ponto final na questão da eficácia (ou falta de) da hidroxicloroquina.
Uma resposta mais precisa deve aparecer em breve, com os resultados dos
estudos randomizados e controlados com a droga.
Fonte: Folhapress - Publicado por: Larissa Freitas
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