Denúncia do Ministério Público da Paraíba revela produtos superfaturados e supostas propinas na gestão Cartaxo

Uma notícia aparentemente caiu como uma bomba, nas
hostes da gestão municipal de João Pessoa, nesta primeira sexta-feira do
ano (03), quando uma com denúncia do Ministério Público da Paraíba
(MPPB), trouxe que o fornecimento de produtos para a Secretaria de Saúde
de João Pessoa desde o início da gestão do prefeito Luciano Cartaxo
(PV), funciona através de um esquema onde uma das engrenagens é o
chamado “vale”. Um “vale” seria a entrega de material por parte de uma
empresa com valor superior ao praticado no mercado, sem nenhum tipo de
segurança jurídica e contratual ou, em havendo contrato, sem a emissão
de empenho, mas tão somente a promessa de pagamento.
Ainda de
acordo com a denúncia do MP, Há um agravante neste processo: mesmo com o
pagamento, as empresas sequer chegavam a realizar a entrega do
material, ou quando faziam, era de forma parcial. “Depois de criado os
laços de confiança, a SMS começou a solicitar vales a essas empresas que
encaminhavam o material através de notas de remessa, gerando
posteriormente a nota fiscal momento em que os gestores da SMS atestavam
e pagavam, mas sem a entrega parcial/total do material”, revela trecho
da denúncia.
Em 2013 foi criado uma engrenagem dentro da SMS,
porém comandada por Zennedy Bezerra. O secretário braço-direito de
Cartaxo indicava quais empresas deveriam vencer os processos
licitatórios e apresentar atas de registro de preços. O auxiliar fazia
isto por meio de “bilhetinhos”, como cita o MPPB. Com isso, ele foi
criando uma parceria entre as empresas e a secretaria.
O indicado de Cartaxo e as ‘meninas superpoderosas’
Entre 2014 e 2015, Cartaxo enviou um indicado para ser uma espécie de
braço-direito e comandar mais de perto o esquema na secretaria, na
época, comandada por Mônica Rocha. Este indicado se chama Guilherme
Fracaro, um consultor da empresa Falconi – que foi contratada no início
da gestão para enxugar a folha e fazer um raio-x da prefeitura.
Juntamente com ele, estavam Ivila Medeiros e Aline Alves, que, de acordo
com o MPPB, “formavam o núcleo mais próximo a Luciano Cartaxo”.
A
função dele era cortar gastos, mas sem deixar os serviços
desabastecidos. Fracaro foi autorizado a continuar com as negociações de
“vales” junto aos fornecedores. Porém, ele fez mais que isso. Conforme o
MPPB, ele “aprimorou a engrenagem e, ao invés de fazer o jogo de cartas
marcadas nas licitações, ele solicitava que o fornecedor lhe
apresentasse atas de registro de preço para que a SMS aderisse e pagasse
os débitos”.
Quando as empresas já possuíam contrato com a
Secretaria de Saúde, mas sem os empenhos emitidos, o item era fornecido,
também com valores superfaturados, e só depois eram providenciados os
empenhos e a liquidação das notas fiscais apresentadas anteriormente. E,
mais uma vez, quando acontecia esta movimentação a entrega dos
materiais não acontecia ou era realizada forma parcial.
Acordos feitos de forma pessoal
“Essas solicitações de antecipação de materiais (vales) eram feitas
pessoalmente, por telefone e até mesmo via e-mail por Guilherme e os
gestores da Gerência de Medicamentos e Assistência Farmacêutica
(Gemaf)”, diz trecho do inquérito.
Após alguns acontecimentos, inclusive referentes ao esquema, Fracaro
pediu demissão. Para se ter uma ideia do que ele representava para o
prefeito dentro da SMS, a sua substituta, que, claro, deveria ser também
da extrema confiança do gestor, atualmente é Iery Pires, prima de
Cartaxo.
Preços superfaturados
O inquérito cita exemplos de produtos superfaturados. Uma acetilcisteina
10% custa na ata R$ 0,93 a unidade, no vale chega a ser comprada por R$
5,14. O que dá um valor de R$ 4.318, quando pelo valor de ata a
Secretaria de Saúde pagaria somente R$ 781. É um superfaturamento de R$
3.537, o equivalente a cerca de 400% o valor real dos materiais.
Um curativo espuma Biatain 15×15 no “vale” era comprado por R$ 141,70 a
unidade. No mercado, como por exemplo na Nutriport, é vendido por R$
86,53. Uma diferença de R$ 55,17 por cada unidade adquirida pela SMS.
A fórmula infantil Neocate custa R$ 197,91 no mercado, como por exemplo
na Drogaria São Paulo. No “vale” era adquirida por R$ 318 pela
Secretaria de Saúde. Através do esquema, no pedido de 240 unidades – que
está registrado pela SMS e datado do dia 14 de outubro de 2014 – a
gestão iria pagar R$ 76.320. Quando na verdade, pelo valor de mercado,
pagaria somente R$ 47.498. É um superfaturamento de quase R$ 29 mil em
apenas uma remessa de um produto.
O esquema chegou a dobrar o
valor de alguns produtos, como no caso do desinfetante Glutaron 32 dias.
No “vale” a unidade custava R$ 200, quando na verdade o valor de
mercado é de R$ 67,25, como consta no inquérito do MPPB. Ou também o
produto Novasource, que tem valor de mercado orçado em R$ 45,19, e no
“vale” era comprado pela SMS por R$ 95.
Conforme o inquérito,
todas as empresas inseridas no esquema da Saúde de João Pessoa foram
contempladas com verdadeiras fortunas nas gestões de Luciano Cartaxo.
Neste
caso, o MPPB investiga o superfaturamento dos produtos, o
direcionamento de licitação, bem como outros crimes a depender do
prosseguimento das investigações.
Empresa do esquema cobra pagamento mesmo após inquérito
No último dia 12 de dezembro, mesmo já realizado audiência para oitiva
de testemunhas, o promotor Adrio Nobre Leite declinou da atribuição em
favor do Ministério Público Federal (MPF), que já tinha instaurado uma
notícia de fato em fevereiro deste ano.
Mesmo após os órgãos
ministeriais terem instaurado procedimentos para averiguação do fato, no
dia 29 de novembro, a empresa Especifarma abriu um novo procedimento
cobrando “alguns milhões de reais”, conforme documento do MPPB, como
reconhecimento de dívida.
A ação para o pagamento, aconteceu após
três encontros na segunda quinzena de novembro, envolvendo os
secretários Zennedy Bezerra, Adalberto Fulgêncio e um representante da
Especifarma, identificado como Júlio. Primeiramente aconteceu uma
reunião prévia entre Zennedy, que foi o responsável por levar a empresa
para a gestão municipal, e Júlio. Depois houve um segundo encontro entre
Zennedy e Adalberto Fulgêncio. Por último, uma terceira reunião entre
Fulgêncio e Júlio.
Supostas propinas
Conforme o MPPB, as empresas presentes na “planilha bomba”, ou seja, que
participavam do esquema de produtos superfaturados, foram procuradas
para ajudar também na campanha de Lucélio Cartaxo ao Governo do Estado
nas eleições 2018.
Uma das empresas, a Kairós Segurança, foi
citada durante um encontro entre Cartaxo, Fulgêncio e Diego Tavares, e
um áudio do encontro vazou em março do ano passado. Na reunião, eles
tratavam supostamente sobre propinas para a campanha do irmão do
prefeito pessoense.
Algumas citadas são: Especifarma, Tecnocenter,
MegaMed, Tutto Limp, Depósito Geral de Suprimentos Hospitalares,
Panorama, Elfa Medicamentos e Diet Food Nutrição.
Além delas,
outras empresas que estavam recebendo os pagamento de antigos “vales”,
através de reconhecimento de dívida e restos a pagar, já estavam na mira
para serem procuradas para auxiliar na campanha também.
São elas:
Fixano Comercial, Kairós Segurança, Biotec Comércio de Material Médico,
HBL Vendas, Diagfarma, Servpol, Gradual Comércio e Serviços, Medioly,
Medschalter Acionador, Carnes e Frutos do Mar Comércio, Classe A
Serviços de Buffet e Recepções, D-Oxxi Nordeste e H&T Comércio de
Produtos Hospitalares e Diagnósticos.
PB Agora com Paraíba Já e MPPB
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