Óleo vazado leva a solução de enigma de caixas que surgem em praias no Nordeste
O
mistério das caixas de borracha que há um ano chegam pelo mar às praias
do Nordeste chegou ao fim. Pesquisadores da UFC (Universidade Federal
do Ceará) acreditam ter resolvido o enigma enquanto pesquisavam as
causas do derramamento de óleo que atinge a região no último mês.
Pesquisadores
do Labomar (Instituto de Ciências do Mar) da UFC (Universidade Federal
do Ceará) afirmam que os fardos são do navio cargueiro alemão Rio
Grande, afundado durante a Segunda Guerra Mundial.
Além do enigma,
as caixas representam riscos. Em 8 de junho, uma colisão de um buggy
com um desses blocos de borracha na praia de Santa Rita, em Extremoz,
região metropolitana de Natal, causou duas mortes e deixou duas pessoas
feridas.
Agora, os pesquisadores estudam se o óleo que está
poluindo as praias do nordeste vem do mesmo navio das caixas. Eles
observaram que a substância apresentou rota parecida com a que foi
percorrida pelos fardos de borracha.
O professor Rivelino
Cavalcante, um dos pesquisadores do estudo, coletou várias amostras do
óleo depositado em praias do Ceará. O material será enviado a um
laboratório nos Estados Unidos, especializado em análise desse tipo de
material. Os pesquisadores vão cruzar os dados da análise, como
característica, idade e origem geográfica, com os obtidos na pesquisa do
navio.
História
O cargueiro Rio Grande, que estava
carregado de borracha, foi torpedeado pelas tropas dos Estados Unidos e
afundou na costa brasileira, próximo a Recife, em 1944. O navio foi
encontrado em 1996, a aproximadamente 5.700 metros de profundidade.
Segundo
a pesquisa, tripulantes da embarcação conseguiram sobreviver saindo em
pequenos botes, depois desembarcaram em Fortaleza e foram presos na 10ª
Região Militar. As informações sobre o naufrágio do navio foram obtidas
por um banco de dados americano sobre naufrágios no Atlântico Sul.
“É
um marco histórico, porque conseguimos identificar a origem dessas
caixas em relação ao cargueiro que deve ter se rompido no fundo do mar”,
explica o professor Carlos Teixeira, um dos responsáveis pela pesquisa.
Os
pesquisadores começaram a desconfiar que os blocos pertenciam ao navio
ao associarem uma inscrição marcada em uma caixa que encalhou em julho,
em uma praia do município de Itarema.
Diante desse dado que
indicaria que o produto era antigo, os pesquisadores cruzaram as
informações com a pesquisa histórica e identificaram o navio cargueiro
que trazia material da Indochina Francesa, semelhante às caixas.
Para
respaldar a tese de que o navio é fonte das caixas, os pesquisadores
simularam no computador a liberação de partículas a partir do ponto que o
navio afundou e os objetos chegaram à costa nordestina.
“Nessa
simulação, são considerados fatores como direção das correntes
marítimas, temperatura, salinidade e ventos. Com isso, é possível saber
de onde os materiais vêm e para onde eles estão sendo transportados
pelas correntes”, explicam os pesquisadores.
Agora, eles estão elaborando um artigo científico sobre o achado para ser publicado em um periódico internacional.
O
professor Luis Ernesto Bezerra, também responsável pela pesquisa,
ressalta que outros casos semelhantes com o surgimento das caixas no
litoral do nordeste já ocorreram em outras partes do mundo. Segundo ele,
um deles ocorreu em 2012, quando caixas encalharam em praias de países
da Europa e pesquisas apontaram que os objetos eram de um navio japonês
afundado em 1917, na Primeira Guerra Mundial.
Além
da pesquisa histórica, o estudo está analisando os crustáceos que estão
grudados em algumas caixas para saber quanto tempo os blocos estão
flutuando nas correntes marinhas. Os crustáceos encontrados são do tipo
“cracas”, que vivem em alto mar e vão se prendendo às superfícies que
ficam à deriva.
A análise dos crustáceos ocorre pelo tamanho deles
para saber o tempo e o DNA para descobrir as espécies. “Pelo tamanho
das cracas, é possível saber há quanto tempo elas estão presas nas
caixas. Ainda estamos aprofundando esses estudos de crescimento das
cracas, mas elas estão lá há pelo menos três ou quatro meses, que é o
tempo durante o qual essas caixas devem estar flutuando, pois as cracas
só ficam na superfície”, descreve Bezerra.
As
caixas começaram a encalhar há um ano nas praias do Nordeste. Os
primeiros pacotes surgiram em Alagoas. Em 2018, foram registrados
encalhes dos objetos em todos os estados do Nordeste, exceto Bahia.
Novas caixas voltaram a encalhar no litoral de Alagoas, Paraíba, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte, no mês de junho.
Fonte: Uol - Publicado por: Gerlane Neto
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