Por que a Marinha não consegue impedir que as manchas cheguem à costa do Nordeste
Um
conjunto de fatores naturais e operacionais pode estar contribuindo
para o aparecimento novas manchas de óleo que atingiram o litoral sul de
Alagoas e o litoral norte de Pernambuco nesta semana.
Biólogos
apontam que a corrente marinha e a mudança de ventos influenciaram
no retorno da substância às praias. Já a Marinha e o governo de
Pernambuco afirmam que a falta de localização do foco do derramamento de
óleo dificulta o trabalho de contenção do material no mar para que as
praias não sejam oleadas.
Manchas extensas cobriram praias em
Japaratinga e Maragogi no inicio da semana. Apesar dos esforços do
governo de Pernambuco, realizado na praia de Peroba, em Maragogi, de
arrastar as manchas para que elas não se dispersassem nas praias de São
José da Coroa Grande e adjacências, ontem, cinco localidades foram
cobertas pelo material.
As praias
atingidas pelas manchas ficam na APA (Área de Proteção Ambiental) Costa
dos Corais, considerada a maior unidade de conservação federal marinha
costeira do Brasil. O local fica entre os estados de Pernambuco e
Alagoas e tem mais de 400 mil hectares de área, além de 120 quilômetros
de praia e mangues.
O biólogo Cláudio Sampaio acredita que retorno
de material ao litoral Norte de Alagoas e litoral Sul de Pernambuco
esteja relacionado com correntes costeiras auxiliadas pelo padrão de
ventos. Ele explica que o óleo que está descendo em direção à Bahia
segue a corrente do Brasil, que é uma corrente predominante no litoral
leste do brasileiro e que se origina próximo ao Rio Grande do Norte. A
corrente tem sentido do norte para sul.
“Esse óleo que estava aqui
próximo, em Pernambuco, Alagoas, e foi deslocado por meio dessa
poderosa corrente marítima. Esses novos eventos nas praias do norte de
Alagoas e do sul de Pernambuco podem estar relacionados a correntes
marinhas costeiras que são influenciadas pelos ventos do quadrante sul.
Nesses últimos dias, o vento leste sul tem predominado”, explica
Sampaio, que é professor dos cursos de biologia e engenharia de pesca,
coordenador do Laboratório de Ictiologia e Conservação campus Penedo da
Ufal (Universidade Federal de Alagoas).
O
biólogo Clemente Coelho Junior, doutor em oceanografia biológica e
professor adjunto da UPE (Universidade de Pernambuco) afirma que
pesquisadores tinham sinalizado aos governos estadual e municipais que o
óleo voltaria às praias de Pernambuco, devido aos ventos e correntes
marinhas, 40 dias após a primeira aparição do material no estado.
Porto de Galinhas deve ser a próxima atingida
Coelho
diz que, nos próximos dias, a praia de Porto de Galinhas será atingida
pela substância, que segue a corrente marinha com o vento.
“Entre
30 de agosto e 2 de setembro, o óleo chegou ao nosso estado migrou até o
Maranhão, chegou ao norte de Alagoas, Sergipe, Bahia, e agora, voltou
ao nosso estado. Foi dado alerta, nessa segunda leva, de que 40 dias
depois o óleo ia subir”, diz Coelho, que está na praia de Carneiros
acompanhando a situação.
A gente agora está fazendo só
apagar fogo, fazendo a limpeza, algumas medidas paliativas de contenção.
Infelizmente essa é a realidade
Clemente Coelho Junior, biólogo e professor da UPE (Universidade de Pernambuco)
O
Instituto Bioma Brasil também atribui o retorno de manchas de óleo ao
litoral do nordeste à mudança dos ventos e à influência das correntes
marinhas. “São 45 dias que o nosso litoral nordestino vem sendo surrado
pelo petróleo derramado no oceano, que chegou pela corrente
sul-equatorial. Como previsto, com a mudança da direção do vento para o
sul, no final de semana, o óleo chegou a APA Costa dos Corais”, afirma.
Além
dos ventos e correntes marinhas na região, a falta de localização do
foco do derramamento contribuiu para novas manchas voltarem ao litoral
do Nordeste, de acordo com os especialistas.
A Marinha do Brasil
afirma que a dificuldade em encontrar o local do derramamento de óleo no
mar ocorre pela extensão de 2.250 km, que vai de Salvador até o
Maranhão, e pela duração e ineditismo do problema.
“Talvez
explique a dificuldade que estamos tendo. Nossa área de investigação é
800 km horizontal e 500 km vertical. Estamos vendo dado desde agosto.
Foram investigados 1.060 navios de interesse. Não quer dizer que só
esses trafegaram, é muito mais que isso”, afirma o chefe do Estado Maior
do Comando de Operações Navais da Marinha, almirante Alexandre Rabello
de Faria.
"Temos uma bala perdida, que se projetou em toda
costa, temos ele e a evidência, estamos procurando a arma e quem usou. A
dificuldade é muito grande”
Alexandre Rabello de Faria, almirante
Faria
também diz que, apesar da expertise da Marinha em fazer monitoração por
submarinos que detectariam o ruído no fundo do mar, o material se move
de forma silenciosa. “O movimento não é detectado por meio acústico. Os
satélites não identificam essas manchas abaixo da água.”
Segundo a
Marinha, o material começa a aparecer a uma milha náutica (1,8 km) da
costa, numa distância não segura para navios recolherem a substância em
alto-mar. “Nossas embarcações tentaram, com alguma dificuldade, mas
ainda recolheram algumas coisas”, diz Faria.
Arrasto de óleo no mar
A
extração do óleo que estava na costa nordestina entre Alagoas e
Pernambuco, ocorrida na quinta na praia de Peroba, entre Maragogi e São
José da Coroa Grande, não impediu que quatro praias pernambucanas, do
litoral sul, fossem cobertas por óleo ontem. A substância tomou conta da
areia das praias do Gravatá, em São José da Coroa Grande; Camucabinhas,
em Barreiros; Carneiros, em Tamandaré; e Aver O Mar, em Sirinhaém.
A
Semas (Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade de
Pernambuco) também argumenta que o trabalho de contenção e prevenção se
torna difícil porque não se sabe o local onde o óleo foi despejado.
Uma
força-tarefa arrastou manchas que estavam em alto-mar e se deslocaram
para a costa pernambucana, em São José da Coroa Grande, para impedir que
o material se espalhasse pelas praias. Vinte toneladas de óleo foram
retiradas, segundo dados da Semas. O material foi levado para um aterro
industrial.
Logo após a retirada do óleo, manchas surgiram na
praia de Peroba, em São José da Coroa Grande. Voluntários e funcionários
da prefeitura de São José da Coroa Grande passaram a noite limpando os
pontos de óleo, mas ainda ontem havia resquícios do material na areia.
Um
vídeo enviado ao UOL feito por um grupo de voluntários mostra pedaços
de manchas, que estão espessas e grudentas, sendo retirados da areia da
praia em São José da Coroa Grande. O grupo recolheu 8 quilos de borra de
óleo e o material foi entregue em um ponto de coleta da prefeitura para
ter a destinação correta.
Uma
aeronave do governo de Pernambuco fez sobrevoo pelo litoral sul do
estado, às 6h15, onde detectou as praias oleadas, mas devido ao tempo
chuvoso, os demais voos que iriam ocorrer ao longo da sexta foram
cancelados.
A Semas informou que de 300 pessoas estão fazendo a
limpeza na praia de Carneiros, em Tamandaré, e que estão sendo
instaladas barreiras de contenção no rio Persinunga, que delimita dos
estados de Pernambuco e Alagoas. Os equipamentos estão sendo instalados
nos rios Sirinhaém e Formoso, na APA Guadalupe, e no Pontal de
Maracaípe.
O secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de
Pernambuco, José Bertotti, afirma que, apesar dos esforços em conter as
manchas, fica difícil realizar trabalhos preventivos sem identificar a
origem do vazamento.
“A medida que você tem um litoral com 200
quilômetros, você não tem como fazer uma barreira de contenção em todo
litoral, até porque o Governo Federal ainda não identificou de onde as
manchas vêm. Mas, esse fechamento das entradas dos mangues está sendo
feito pelas equipes neste comando do governo de PE, Ibama e Marinha”,
disse o secretário.
Fonte: Uol - Publicado por: Gerlane Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário