Produto Interno Bruto do segundo semestre registra crescimento de 0,4% e fica acima do esperado
O
Produto Interno Bruto (PIB, valor de todos os produtos e serviços
produzido no País) registrou, no segundo trimestre, crescimento de 0,4%,
resultado melhor que o esperado pelos analistas – alta de 0,2% em
relação ao primeiro trimestre, segundo pesquisa do Projeções Broacast.
Os dados foram divulgados na manhã desta quinta-feira, 29, pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação
com o segundo trimestre de 2018, o crescimento foi de 1%. O instituto
também revisou o resultado da economia no primeiro trimestre, de -0,2%
para -0,1%.
O
desempenho do segundo trimestre foi puxado pela alta de 0,7% na
indústria, de 0,3% no setor de serviços e de 0,3% no consumo das
famílias. A taxa de investimentos também apresentou um bom resultado,
com avanço de 3,2%. O que segurou o PIB, por outro lado, foi o consumo
do governo, que caiu 1%, e também o setor agropecuário, que recuou 0,4%.
Chama
a atenção nos resultados do segundo trimestre o da construção, que
registrou crescimento de 2% em relação ao segundo trimestre do ano
passado. É a primeira alta depois de 20 quedas consecutivas nessa base
de comparação – o último resultado positivo havia sido no primeiro
trimestre de 2014, com avanço de 8,2% em relação a igual período de
2013.
Mesmo com esse resultado acima do esperado, a economia
brasileira ainda pode ser considerada dentro de um quadro de estagnação,
e está muito longe de recuperar o que perdeu durante os anos da
recessão. De acordo com o IBGE, a economia ainda está 4,8% abaixo do
pico alcançado no primeiro trimestre de 2014.
“É claro que a
economia vem se recuperando, mas ainda não recuperou tudo. Está
recuperando em relação ao ponto mais baixo que a gente teve, mas ainda
não chegou aos mesmos patamares de 2014, que seria o pré-crise”, disse a
coordenadora de contas nacionais do instituto, Rebeca Palis.
O
movimento é de fato gradual. O PIB tinha voltado ao patamar de 2010,
depois atingiu o patamar de 2011 e, segundo Rebeca, está agora no
patamar de 2012.
A avaliação dos economista é que essa lentidão
na recuperação da economia após a saída da recessão, no primeiro
trimestre de 2017, é alimentada pela persistência do desemprego elevado,
pela perda de produtividade e pelas incertezas políticas que travam o
investimento.
Muitos
analistas, de diferentes linhas teóricas, veem na falta de demanda,
especialmente por causa do nível ainda baixo dos investimentos, a
principal explicação para a estagnação no curto prazo. A continuidade
nos cortes da taxa básica de juros (Selic, hoje em 6,0% ao ano) é
defendida por muitos, mas há divergência sobre o uso ou não de outras
medidas de estímulo.
Economistas como Marcos Lisboa, presidente do
Insper, e o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman não veem espaço para
estímulos fiscais. O economista Eduardo Gianetti defendeu, em
entrevista ao Estado, o uso dos recursos levantados pela venda da
carteira de participações societárias do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para recuperar investimentos
públicos. Para o economista sênior da LCA Consultores Bráulio Borges,
sem estímulos fiscais com foco nos investimentos, a economia seguirá
crescendo pouco.
A lentidão da recuperação se deve também ao fato
de que estudos indicam que reformas estruturais levam até dez anos para
consolidar seus efeitos na economia, disse ao Estado, no último domingo,
o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani. Além disso, a
retomada atual não pode ser comparada com outras, dado o grau de
devastação que a recessão deixou, atingindo em cheio setores como a
construção pesada e petróleo e gás.
Na
visão de Lisboa, que foi secretário de Política Econômica do antigo
Ministério da Fazenda, de 2003 a 2005, a lentidão na aprovação de
reformas estruturais é o principal motivo para a paralisia no
crescimento econômico. Nesse ritmo, o Brasil “não vai voltar a crescer
3% de forma sustentável nos próximos anos”, disse Lisboa, em entrevista
ao Estado na terça-feira, dia 27.
Para
piorar, uma luz amarela foi acesa na economia internacional, após os
mercados globais reagirem negativamente a riscos de recessão mundial no
último dia 14, na esteira da disputa comercial entre China e Estados
Unidos. Isso se soma à crise econômica na Argentina, que vem sendo um
peso na economia brasileira desde o segundo semestre de 2018 e tende a
se agravar em meio às eleições presidenciais de outubro.
Na visão
da economista Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre,
da FGV, o risco de recessão global é preocupante para o Brasil porque
pode atingir em cheio a indústria de transformação e os investimentos. A
indústria de transformação já era afetada pela redução de vendas para a
Argentina, seu principal mercado, mas, com um “choque agregado”, pode
haver aumento do prêmio de risco do Brasil e alta do dólar, o que é
“péssimo para o Brasil no sentido geral”, disse Silvia ao Estado no
último dia 15.
Outro novo risco no radar é são os efeitos da crise
ambiental no desempenho do agronegócio. Uma das válvulas de escape
nesse período de estagnação econômica, o agronegócio agora se depara com
ameaças às exportações. O economista José Roberto Mendonça de Barros
disse ao Estado em entrevista publicada segunda-feira, dia 26, que a
ameaça é “gigante”, porque o risco de boicote internacional ao
agronegócio brasileiro “não é invenção”.
Fonte: Estadão

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