De trunfo precioso a fardo pesado Sérgio Moro começa a balançar - Por Ricardo Noblat
Por Ricardo Noblat
Por
ora, o presidente Jair Bolsonaro ainda o defende. Ou finge fazê-lo. Não
faz tanto tempo assim que o rude capitão, refém dos seus instintos mais
primitivos, admitiu sentir um grande prazer em fornecer corda para que
auxiliares incômodos se enforquem.
Ainda
não procede assim com o ministro Sérgio Moro, da Justiça. Mas se ele,
por qualquer razão, decidisse pedir as contas e largar o emprego, já não
faria tanta falta ao governo. Bolsonaro prestaria as homenagens de
praxe e tocaria em frente.
Moro
desgastou-se com a publicação de seus diálogos com procuradores da Lava
Jato. Ficou provado que ele se comportou como juiz e assistente de
acusação no processo que condenou Lula a 12 anos de cadeia, pena
recentemente reduzida a 8 anos.
Desgastou-se
em seguida com o caso dos hackers da República de Araraquara porque
anunciou que eles haviam invadido mais de mil celulares, entre eles o de
Bolsonaro. Não satisfeito, ainda ligou para alguns dos hackeados e
ameaçou destruir provas do inquérito.
Bolsonaro
topa qualquer briga como já demonstrou, e não sabe viver sem uma. Mas
tudo o que ele não quer neste momento é briga com o ministro Dias
Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, a quem só se refere
como “gente nossa”.
Tem razão
para isso. Foi Toffoli que suspendeu as investigações sobre os rolos
fiscais do senador Flávio Bolsonaro e do ex-motorista Fabrício Queiroz. E
daí? Daí que a decisão de Toffoli foi criticada pelo presidente do
COAF, homem de confiança de Moro.
De
resto, o pacote de leis anticrime despachado por Moro para o Congresso,
uma das joias da coroa do governo Bolsonaro, emperrou por lá e enfrenta a
má vontade de deputados e senadores com o ex-juiz, visto por eles como o
algoz dos políticos.
Pouco
a pouco, antes considerado um trunfo precioso, Moro começa a ser
avaliado como um fardo por Bolsonaro e sua trupe, nela naturalmente
incluída os filhos. Um fardo que ainda é possível carregar, mas que
amanhã poderá deixar de ser.
Cresce
em Bolsonaro o sentimento de que pode tudo. Enquadrou a ala militar do
seu governo. Derrubou o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais. Declarou guerra à imprensa. Nomeará para a Procuradoria Geral
da República quem quiser.
Moro? Moro que se cuide, mas não somente ele.
Fonte: Veja - Publicado por: Alana Yaponirah
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