Perguntas e respostas sobre operação da Polícia Federal que prendeu suspeitos de hackear Sérgio Moro
© Stringer . / Reuters
SÃO PAULO, SP
(FOLHAPRESS) - Na terça (23), quatro pessoas foram presas sob suspeita
de invadir contas de autoridades no aplicativo de mensagens Telegram. A
Polícia Federal (PF) estima que cerca de mil números tenham sido alvo do
grupo, que, de acordo com os investigadores, atuaria em fraudes
bancárias e de cartões de crédito.
Não há, até o momento, indícios de relação entre a ação dos
supostos hackers e a divulgação de mensagens privadas de procuradores da
Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça. Os
diálogos foram revelados pelo site The Intercept Brasil e têm sido
publicados por diversos veículos, incluindo a Folha de S.Paulo.
O
Intercept afirma que recebeu o pacote de conversas de fonte anônima - não
há prova de que tenha sido obtido por meio de ataque hacker.
Abaixo, entenda a operação realizada pela Polícia Federal.
Qual o resultado da operação da Polícia Federal?
Nesta
terça (23), quatro pessoas foram presas sob suspeita de hackear
telefones de autoridades e invadir suas contas no aplicativo Telegram.
Foram cumpridas 11 ordens judiciais, das quais 7 de busca e apreensão e 4
de prisão temporária nas cidades de São Paulo, Araraquara (SP) e
Ribeirão Preto (SP).
Danilo Cristiano Marques, Suelen Priscila de
Oliveira, Walter Delgatti Neto e Gustavo Henrique Elias Santos foram
transferidos para Brasília. Segundo estimativa da PF, mil números foram
alvo da ação do grupo.
Como a investigação começou?
A
investigação teve início após pedido de Moro para que a PF apurasse um
ataque a seu celular, em 4 de junho. O autor da invasão ficou por cerca
de seis horas utilizando aplicativo de mensagens de Moro. O ministro
recebeu uma ligação por volta das 18h, do seu próprio número, o que
estranhou. Ele atendeu, mas não havia ninguém do outro lado da linha.
Em
seguida, foi informado de mensagens que estavam sendo trocadas pelo
Telegram. O hacker usou o aplicativo até pelo menos 1h da manhã.
O
inquérito também investiga ataques às contas do juiz federal Abel
Gomes, relator da Lava Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª
Região), do juiz federal no Rio Flávio Lucas e dos delegados da PF em
São Paulo Rafael Fernandes e Flávio Reis.
Segundo investigadores, a
apuração mostrou que o celular de Deltan Dallagnol, coordenador da
força-tarefa da Lava Jato, e do ministro Paulo Guedes (Economia) também
foram alvo do grupo.
As prisões estão relacionadas às conversas divulgadas pelo site The Intercept Brasil?
A
investigação não conseguiu estabelecer se o grupo alvo da operação tem
ligação com o pacote de mensagens. Também não há provas de que os
diálogos foram obtidos a partir de ataque hacker. O Intercept afirma
apenas que recebeu o pacote de conversas de uma fonte anônima e que
pediu sigilo.
Nesta quarta (24), Moro postou, no Twitter, mensagem
em que associa os presos às conversas divulgadas. Essa relação,
contudo, não foi estabelecida pela Polícia Federal nem pelo Ministério
Público até o momento.
Como os hackers agiram?
O Telegram
permite que seus usuários solicitem o código de acesso ao serviço na web
por meio de uma ligação telefônica. Na sequência, faz uma chamada de
voz e informa o número ao cliente.
A estratégia dos supostos
hackers foi a de, primeiro, telefonar várias vezes para os
celulares-alvo, fazendo com que as linhas ficassem ocupadas. Dessa
maneira, as ligações do Telegram foram destinadas às caixas postais.
A
partir daí, eles clonaram, com o uso de tecnologia, os números de Moro e
das demais autoridades. Assim, simularam telefonemas das vítimas para
elas próprias, acessando o recado deixado pelo aplicativo.
Com o código, conseguiam acessar a conta. Veja mais detalhes sobre o modo como eles agiram neste link.
Que lei enquadraria os supostos delitos cometidos pelo grupo?
Na
decisão que determinou a prisão dos suspeitos, o juiz Vallisney de
Souza Oliveira cita três crimes: organização criminosa, invasão de
dispositivo informático e interceptação de comunicação telefônica, de
informática ou telemática.
Como a Polícia Federal chegou aos quatro suspeitos?
Moro
notou que havia sido hackeado quando recebeu ligações de sue próprio
número. Os investigadores seguiram os rastros dos telefonemas que foram
feitos para o celular do ministro.
Assim, descobriram primeiro que
a operadora Datora Telecomunicações transportou as chamadas destinadas
ao celular do ministro após recebê-las por meio da tecnologia VOIP,
serviço que, por sua vez, é prestado pela microempresa BRVoz.
Os
arquivos da companhia, obtidos por meio de ordem judicial, mostraram
que todas as chamadas para o ministro e para as demais autoridades
partiram de um único usuário registrado.
Pelos endereços de
protocolo da internet (IPs) atribuídos aos aparelhos que se conectaram
ao sistema da BRVoz para fazer as ligações, foram identificados os
locais de residência de Danilo Cristiano Marques, Suelen Priscila de
Oliveira, Walter Delgatti Neto e Gustavo Henrique Elias Santos, presos
na terça.
Dados de Moro foram roubados?
Moro disse que
deixou de usar o Telegram em 2017 e apagou a aplicação de seu celular. O
ministro já afirmou várias vezes que não tem mais os registros das
mensagens que trocou.
Segundo o aplicativo, quando um usuário
passa mais de seis meses sem usar a conta, os arquivos de contatos e
conversas são apagados.
Considerando a versão do ministro, os
hackers podem ter entrado no aplicativo com o número de Moro, mas não
teriam como acessar conversas antigas porque elas não existiriam mais. A
Polícia Federal também afirmou que o ministro não teve dados roubados
durante o ataque que sofreu.
Com que argumentos o Ministério Público pediu a prisão dos suspeitos?
Segundo
o Ministério Público Federal, poderia haver risco à investigação e
destruição de provas caso os suspeitos permanecessem em liberdade e
viessem a ter ciência de eram alvo de apuração da polícia.
Na
decisão, o juiz acrescentou que havia necessidade de realizar busca e
apreensão e que isso implicava a prisão dos suspeitos, de forma que o
material pudesse ser coletado de forma adequada e sem risco de que fosse
danificado, alterado ou destruído.
Além da prisão, que outras medidas foram determinadas pela Justiça?
O
juiz Vallisney determinou a quebra do sigilo bancário e telemático
(comunicações eletrônicas) dos suspeitos. Também foi determinado o envio
de ofício às empresas Apple, Google, UOL/BOL e Microsoft "para que
forneçam os dados cadastrais, os registros IP de acesso e Mac address
nos últimos seis meses, além de todos os dados e arquivos em nuvem
referentes às contas de email indicadas".
Segundo relatório de
informações financeiras obtido pela PF, Gustavo Santos movimentou R$ 424
mil entre 18 de abril de 2018 e 29 de junho de 2018, tendo uma renda
mensal de R$ 2.866. Sua companheira Suelen, também detida, movimentou,
segundo o documento judicial, R$ 203 mil de 7 de março a 29 de maio de
2019, sendo que sua renda mensal registrada seria de R$ 2.192.
O que foi encontrado nos endereços em que houve busca e apreensão?
Segundo
a Polícia Federal, foram encontrados cerca de R$ 99 mil em espécie e
aparelhos compatíveis com a ação que se suspeita que o grupo
praticou. João Vianey Xavier Filho, coordenador geral de Inteligência da
Polícia Federal, afirmou que uma análise inicial de computadores
apreendidos indicava que havia captura sistemática de aplicativos de
mensagens e que acredita-se (mas ainda não há certeza) que as mensagens
acessadas eram baixadas pelos supostos hackers.
Quem são os quatro presos?
Walter Delgatti Neto, 30, se dizia investidor.
Gustavo Henrique Elias Santos, 28, era DJ em Araraquara (SP).
Suelen Priscila de Oliveira, 25, é companheira de Gustavo Santos.
Danilo Cristiano Marques, 33, era motorista da Uber.
Segundo a Polícia Federal, há indícios de que os quatro atuavam, em
diferentes graus, em fraudes bancárias e de cartão de crédito.
Notícias ao Minuto
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