Segundo milagre atribuído a Irmã Dulce é reconhecido e ela será proclamada santa, diz Vaticano
Um
segundo milagre atribuído à Irmã Dulce, conhecida como “O Anjo bom da
Bahia”, foi reconhecido por meio de decreto e, com isso, ela será
proclamada Santa, informou, na manhã desta terça-feira (14), o site
“Vatican News”, canal oficial de comunicação do Vaticano. Ela será a
primeira mulher nascida no Brasil a ser canonizada.
“Com
o Decreto autorizado pelo Santo Padre reconhecendo o milagre atribuído à
intercessão de Irmã Dulce, a Baeta será proximamente proclamada santa
em solene celebração de canonizações”, informa o site.
O
Vaticano ainda não divulgou qual foi esse segundo milagre. O primeiro
atribuído à Irmã Dulce, que levou à sua beatificação, em 22 de maio de
2011, trata da recuperação de uma paciente que teve uma grave hemorragia
pós-parto e cujo sangramento subitamente parou, em intervenção
médica. [Leia mais detalhes abaixo]
De acordo com o “Vatican
News”, o Papa Francisco recebeu em audiência, na segunda-feira (13), o
prefeito do Congregação das Causas dos Santos, cardeal Angelo Becciu, o
qual autorizou o Dicastério vaticano a promulgar o decreto sobre Irmã
Dulce. A data da celebração de canonizações não foi divulgada.
Entre
outros decretos promulgados, houve destaque também para o que reconhece
as virtudes heroicas do Servo de Deus Salvador Pinzetta, Frade Menor
Capuchinho nascido em Casca, no Rio Grande do Sul, em 1911 e falecido em
1972.
Três graças alcançadas por devotos, após orações a Irmã
Dulce, estavam sendo analisadas pelo Vaticano, com vista no processo de
canonização da religiosa. Esses três casos foram enviados ao Vaticano
pelas Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), em 2014, após análise de
profissionais da própria instituição. O segundo milagre que foi
reconhecido agora, no entanto, ainda não foi divulgado.
Processo de canonização
Após
a beatificação da freira, iniciou-se o processo para buscar a
canonização, quando a pessoa passa a ser considerada santa pela Igreja
Católica. Para a beatificação, é necessária comprovação de um milagre,
que no caso de Irmã Dulce ocorreu em outubro de 2010.
Já
para a canonização, é preciso que o Vaticano reconheça mais um milagre,
com a exigência de que esse milagre tenha ocorrido após a beatificação,
o que foi reconhecido agora.
O Vaticano tem quatro exigências
quanto à veracidade da graça, até ser considerada milagre: ser
preternatural (a ciência não consegue explicar), instantâneo (acontecer
imediatamente após a oração), duradouro e perfeito.
Frei Galvão,
conhecido pelas pílulas milagrosas que, segundo a fé católica, têm poder
de cura e que nasceu em 1739, em Guaratinguetá, no interior de São
Paulo, foi o primeiro santo nascido no Brasil a ser canonizado, em 11 de
maio de 2007, pelo então Papa Bento XVI.
Madre Paulina, que
morava em Santa Catarina, também foi canonizada e ficou conhecida como a
primeira santa do Brasil. Ela, no entanto, nasceu na Itália e só veio
morar no país com a família aos 10 anos. Com isso, Irmã Dulce se tornará
a primeira santa nascida no Brasil.
Primeiro milagre reconhecido
A
primeira graça de Irmã Dulce reconhecida como milagre, e que
possibilitou a sua beatificação, pelo vaticano ocorreu em 2001, nove
anos após a morte de Irmã Dulce. Foi um caso de pós-parto de uma
moradora da cidade de Malhador, no interior de Sergipe.
De
acordo com o médico Sandro Barral, um dos investigadores e peritos que
confirmaram o milagre, a paciente apresentava um quadro de forte
hemorragia não controlável. Em um período de 18h, a mulher chegou a
passar por três cirurgias, mas o sangramento não cessava. Contudo, sem
nenhuma intervenção médica, e após pedir a intercessão de Irmã Dulce, a
hemorragia subitamente parou e a paciente se recuperou.
De acordo
com informações da Osid, a abertura do processo de beatificação começou
em 17 de janeiro de 2000. No ano seguinte foi anunciada a graça, e em
2002 o processo foi levado para análise do Vaticano. A Congregação para a
Causa dos Santos do Vaticano reconheceu o milagre em 26 de outubro de
2010.
Em
22 de maio de 2011, foi realizada no Parque de Exposições de Salvador a
cerimônia de beatificação de Irmã Dulce, que passou a ser chamada como
“Bem-aventurada Dulce dos Pobres”.
Na cerimônia, foi lido o
decreto apostólico do então Papa Bento XVI inscrevendo Irmã Dulce na
lista dos santos e beatos da Igreja Católica, propondo-a como exemplo
cristão para todos os fiéis.
História e legado
Irmã Dulce,
cujo nome de batismo era Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, é
recordada por sua obras de caridade e de assistência aos pobres e
necessitados. Religiosa da Congregação das Irmãs Missionárias da
Imaculada Conceição da Mãe de Deus, a beata nasceu em Salvador em 26 de
maio de 1914.
Desde
cedo manifestou interesse pela vida religiosa. Aos 13 anos de idade,
passou a acolher mendigos e doentes em sua casa, transformando a
residência da família – na Rua da Independência, 61, no bairro de Nazaré
– em um centro de atendimento. A casa ficou conhecida como “A Portaria
de São Francisco”, por conta do grande número de carentes que se
aglomeravam a sua porta.
Em 1933, a jovem ingressou na Congregação
das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no
Convento de Nossa Senhora do Carmo, cidade de São Cristóvão, em Sergipe.
No mesmo ano recebeu o hábito e adotou o nome de Irmã Dulce, em
homenagem à sua mãe, que se chamava Dulce Maria de Souza Brito Lopes
Pontes e morreu quando a freira tinha 7 anos.
No ano de 1935, já
de volta a Salvador, dava assistência à comunidade pobre de Alagados,
conjunto de palafitas que se consolidara na parte interna do bairro de
Itapagipe. Nessa mesma época, começa a atender também os operários que
eram numerosos naquele bairro, criando um posto médico e fundando, em
1936, a União Operária São Francisco – primeira organização operária
católica do estado, que depois deu origem ao Círculo Operário da Bahia.
Em
1939, Irmã Dulce invade cinco casas na localidade da Ilha do Rato, na
capital baiana, para abrigar doentes que recolhia nas ruas de Salvador.
Expulsa do lugar, ela peregrina durante uma década, levando os seus
doentes por vários locais da cidade.
Por fim, em 1949, Irmã Dulce
ocupa um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, após autorização
da sua superiora, com os primeiros 70 doentes. A iniciativa deu origem à
tradição propagada há décadas pelo povo baiano de que a freira
construiu o maior hospital da Bahia a partir de um simples galinheiro.
Já
em 1959, é instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce
(Osid), e no ano seguinte é inaugurado o Albergue Santo Antônio.
A
Osid atualmente é um dos maiores complexos de saúde com atendimento
100% gratuito do Brasil, com 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais
por ano a usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), entre idosos,
pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, pacientes
sociais, crianças e adolescentes em situação de risco social,dependentes
de substâncias psicoativas e pessoas em situação de rua.
Segundo a
instituição, nos últimos 25 anos a entidade contabiliza 60 milhões de
atendimentos ambulatoriais e mais de 280 mil cirurgias realizadas, o que
dá uma média de aproximadamente 30 cirurgias por dia.
Irmã Dulce faleceu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, em Salvador.
Fonte: G1
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