Progresso depende de menos desigualdade econômica, diz maioria dos brasileiros
Os dados são da segunda edição da pesquisa encomendada pela Oxfam Brasil – organização independente e sem fins lucrativos – ao Datafolha.
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A maioria dos brasileiros
(88%) diz que o progresso do país está diretamente ligado à redução da
desigualdade econômica entre ricos e pobres, e 94% concordam que os
imposto pagos pela população devem ser usados em benefício dos mais
pobres. Os dados são da segunda edição da pesquisa encomendada pela
Oxfam Brasil – organização independente e sem fins lucrativos – ao
Datafolha, divulgada nesta segunda-feira (8).
Questionados sobre a tributação, 77% dos entrevistados
defenderam o aumento dos impostos cobrados das pessoas muito ricas para
financiar políticas sociais, ante 71% em 2017, quando foi feita a
primeira pesquisa.
O
presidente do Conselho da Oxfam Brasil, Oded Grajew, diz que as pessoas
percebem que os impostos têm a ver com sua qualidade de vida e que é
preciso olhar para a tributação como uma forma de redistribuir renda.
Segundo Grajew, existe percepção de que há injustiça na distribuição
tributária e de que os ricos devem pagar mais: "É uma maneira também de
reduzir a desigualdade”, disse. Para ele, a pesquisa mostra descompasso
entre o que as pessoas consideram importante – a redução da desigualdade
como forma de progresso – e a existência de políticas públicas com esse
objetivo.
“Nas políticas públicas, não é um assunto que realmente
ganha relevância, que seja discutido como eixo central, e que devia
ser, porque o Brasil é o nono país mais desigual do mundo. Todos os
países que melhoraram de vida, que têm qualidade de vida, todos eles,
sem exceção, têm a redução da desigualdade como eixo central das
políticas públicas”, afirmou Grajew.
Ele exemplificou com a
discussão em torno das reformas fiscal e da Previdência. “A única coisa
que se fala na reforma da Previdência é reduzir o déficit público, mas
não se fala da redução ou do aumento da desigualdade. Quando se fala de
reforma fiscal e tributária, fala-se da simplificação e não se fala da
forma de se redistribuir a renda.” Grajew lembrou que a Constituição
brasileira, na primeira página, diz que o dever do Estado é reduzir
desigualdades e que isso não está sendo levado em consideração.
A
faxineira Ana Rodrigues apontou desigualdade nas oportunidades que tem o
jovem que nasce na periferia e o que nasce em um bairro mais rico. “Tem
mais pobre do que rico. Muito pobre. Brasil é um país de desigualdade.
Os ricos têm mais chance, pobre não tem chance, não”.Ao calcular quanto
custa viver na capital paulista, Ana disse que, para sair da pobreza, a
renda do trabalhador precisa chegar a R$ 2 mil. “Para deixar de ser
pobre, uma pessoa tem que ganhar uns R$ 2 mil e pouco, pelo menos, para
comer. Aí dá para comer, mas salário mínimo não dá, não”, afirmou a
faxineira.
A pesquisa mostrou também a baixa adesão dos
entrevistados ao projeto de um Estado Mínimo para o Brasil, já que 84%
consideram obrigação dos governos diminuir a diferença entre os muito
ricos e os muito pobres - em 2017, o percentual estava em 79%. Além
disso, 75% das pessoas consultadas, apoiam a universalidade do ensino
público fundamental e médio, e 73% defendem a universalidade para
atendimento em postos de saúde e hospitais.
Para Oded Grajew, a
percepção de que o Estado é responsável pela redução da desigualdade é
um sinal positivo, já que o Estado tem essa função de regulação. “O
Estado nasceu para isso. Você tem um mercado em que impera a lei do mais
forte e, se deixar solto, aumenta a desigualdade. O Estado nasceu
exatamente para reequilibrar a sociedade, para fazer uma sociedade mais
justa, por meio das políticas públicas, da educação pública de qualidade
para todos, de saúde, de habitação e da política econômica.”
“Quem
precisa do Estado são as pessoas mais pobres, que não têm dinheiro para
pagar por um serviço particular. Quem usa o SUS [Sistema Único de
Saúde], a escola pública, a segurança pública, são as pessoas de menor
renda. O mercado é importante, mas precisa de regulação do Estado, é
preciso que o Estado faça com que o mercado atenda às necessidades da
população”, acrescentou.
De acordo com o vendedor de milho José
Bonifácio Santana, o Brasil é um país desigual e discrimina mulheres e
negros. “Escuto falar muito sobre isso. Tem ainda essa diferença. Tem
muita gente que, por causa da cor da pele, [é discriminada]. E, na
verdade, nós somos todos iguais.” Para reduzir a desigualdade entre
ricos e pobres, Santana disse que é preciso investir em educação, em
primeiro lugar. Em seguida, em saúde e emprego. “Arrumar um jeito de
abrir as portas do emprego.”
Ainda segundo a pesquisa, 64% dos
brasileiros afirmam que as mulheres ganham menos só pelo fato de serem
mulheres – em 2017, eram 57%. Já aqueles que concordam que a cor da pele
interfere no nível de rendimentos aumentou de 46% para 52% no mesmo
período.
Em relação à raça e gênero, Oded Grajew ressaltou que os brasileiros
têm percepção de que há diferenciação contra mulheres e negros, e é
importante que a discriminação não seja encarada como normalidade.“As
coisas só mudam quando as pessoas acham que aquilo não é normal. Quando
havia escravidão, as pessoas achavam que aquilo era normal. As mulheres
não votarem era normal. [Só teve mudança] quando houve uma percepção de
que não era normal. É normal você ter 20 ministros homens, duas mulheres
e nenhum negro, quando a maioria da população brasileira é mulher e
negra? Isso seria inconcebível em qualquer país”, afirmou.
Economia ao Minuto
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