Comissão de Constituição e Justiça aprova admissibilidade da reforma da Previdência por 48 votos a 18
A reforma do presidente Jair Bolsonaro chega agora na comissão especial sob pressão dos partidos do Centrão para novas mudanças

© Najara Araújo/Câmara dos Deputados
Depois de 62 dias do envio
da reforma da Previdência, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da
Câmara deu o sinal verde para a proposta do governo, que segue agora
para análise de mérito na comissão especial. A admissibilidade foi
aprovada por 48 votos a 18. A aprovação foi sucedida de comemoração dos
governistas e vaias da oposição.
A tramitação na CCJ, que analisa a constitucionalidade do
texto, durou mais tempo do que o governo esperava, o que obrigou a
equipe econômica a ceder pontos já na largada.
Apesar das
negociações, a proposta aprovada ainda preserva a economia de R$ 1,1
trilhão estimada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
O
governo Michel Temer levou apenas 10 dias para passar a sua proposta de
reforma na CCJ. A reforma do presidente Jair Bolsonaro chega agora na
comissão especial sob pressão dos partidos do Centrão para novas
mudanças. Foram as lideranças do Centrão que conseguiram negociar as
quatro alterações no texto, ameaçando barrar a votação.
A batalha
da votação durou mais de oito horas, com uma sequência de pedidos de
requerimento dos deputados da oposição para protelar a discussão. A
líder da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), chegou a apresentar
requerimento ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com
assinaturas para suspender por 20 dias a tramitação alegando a
necessidade de o governo enviar os números do impacto da proposta.
Com
o resultado, a oposição disse que buscará anular a votação,
classificada de "fraudulenta" pelo líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente
(SP). Mesmo com a derrota, Feghali disse que essa foi apenas a primeira
batalha. "Ri melhor quem ri por último", disse Jandira. "O povo vai
para a rua, essa proposta está sendo votada ao arrepio da Constituição",
afirmou a líder.
A estratégia dos oposicionistas foi a mesma
usada nas outras sessões, marcadas por tumulto e gritarias. Dessa vez,
porém, o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), foi bem mais
duro na condução dos trabalhos e impediu que a votação fosse suspensa.
Apesar dos apelos da oposição, Francischini continuou a votação sem
levar em conta o pedido.
"Não apontem o dedo para mim que não sou
moleque!", reagiu Francischini, no momento mais tenso, à ação das
deputadas Maria do Rosário (PT-RS), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Erika Kokay
(PT-DF) e Taliria Petrone (PSOL-RJ), que o cercaram o na mesa da CCJ.
Um novo tumulto se formou, mas Francischini conseguiu segurar a pressão
com uma posição combativa.
No plenário, governistas gritavam: "Não
se deixe intimidar, senhor presidente. Reaja com o regimento". A líder
do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), aos gritos, dizia
para o presidente da CCJ: "Chame a polícia".
Joice quase provocou a retirada do DEM da votação depois de um discurso inflamado.
"Mais
uma fala do governo e o DEM se retira da votação", avisou o deputado
Arthur Oliveira Maia (DEM-BA). Ele e outros parlamentares da base
ficaram irritados porque não é primeira vez que Joice quebra acordo da
base para que os deputados não usassem tempo de fala na sessão, com o
objetivo de agilizar os trabalhos. A líder do governo acusou os
oposicionistas de fazer conversa fiada e de serem "paladinos da
calculadora previdenciária".
O líder da maioria na Câmara,
Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), avisou que os parlamentares se articularão
para retirar, na comissão especial, as regras de aposentadoria rural e
mexer na proposta do BPC, benefício assistencial para baixa renda.
Troca-troca
Para
garantir a aprovação da reforma, alguns titulares contrários ao texto
do governo Jair Bolsonaro foram substituídos por outros correligionários
a favor da proposta. Um deles foi o deputado Reinhold Stephanes
(PSD-PR) que estava como suplente e foi colocado como titular.
Num
ato falho, o vice-líder do governo na Câmara Darcísio Perondi (MDB-RS)
disse que a maior parte do impacto de R$ 1,1 trilhão afetaria os mais
pobres - contrariando o discurso do governo que a maior contribuição
virá dos mais ricos e privilegiados. A reação da oposição foi imediata,
que se levantou para aplaudir o deputado governista. Eles também
bradaram "Perondi, Perondi!" em coro.
Em meio à votação na CCJ, o presidente Jair Bolsonaro foi cobrado a
renunciar à aposentadoria especial da Câmara a que tem direito.
Bolsonaro, que foi deputado por 28 anos, tem direito à aposentadoria,
mas ainda não fez o pedido. Ele poderia acumular o benefício com o
salário de presidente da República. A cobrança foi feita pela deputada
Clarissa Garotinho (PROS-RJ).
Notícias ao Minuto
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