Odebrecht tinha 'bunker da propina' em São Paulo para armazenar notas de dinheiro
Uma planilha mostra que R$ 15,5 milhões foram coletados em um prédio na Avenida Faria Lima
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Uma sala comercial no
terceiro andar de um prédio na Avenida Faria Lima, principal corredor
financeiro de São Paulo, serviu como "bunker" para armazenar notas de
dinheiro obtidas por doleiros com lojistas chineses da região da Rua 25
de Março para a Odebrecht pagar propina e caixa 2 a políticos e agentes
públicos na capital paulista.
Planilha da transportadora de valores Transnacional, usada
pela empreiteira no esquema, mostra que R$ 15,5 milhões foram coletados
no endereço e levados até a sede da empresa, na Vila Jaguara, em 37
viagens feitas entre setembro de 2014 e maio de 2015. Nos dias seguintes
às retiradas de dinheiro, os valores eram entregues por policiais
militares à paisana aos intermediários dos políticos em residências,
escritórios e quartos de hotéis.
Neste domingo, o jornal O Estado de S. Paulo
revelou que a mesma planilha indica que ao menos 187 entregas de
dinheiro programadas pela Odebrecht foram efetivadas pela Transnacional.
Os pagamentos, cujas datas, valores e senhas coincidem com as que
aparecem nas planilhas do doleiro Álvaro José Novis e da própria
empreiteira, estão relacionados a 57 codinomes criados pelos
ex-executivos da empresa para ocultar a identidade do beneficiário final
da propina. O documento obtido pela reportagem está sob sigilo por
decisão do Supremo Tribunal Federal.
Na planilha, as retiradas de
dinheiro no "bunker" da Faria Lima, cujos valores variavam de R$ 120 mil
a R$ 1,2 milhão, eram feitas com uma pessoa chamada Walter.
Investigações feitas pelo Ministério Público Federal do Rio descobriram
que a sala comercial havia sido alugada pelos doleiros Cláudio Fernando
Barboza, conhecido como "Tony", e Vinícius Claret, o "Juca Bala", presos
em 2017 pela Lava Jato acusados de atuarem no esquema de lavagem de
dinheiro do ex-governador Sérgio Cabral (MDB).
Após firmar acordo
de delação premiada, a dupla relatou que alugou o espaço para armazenar o
dinheiro que o doleiro chinês Wu Yu Sheng arrecadava com comerciantes
da região da 25 de Março, maior centro de compras de São Paulo, para
alimentar o esquema da Odebrecht ou para repatriação ilícita de dólares
acumulados no exterior por outros clientes.
O chinês, que se mudou
para Miami (EUA) após a deflagração da Lava Jato e ainda está foragido,
foi apresentado pelos próprios executivos da Odebrecht à dupla de
doleiros em 2010, em Montevidéu, no Uruguai, pela facilidade em
conseguir dinheiro em espécie. Na prática, Sheng vendia para a
empreiteira os reais arrecadados em espécie na 25 de Março e recebia o
pagamento em dólares em contas bancárias em Hong Kong, por meio de
transações feitas por offshores. Nas planilhas da Odebrecht ele era
identificado com o codinome "Dragão".
Tony e Juca Bala, por sua
vez, tinham reconhecida estrutura logística de armazenamento e
distribuição de dinheiro no Brasil. Segundo eles, a parceria com o
chinês teve início em agosto de 2010 e movimentou cerca de US$ 210
milhões até 2016. As entregas do dinheiro arrecadado com os lojistas
eram feitas por três funcionários de Sheng no bunker da Faria Lima e
chegavam a R$ 1 milhão por dia no auge dos pagamentos de propina.
Os
valores eram recebidos por um funcionário dos doleiros chamado Walter
Mesquita, o mesmo que depois entregava o dinheiro para a Transnacional.
Hotéis
Em
depoimento ao Ministério Público, Mesquita disse que no início Sheng
pedia que os recursos fossem recolhidos diretamente pela transportadora
em um bunker mantido por ele na Rua Barata Ribeiro, região central, mas
que, após sofrer um assalto, o chinês parou de ter endereço fixo e
passou a fazer entregas em hotéis ou salas alugadas pelos doleiros.
Na
planilha da Transnacional, o nome Walter aparece ainda ao lado de
outros seis endereços de hotéis e flats nos bairros Itaim-Bibi e Jardins
onde a transportadora recolheu mais R$ 8,9 milhões do esquema operado
pelos doleiros Tony, Juca Bala e Sheng para a Odebrecht. Já as entregas
do dinheiro eram programadas por Álvaro José Novis, segundo a
investigação.
O documento da transportadora mostra ainda outros endereços de coleta
de dinheiro com nomes diferentes de entregadores. Na lista há três
sedes de empresas do setor têxtil nas regiões do Brás e da Barra Funda,
uma empresa de cartões no Jardim Jaraguá e até uma casa na Vila
Madalena.
Notícias ao Minuto com informações são do jornal O Estado de S. Paulo
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