Há 40 anos, Pelé vestiu a camisa 10 do Flamengo e negou cobrar pênalti no Maracanã
Pergunte
a qualquer torcedor que não o do Santos se ele não gostaria de ter
visto Pelé com a camisa de seu clube do coração. Há 40 anos, os
flamenguistas puderam matar essa curiosidade em um jogo beneficente
realizado no Maracanã.
No dia 6 de
abril de 1979, Flamengo e Atlético-MG entraram no gramado do estádio
Mário Filho para um amistoso em prol das vítimas das enchentes que
assolaram Minas Gerais entre janeiro e fevereiro daquele ano. Após mais
de 35 dias seguidos de chuva, 246 pessoas morreram.
Na
escalação rubro-negra, Zico apareceu com a camisa 9. A 10, claro, foi
concedida a Pelé, atração principal mesmo aos 38 anos e aposentado do
futebol há dois.
Era tanta a
expectativa para ver o Rei atuando no time de maior torcida do Brasil
que até o então presidente do país, João Figueiredo, que havia acabado
de assumir o governo, foi à partida junto de uma comitiva de 12
ministros.
“Pois doze ministros são
uma dúzia deles e o Ministério, no total, tem pouco mais do que isso”,
dizia editorial na página 2 da Folha de S.Paulo no dia seguinte ao jogo,
com foto e destaque para o amistoso na capa do jornal. Na época, eram
16 as casas que compunham o Ministério.
Quem
também não queria perder a chance de estar perto de Pelé eram os
jogadores do Flamengo. Para que o Rei entrasse no time, alguém
precisaria sair. E a dúvida sobre quem deveria ceder a vaga rendeu boas
discussões entre os rubro-negros.
“Eu
não corria muito risco porque jogava pela direita e ninguém atuava como
eu, que atacava e voltava marcando. O Zico tinha que jogar e foi para
frente. O Carpegiani era o capitão e tinha o Andrade. Acabou sobrando
para o Adílio”, lembra em entrevista à reportagem o meia Tita, titular
naquele amistoso.
Andrade foi outro
que fez questão de apontar sua importância no aspecto tático. Afinal,
com Pelé já aposentado, alguém precisaria marcar no meio de campo.
“No
meu lugar ele não vai jogar, ele não é volante. E o Júlio César falou:
‘Ele não joga de ponta esquerda, no meu lugar também não vai'”, recorda.
Houve
disputa até para sair na foto que o elenco tirou um dia antes do jogo.
Júlio César, ponta-esquerda, geralmente saía longe do centro nas
fotografias do time. Porém, com Pelé no meio de todos, o jogador deu um
jeito de sair ao lado do ídolo, empurrando Carpegiani para o lado.
A
solução para definir o preterido na escalação inicial acabou surgindo
de maneira fortuita. Adílio se machucou às vésperas da partida, em
treinamento na Gávea, e abriu a vaga para Pelé.
“O
Adílio caiu no campo e o médico veio correndo. Quando o Adílio disse
que não era nada, o médico tapou a boca dele e ainda mandou: ‘Engessa
ele! Engessa ele!'”, conta Andrade, aos risos.
A
equipe do Flamengo foi formada naquele 6 de abril com Cantareli;
Toninho, Rondinelli, Manguito e Junior; Carpegiani, Andrade, Pelé e
Zico; Tita e Júlio César.
O
Atlético-MG atuou com João Leite; Alves, Luizinho, Osmar e Hilton
Brunis; Toninho Cerezo, Paulo Isidoro e Marcelo Oliveira; Serginho,
Dario e Ziza.
Foram 139.953 pessoas
ao Maracanã para ver Pelé e Zico juntos. “Sei que por minha causa não
é”, disse Figueiredo. Quem também pôde assistir à dupla foram os outros
20 jogadores em campo, espectadores de luxo de um acontecimento
histórico.
“Eu posso dizer que foi o
jogo mais importante da minha vida. Eu me senti um torcedor privilegiado
dentro do gramado vendo Pelé e Zico barbarizarem”, afirma Dario, o Dadá
Maravilha, atacante do Atlético-MG e campeão do mundo com Pelé, em
1970, além de campeão carioca com Zico, no ano de 1974.
“Foi
um dos grandes momentos da minha carreira. Eu era garoto, tinha 21
anos. O Pelé e o Zico foram meus dois grandes ídolos”, diz Tita, que
chegou a fazer uma tabela com Pelé antes de cruzar para Zico, que
cabeceou por cima.
O Rei atuou apenas
os primeiros 45 minutos. E quem saiu na frente foram os atleticanos,
com gol de Marcelo Oliveira, hoje treinador, à época cabeludo.
O
empate veio ainda na primeira etapa, com Zico. Luizinho fez pênalti em
Tita. “O Zico pegou a bola e deu para o Pelé bater”, afirma o meia, mas o
Rei se recusou e devolveu a bola ao ídolo flamenguista, que deixou tudo
igual.
No intervalo, Pelé deu lugar
lugar a outro Luizinho, este do Flamengo, que marcaria um dos gols da
goleada por 5 a 1. Os outros seriam de Zico, que anotou três naquela
noite de abril, e de Cláudio Adão, que entrou justamente no lugar do
Galinho.
Apesar dos cinco gols sofridos, o goleiro atleticano João Leite carrega importantes recordações daquele 5 a 1.
“Eu
estava noivo da Eliana Aleixo, que era capitã da seleção brasileira de
vôlei e estava concentrada no Rio na preparação para o Pan de Porto Rico
(em 1979). Eu a chamei para assistir ao nosso jogo, aí perdemos feio.
Ainda bem que ela levou na boa. Já estamos casados há 40 anos, com três
filhos e três netas”, conta Leite, hoje deputado estadual pelo PSDB em
Minas Gerais.
Andrade tirou uma foto
com Pelé no dia do jogo e eternizou o momento em um quadro que ficou por
muito tempo na casa de sua mãe, em Juiz de Fora-MG. Depois que ela
morreu, levou a foto para a parede de sua casa, no Rio.
“Quem
não queria naquela época jogar ao lado do Pelé? Era uma oportunidade
única. Daqui 30 anos, um dia vou lembrar que joguei ao lado do melhor
jogador do mundo”, completa o volante.
Fonte: Noticias ao minuto - Publicado por: Suedna Lima
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