Ciro Gomes e Geraldo Alckmin atacam Jair Bolsonaro em palestra nos Estados Unidos
Candidatos
à presidência no último pleito, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin
(PSDB) criticaram o governo Jair Bolsonaro (PSL) ontem à noite durante
um debate nos EUA. Ambos destinaram suas artilharias à política externa
do governo e à falta de articulação política no Congresso – pauta que
ganhou força nessa semana com as reuniões de Bolsonaro com líderes do
que classifica de “velha política”.
Terceiro colocado nas
eleições, Ciro classificou a aproximação do Brasil com os Estados Unidos
de “vassalagem nojenta” e disse que a proposta de mudar a embaixada
brasileira em Israel partiu de um acordo com os “sionistas radicais”.
“Ninguém
nunca tocou nesse assunto, a não ser os acordos clandestinos com o
sionismo radical. E essa vassalagem nojenta com o governo de Trump (…)
os filhos [de Bolsonaro] só faltaram voar na braguilha do Trump. Eles
estão mexendo com coisa séria, estamos perdendo mercado”, disse Ciro
durante conversa no Brazil Conference, em Boston, que contou ainda com o
ex-ministro Henrique Meirelles (MDB).
Questionado sobre o papel
dos filhos do presidente no debate e na vida política do país, o
ex-governador do Ceará disse “são um bando de deslumbrados, filhos de um
traidor da pátria entreguista”.
“O Brasil optou por um idiota,
não no sentido do palavrão e sim como está no dicionário, uma pessoa com
incapacidade de pensar no abstrato”, afirmou.
Alckmin endossou as
críticas ao estreitamento de laços entre o Brasil e os
norte-americanos, também fazendo referência indireta ao caso da
embaixada em Israel. A proposta, defendida diversas vezes por Bolsonaro,
perdeu força com a abertura de um escritório comercial do país em
Jerusalém, mas ainda assim refletiu negativamente nas relações com os
países árabes e muçulmanos.
Com
a inauguração do escritório, o Brasil corre o risco de ser preterido
nas exportações de e carne bovina, frango, soja e milho.
“Você
entrar de uma maneira caudatária na política do Trump, criando sem
necessidade um atrito com os países árabes, um atrito com o setor mais
importante, mais dinâmico do Brasil que é o agronegócio, é
inadmissível”, disse Alckmin
Para Alckmin, as diretrizes tomadas
na política externa brasileira são “totalmente erráticas”. O
ex-governador de São Paulo atacou o distanciamento para com a China – o
maior parceiro comercial do país.
“O mundo hoje é asiático, esse continente é um grande centro econômico, e a China é o maior parceiro do Brasil”, disse.
“Agenda velhíssima” e Previdência
No
começo do debate, Alckmin elencou pautas que, em sua visão, seriam
secundárias ao país e estariam tirando atenção das questões que deveriam
ser discutidas na vida pública. Para o presidente do PSDB, houve ainda
um “derretimento muito rápido” do governo em pouco mais de três meses.
“Estão
discutindo se o nazismo é de esquerda ou de direita, se o golpe foi
golpe ou não foi golpe, é uma agenda velhíssima”, afirmou. Alckmin
entrou ainda na seara da “velha política” – termo recorrente nos
discursos e explanações de Bolsonaro. “Não existe essa de nova e velha
política”, disse e, mais tarde, sentenciou: “Problema do governo hoje no
Brasil é a intolerância, a postura sectária, é o PT invertido.”
No
ano passado, nomes de peso do PSDB, como o governador João Doria, já
haviam dado a entender que a sigla não seria base do governo de
Bolsonaro,tampouco faria parte do governo aceitando cargos. Na noite de
hoje, Alckmin reiterou o posicionamento que já havia esclarecido para
Bolsonaro.
“Nós,
do PSDB, não vamos fazer parte do governo, não vamos aceitar cargo no
governo, não vamos compor a base. Vamos votar os projetos do país de
maneira coerente. (…) Precisamos recuperar a política como arte e
ciência, política com ‘p’ maiúsculo que vai resolver nossos problemas e
estimular a democracia”, disse o tucano.
Ciro, por sua vez, falou
sobre as dificuldades do Congresso aprovar a reforma da Previdência nos
moldes apresentados pelo governo. “O Brasil é muito diferente, eu não
posso comparar a idade mínima de quem vive no sertão nordestino, ela não
vive até os 62 anos (…) Desse jeito que está, nós vamos votar não, mas
se houver diálogo, pode ser diferente.”
“Um policial ir atrás de
bandido por 40 anos, um professor trabalhar por 40 anos para se
aposentar. Onde existe isso no mundo?”, criticou Ciro.
Apesar de
ser favorável à reforma da Previdência, Alckmin tocou num dos pontos
mais delicados da proposta – a aposentadoria dos militares. “Hoje o
déficit per capita por ano da aposentadoria dos militares é R$ 125 mil.
Você vai fazer uma reforma só em cima do trabalhador pobre do INSS?
Precisa também ter justiça social”, questionou o ex-governador,
arrancando aplausos.”
Fonte: UOL - Créditos: Alex Tajra
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