Governador do Rio de Janeiro sonha com Palácio do Planalto e tenta se descolar de Bolsonaro
O descolamento também ficou evidenciado nas articulações que levaram, no mês passado, à eleição do petista André Ceciliano à presidência da Alerj
Uma amostra desse afastamento está na decisão de tirar a
articulação política das mãos do ex-juiz de futebol Gutemberg de Paula
Fonseca.
Amigo de Bolsonaro e indicado pelo senador Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ) para a Secretaria de Governo do Estado, Gutemberg
deverá ser substituído pelo atual chefe de gabinete de Witzel, Cleiton
Rodrigues, que é ligado ao ex-governador Anthony Garotinho (PRP).
O
descolamento também ficou evidenciado nas articulações que levaram, no
mês passado, à eleição do petista André Ceciliano à presidência da Alerj
(Assembleia Legislativa do Rio).
Juiz federal até março de 2018 e
praticamente desconhecido no começo da campanha, Witzel foi eleito com
discurso semelhante ao de Bolsonaro, especialmente de linha dura na
segurança.
Defendeu abertamente que policiais tenham autorização
para matar qualquer pessoa que portasse um fuzil, ainda que não
posicionado para atirar – prática que chamou de "abate".
Contou com forte apoio de Flávio Bolsonaro e conquistou no segundo turno 59,87% dos votos válidos.
Ao
anunciar o nome do ex-juiz de futebol Gutemberg de Paula Fonseca para
integrar seu governo, Witzel enfatizou seus vínculos: "Gutemberg conhece
muito bem a família Bolsonaro. Ele está apto a fazer essa arbitragem no
campo político também".
Prestes a assumir a tarefa de articulador
político do governo do Rio, Cleiton foi coordenador das campanhas de
Garotinho nas eleições de 2014 e 2018.
Witzel chegou a convidar o
deputado federal Wladimir Garotinho (PRP), filho de Anthony Garotinho, a
se filiar ao PSC. Wladimir conta ter sido convidado por Witzel já
durante a montagem de seu governo. Mas, após reavaliarem o cenário
político, Wladimir se filiou ao PSD.
"Na verdade foi melhor assim,
para ampliar as perspectivas. Mas tudo foi feito em diálogo com as
mesmas pessoas desde o início das tratativas do PSC", diz Wladimir.
Segundo
deputados, Cleiton já assumiu, informalmente, a articulação na costura
do acordo que garantiu a eleição de um petista à presidência da Alerj.
Com
as bênçãos de Witzel, o líder do governo na Alerj, Márcio Pacheco
(PSC), retirou sua candidatura à presidência da Assembleia em apoio à
eleição do petista André Ceciliano.
Nesse movimento, 7 dos 12
deputados estaduais do próprio PSL se abstiveram na eleição do
presidente da Alerj, facilitando a eleição de Ceciliano por 49 votos a
favor, 7 contra e 8 abstenções.
Pelo acordo firmado entre
emissários do governador e Ceciliano, o deputado Rodrigo Amorim (PSL)
- que é amigo do governador - foi agraciado com a presidência da Comissão
de Constituição e Justiça da Casa.
O apoio informal à candidatura
de Ceciliano provocou um racha dentro do PSL. Os que votaram contra a
eleição do petista reivindicaram o título de legítimos defensores de
Jair Bolsonaro.
Não está descartada uma futura migração de deputados eleitos pelo PSL para o PSC de Witzel.
Embora
seja do PSC, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente da
República, foi às redes sociais protestar contra a atuação dos deputados
do PSL, que é presidido pelo próprio irmão, o senador Flávio Bolsonaro.
"O
que leva um deputado estadual do PSL que se elegeu graças a Jair
Bolsonaro a se abster na votação da presidência da Alerj tendo uma
eleição de chapa única do PT?", publicou Carlos.
Apesar de eleito
na onda Bolsonaro e de suas afinidades políticas com ele, Witzel demarca
suas diferenças quando, por exemplo, fez críticas às propostas
apresentadas pelo presidente durante uma reunião com os governadores.
No
dia 20 de janeiro, à saída da reunião com o presidente, Witzel afirmou,
sem fazer qualquer promessa de apoio, que seria "muito difícil" aprovar
a reforma da Previdência proposta por Bolsonaro.
Além de apontar
dificuldades, Witzel já declarou que caberia aos governadores
reivindicar ações do governo para a recuperação fiscal dos estados.
Em
seu discurso durante a cerimônia de posse do presidente da Petrobras,
Roberto Castello Branco, na sede da empresa, por exemplo, Witzel deixou
claro que brigará pela manutenção de maior repasse de recursos para os
estados produtores de petróleo, hoje objeto de briga entre o governo do
Rio e a União.
Esse
esforço de construção de uma identidade própria requer movimentos
cuidadosos, já que o governador de um estado assolado pela crise, como é
o caso do Rio, precisa da boa vontade do presidente da República.
Além
disso, o futuro político de Witzel depende do sucesso de seu governo.
Em conversas, Witzel não esconde o desejo de concorrer à Presidência e
tem no presidente do PSC, o pastor Everaldo Dias Pereira, um de seus
incentivadores.
O governador do Rio admite, no entanto, que seu projeto fracassará
sem resultados concretos à frente do estado - e que teria um longo
caminho pela frente.
Política ao Minuto
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