Ex-presidente Michel Temer deve ser ouvido por delegado considerado seu 'maior inimigo'
A rodada de oitivas terá a presença do delegado da Polícia Federal Cleyber Malta

© Marcos Corrêa/PR
CAMILA MATTOSO E CATIA
SEABRABRASÍLIA, DF, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Os dez
investigados presos pela Lava Jato devem prestar depoimentos na manhã
desta sexta-feira (22). A rodada de oitivas terá a presença do delegado
da Polícia Federal Cleyber Malta, eleito por Michel Temer como seu maior
inimigo há cerca de um ano e meio.
Pela programação anunciada pela PF, Malta chega ao Rio por
volta de 9h30 e vai colher o depoimento do ex-presidente, preso nesta
quinta-feira (21).
A assessoria jurídica do político foi surpreendida com a informação nesta manhã e vai tentar evitar que ele seja ouvido.
O
delegado investiga Temer desde o fim de 2017, quando o STF (Supremo
Tribunal Federal) autorizou a abertura do inquérito dos portos, sobre
propina no setor portuário.
Desde então, o emedebista não poupou Malta e diversas vezes o atacou ou criticou a apuração por ele conduzida.
O
inquérito foi finalizado e relatado no fim de 2018, com dez indiciados,
entre eles Michel Temer -que depois também foi denunciado pela
Procuradoria-Geral da República.
No período de quase um ano em que
foi alvo no caso dos portos, o ex-presidente se mobilizou nos
bastidores na tentativa de derrubar o delegado e, publicamente, fez
duros discursos.
Ele dizia ser alvo de perseguição por parte de Malta.
Em
janeiro de 2018, por exemplo, o emedebista escreveu que faltava isenção
e imparcialidade na condução do inquérito e que o policial havia
faltado com respeito e tinha sido agressivo.
A mensagem de Temer fazia referências às 50 perguntas enviadas a ele pela PF, sobre portos.
A lista de questionamentos foi assinada por Malta.
"Eminente
ministro, antes de prestar os esclarecimentos pertinentes a cada
questão, peço vênia para realçar, data vênia, a natureza ofensiva de
algumas delas. Na verdade elas denotam absoluta falta de respeito e de
urbanidade e principalmente ausência das necessárias imparcialidade e
isenção por parte de quem deve buscar a verdade real e não a confirmação
de uma imaginada responsabilidade", afirmou o político numa espécie de
introdução para Luis Roberto Barroso, relator do inquérito.
Já em
uma das respostas, Temer foi ainda mais incisivo: atacou a
"impertinência da pergunta" que, segundo ele, colocava "em dúvida" sua
"honorabilidade e dignidade pessoal". Em abril de 2018, entre diversas
críticas, o à época presidente fez um duro pronunciamento no Palácio do
Planalto e exigiu a abertura de apuração para saber sobre vazamentos do
inquérito.
A declaração foi feita em resposta à reportagem
publicada pela Folha que mostrava que a polícia suspeitava já naquele
momento que Temer tinha lavado dinheiro de propina.
Mesmo sem ter citado nominalmente Malta, o discurso foi interpretado pela PF como uma tentativa de constranger o delegado.
Em
junho do ano passado, a defesa do político chegou a cogitar um pedido
formal de afastamento do policial, mas acabou desistindo por achar que
não teria sucesso.
Apesar da ofensiva, Temer acabou indiciado no
inquérito e ainda sofreu outro revés: mesmo com duas mudanças na
direção-geral da PF, Malta continuou no grupo que investiga crimes de
políticos, e ainda foi promovido a chefe dessa equipe.
Por causa disso, o delegado coordenou a operação desta quinta-feira
(21). Ele estava em São Paulo, comandou as prisões, mas por decisão da
direção da PF, não participou pessoalmente da de Temer, com a finalidade
de evitar desgaste e exposição.
Notícias ao Minuto
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