Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia voltam a bater boca e agravam desgaste entre Poderes
Presidente voltou a fazer uma provocação ao deputado, que rebateu e disse que ele estava "brincando de presidir o país"

© Marcos Brandão/Senado Federal
BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO,
SP (FOLHAPRESS) - Em novo capítulo da crise política, o presidente Jair
Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
protagonizaram mais um embate público, agravando o mal-estar entre o
Executivo e o Legislativo.
Num contraponto à equipe ministerial e às lideranças do
governo, que passaram a quarta-feira (27) tentando arrefecer o clima de
incômodo e restaurar canais de diálogo, Bolsonaro voltou a fazer uma
provocação a Maia, o que irritou novamente o deputado federal.
Em
entrevista à TV Bandeirantes, o presidente disse que Maia foi infeliz ao
ter atacado o ministro da Justiça, Sergio Moro, e disse que o deputado
está "um pouco abalado com questões pessoais que vêm acontecendo" em sua
vida.
Bolsonaro fazia referência ao incômodo de Maia com os
pedidos de Moro para pautar o pacote anticrime e à prisão na semana
passada do ex-ministro da Secretaria-Geral Moreira Franco, sogro do
deputado.
"Não tenho problema algum com o Rodrigo Maia. Nada, zero
problema com ele. Ele está um pouco abalado por questões pessoais que
vêm acontecendo na vida dele", disse. "Ele foi infeliz. Pelo que vi, já
se acertou, quando fez uma crítica a Sergio Moro, dizendo que é meu
funcionário. Aquilo ele levou pancada da mídia."
Os
comentários de Bolsonaro tiveram reação imediata de Maia, que, pela
manhã, havia tentado colocar panos quentes na relação com o Planalto
após a aprovação de emenda constitucional que diminui o poder do
Executivo sobre as emendas de bancada.
O presidente da
Câmara disse que Bolsonaro está "brincando de presidir o país" e que
está na hora de ele "parar de brincadeira". Segundo ele, "abalados"
estão os brasileiros que aguardam que o governo federal "comece a
funcionar".
"São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de
brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza e o presidente brincando
de presidir o Brasil", afirmou. "Agora, está na hora de a gente parar de
brincadeira e está na hora de ele sentar na cadeira dele, de o
Parlamento sentar aqui e a gente resolver em conjunto os problemas do
Brasil", disse.
No final da tarde, em encontro com empresários em
São Paulo, Bolsonaro rebateu Maia em entrevista a redes autorizadas a
participar do evento - Bandeirantes, SBT, NBR, Record, Rede TV e TV
Cultura; a Folha de S.Paulo não foi incluída.
"Se foi isso mesmo
[que Maia falou] eu lamento, porque não é uma palavra de alguém que
conduz uma Casa. É uma irresponsabilidade. A nossa forma de governar é
respeitando todo mundo e o povo brasileiro. Não existe brincadeira da
minha parte, muito pelo contrário. Até quero acreditar que ele não tenha
falado isso", disse o presidente.
Ele disse ainda que há uma "tentativa de envenenar" sua relação com o Congresso.
O
governador de São Paulo, João Doria, também participou do encontro e
tentou apaziguar o conflito. "Esse é um momento de paz, de tolerância,
não é um momento de beligerância. Não é o momento de estabelecermos
cisões entre o Legislativo, o Executivo e nem o Judiciário."
O
presidente e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foram recebidos na
casa do empresário Elie Horn, fundador do grupo imobiliário Cyrela.
A
troca de farpas desanimou integrantes da equipe do presidente. Segundo
eles, Bolsonaro havia sido recomendado na terça-feira (26) que não
fizesse mais provocações a Rodrigo Maia para viabilizar um encontro entre ambos
em abril.
Nas palavras de um auxiliar palaciano, agora, a operação
para arrefecer a crise política "terá de ser reiniciada" e exigirá uma
participação maior de interlocutores do Planalto e de senadores aliados.
A avaliação foi de que as declarações ofuscaram a
fala pacificadora adotada nesta quarta-feira pelo ministro da Economia, Paulo
Guedes, na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).
Na entrevista à
TV Bandeirantes, o presidente disse que, na volta de viagem a Israel,
programada para a quinta-feira (4), ele encontraria Rodrigo Maia e acrescentou que
está com a mão "sempre estendida". "O que eu tenho feito de errado? Onde
tem um ataque meu ao Congresso Nacional e ao Rodrigo Maia? Não tem um
ataque."
À noite, o vice-presidente, Hamilton Mourão, tentou
arrefecer a polêmica. "Houve algum ruído na comunicação entre os dois.
Eu julgo que Rodrigo Maia é imprescindível no processo que estamos vivendo
atualmente no Brasil", disse, em referência à aprovação da reforma da
Previdência.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, minimizou a
troca de farpas. "O presidente Bolsonaro, ao longo de sua historia
política, sempre disse em algum momento sobre suas caneladas e ele,
naquela sua simplicidade que lhe é característica, diz: desculpa aí, ok?
Ele é assim. Eu acho que a gente precisa de um tempo de apaziguamento",
afirmou.
Política ao Minuto
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