Amigo de Michel Temer tentou esconder notebook debaixo do sofá no dia da prisão
A
força-tarefa da Lava Jato relatou ao juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara
Federal no Rio, que o empresário Vanderlei de Natale, amigo do
ex-presidente Michel Temer (MDB) e também alvo da Operação
Descontaminação, tentou ocultar um notebook no dia de sua prisão. O
equipamento foi encontrado debaixo do sofá na casa de Natale.
Outro
alvo da investigação, coronel João Baptista Lima Filho, o coronel Lima,
lançou mão da mesma estratégia para tentar despistar os investigadores
ao ocultar dois celulares sob a almofada do sofá.
O executivo foi
denunciado nesta sexta, 29, por suspeita de lavagem de dinheiro no
esquema de propinas sobre as obras da usina nuclear de Angra 3, no Rio.
Em cota da acusação formal, o Ministério Público Federal relata ao
magistrado que no dia 21, data da prisão dos alvos da Descontaminação,
‘foi identificada uma série de objetos materiais na casa’ de Vanderlei
de Natale, alvo também de mandado de busca e apreensão.
Segundo os procuradores, alguns dos objetos ‘poderiam ser de utilidade para a investigação’.
“Dentre
eles havia um notebook, marca Dell, cor prata, localizado no escritório
do denunciado. Como se sabe, muitas vezes computadores pessoais são as
melhores fontes de provas em investigações de crimes de colarinho
branco, como a que se trata, por trazerem documentos armazenados em sua
memória”, relatou o Ministério Público Federal.
A Lava Jato relatou que a Polícia Federal havia identificado um computador em um escritório.
Segundo
o Ministério Público Federal, o equipamento ‘foi retirado de lá por uma
funcionária doméstica de Vanderlei de Natale, chamada Valdete, e
escondido debaixo do sofá da casa, sendo encontrado pela equipe com a
continuidade das buscas’.
“Naturalmente, a funcionária Valdete, ao
tentar dificultar a coleta de provas pela equipe não agia apenas em
nome próprio, tendo sido provavelmente orientada por seu patrão,
Vanderlei de Natale para tanto”, avaliou a força-tarefa.
“Há
fortes indícios de tentativa de ocultação de provas de Vanderlei de
Natale, com o auxílio de sua funcionária Valdete, da equipe policial que
tinha mandado judicial específico para apreender estas mesmas provas, o
que ensejaria, por si só, a decretação da prisão preventiva do
denunciado, pela conveniência da instrução criminal.”
Entenda a denúncia contra Temer e seus aliados
O
Ministério Público Federal, no Rio, denunciou criminalmente nesta
sexta-feira, 29, o ex-presidente, o ex-ministro Moreira Franco e outros
investigados por supostos desvios de R$ 18 milhões nas obras da usina
nuclear de Angra 3.
A Procuradoria da República apresentou duas
acusações formais contra Michel Temer. Uma por corrupção e lavagem de
dinheiro e outra por peculato e lavagem de dinheiro.
Foram
denunciados também o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva,
ex-presidente da Eletronuclear, e suas filhas Ana Cristina da Silva
Toniolo e Ana Luiza Barbosa da Silva Bolognani, por evasão de divisas e
lavagem de dinheiro, em razão da manutenção em contas no exterior de
valores que chegam a 15 milhões de francos suíços (quase R$ 60 milhões).
Segundo a Lava Jato, os valores estão relacionados a atividades ilícitas.
Na
primeira denúncia, a força-tarefa da Lava Jato aponta que Temer,
Moreira Franco, o coronel reformado da Polícia Militar João Baptista
Lima Filho, o coronel Lima, Othon Luiz Pinheiro da Silva, Maria Rita
Fratezi, José Antunes Sobrinho, Carlos Alberto Costa, Carlos Alberto
Costa Filho, Vanderlei de Natale, Carlos Alberto Montenegro Gallo e
Carlos Jorge Zimmermann cometeram crimes de corrupção passiva, peculato
(apropriação de verbas públicas) e lavagem de dinheiro.
Segundo os
procuradores, os crimes envolvem a contratação irregular da empresa
finlandesa AF Consult Ltd, da Argeplan e da Engevix para a execução do
contrato de engenharia eletromecânico 01 da usina nuclear de Angra 3. Os
denunciados teriam se apropriado de quase R$ 11 milhões dos cofres
públicos.
A Lava Jato afirma que nesses pagamentos foram
realizadas lavagens de dinheiro por meio de pagamentos de empresas como a
Construbase Engenharia, que repassava valores para a PDA Projetos,
controlada pelo coronel Lima.
Os investigadores registram que o
beneficiário final era o ex-presidente. O almirante Othon e suas filhas
são acusados por ocultação de R$ 60 milhões no exterior.
Na
segunda denúncia, Temer, Moreira Franco, coronel Lima, Othon Luiz
Pinheiro da Silva, José Antunes Sobrinho, Maria Rita Fratezi, Carlos
Alberto Costa, Carlos Alberto Costa Filho e Rodrigo Castro Alves Neves
respondem pela contratação fictícia com a empresa Alumi Publicidades,
como forma de dissimular o pagamento de propina de cerca de R$ 1,1
milhão.
As denúncias serão analisadas pelo juiz Marcelo Bretas, da
7.ª Vara Federal do Rio, que mandou prender Michel Temer, Moreira
Franco e outros oito alvos da Descontaminação. Se o magistrado aceitar
as acusações, o ex-presidente responderá a ações perante a Justiça
Federal fluminense.
Temer foi preso dia 21 quando saía de casa em
São Paulo. O ex-presidente passou quatro dias recolhido na
Superintendência da Polícia Federal do Rio em uma sala de 46m². Na
segunda, 25, o desembargador Ivan Athié, do
Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2) mandou soltar o emedebista e outros sete alvos da Descontaminação.
Entenda a Descontaminação
A
operação que levou o emedebista à prisão está ligada a uma investigação
iniciada pela Procuradoria-Geral da República durante o período em que
Michel Temer ainda estava na presidência. Após o fim do mandato e a
perda do foro privilegiado, o inquérito foi transferido para a Lava Jato
Rio.
De acordo com o Ministério Público Federal, para a execução
do contrato de projeto de engenharia eletromecânico 01, a Eletronuclear
contratou a empresa AF Consult Ltd, que se associou às empresas AF
Consult do Brasil e Engevix. Controlam a empresa AF Consult do Brasil a
finlandesa AF Consult Ltd e a Argeplan, que tem como um dos sócios o
coronel Lima.
A Lava Jato aponta que a AF Consult do Brasil e a
Argeplan não tinham pessoal e expertise suficientes para a realização
dos serviços e, por isso, houve a subcontratação da Engevix, que era a
responsável por executar de fato o serviço. No curso do contrato,
destaca a Lava Jato, o coronel Lima solicitou ao sócio da Engevix o
pagamento de propina em benefício de Michel Temer.
As
investigações identificaram que que os pagamentos feitos à AF Consult do
Brasil envolveram a apropriação de R$ 10,859 milhões dos cofres
públicos. Segundo a Lava Jato, os pagamentos eram ‘totalmente
indevidos’, porque a empresa não possuía capacidade técnica nem pessoal
para a prestação dos serviços para os quais foi contratada.
Também
são parte da mesma denúncia atos de lavagem de dinheiro por meio da
transferência de mais de R$ 14 milhões através de contratos fictícios
entre a Construbase, de Vanderlei de Natale, e a PDA Projetos, de
Coronel Lima. A mesma denúncia também relatou uma ocultação de cerca de
R$ 60 milhões em contas na Suíça pelo almirante Othon Pinheiro e suas
filhas.
A
segunda denúncia trata da propina paga pela Engevix no final de 2014,
através de transferências, de cerca de R$ 1,091 milhão por meio da
empresa Alumi Publicidades.
Para justificar as transferências de
valores, foram simulados contratos de prestação de serviços da empresa
PDA Projetos, controlada por Coronel Lima, para a empresa Alumi, sem a
prestação dos serviços correspondentes.
A Lava Jato destaca que o
empresário que pagou a propina afirma ter prestado contas de tal
pagamento para o coronel Lima e também para Moreira Franco.
Fernando José da Costa, que defende Vanderlei de Natale
“A
defesa de Varderlei, representada por Fernando José da Costa, recebeu
com surpresa e indignação a denúncia contra Vanderlei por peculato,
crime praticado por funcionário público, por valores recebidos da
Eletronuclear, primeiro porque nunca foi funcionário público e segundo
porque nunca prestou servições à Eletronuclear ou recebeu dela qualquer
valor.
Da
mesma forma contesta veementemente a denúncia por lavagem, primeiro
porque não recebeu valores das empresas do Lima, pelo contrário,
depositou valores nesta conta e segundo porque tais fatos, segundo
decisão do Ministro Barroso, do STF, devem ser apurados pela justiça de
São Paulo.
Sobre recurso ou novo pedido de prisão, apesar de
entendermos inexistir elementos que o justifiquem, espera-se que ao
menos individualize as condutas de cada um e não se pleiteie prisão em
bloco.
Sobre uma lamentável afirmação da força-tarefa do Rio de
que Vanderlei escondeu um notebook embaixo de um sofá com a ajuda de uma
funcionária, como é de conhecimento destes Procuradores, Vanderlei não
se encontrava na empresa, nem em sua casa quando soube da busca e
apreensão, assim, como alguém que não se encontra no local de uma busca e
apreensão pode esconder algo? Melhor seria se a força-tarefa explicasse
o envio de documentos sigilosos à mídia colhidos na casa de Vanderlei,
que incidem na prática de crime de violação de sigilo funcional.”
Eduardo Carnelós, defensor de Temer
“Foi
um show de horrores a coletiva hoje (sexta, 29) do Ministério Público
Federal para anunciar e ‘explicar’ as duas denúncias apresentadas contra
Michel Temer.
Repetiu o processo midiático do dia em que foi preso o ex-Presidente.
Como
se dá com as acusações que não se sustentam em nenhum elemento idôneo,
mas apenas em suposições e na débil palavra de delatores, essas
aleivosias lançadas partem da falsa premissa de que seria ilícito
qualquer contato mantido entre Temer e Moreira Franco, uma relação que
nada tem de ilegal ou ilegítima.
São ambos quadros importantes do
MDB, sendo Temer o seu presidente licenciado, e Moreira o presidente da
Fundação Ulysses Guimarães, e é absolutamente natural que mantenham
contatos frequentes, sem que isso indique alguma atitude escusa.
Mais uma vez, pretende-se tornar criminosa a prática política no Brasil, o que é inadmissível!
Quanto
às denúncias, cujo conteúdo foi divulgado à imprensa antes de estar
disponível aos advogados, nos autos – o que já se tornou costume abjeto
nessas ações pirotécnicas -, elas não têm nenhum fundamento sério, e
insistem em versões fantasiosas, como a de que Temer teria ingerência
nos negócios realizados por empresa que nunca lhe pertenceu.
A
partir disso, constrói-se uma tese acusatória completamente dissociada
da realidade, usando-se, inclusive, fatos que são objeto de outros
feitos.
Conviria que, com muita urgência, as autoridades que
insistem em tratar Michel Temer como inimigo público passassem a
respeitar a Constituição e o ordenamento jurídico, e encontrassem ao
menos um pouco de senso do ridículo!”
Antonio Sérgio de Moraes Pitombo, defensor de Moreira Franco
“A
denúncia reproduz a versão do delator Antunes Sobrinho. Além disso, a
narrativa do Ministério Público não se atém aos fatos da delação,
incluindo ilações sem qualquer respaldo probatório. As imputações
apresentadas serão afastadas no curso do processo.”
Fernando Fernandes, que defende Othon Luiz Pinheiro
Fernando
Fernandes, advogado que representa Othon Pinheiro e as duas filhas do
militar da reserva, afirmou ontem que estava fora do Brasil. Disse ainda
que não vai se manifestar “até acesso integral” à acusação.
Fonte: Terra - Publicado por: Gerlane Neto
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