Palácio do Planalto distribui neste domingo vídeo em defesa do golpe militar de 1964
O material descreve os acontecimentos do dia 31 de março de maneira semelhante à forma como o presidente Jair Bolsonaro e alguns ministros tratam do assunto
© Carolina Antunes/PR
O Palácio do Planalto
distribuiu neste domingo, 31, um vídeo que faz uma defesa do golpe
militar de 1964. O material descreve os acontecimentos do dia 31 de
março de maneira semelhante à forma como o presidente Jair Bolsonaro e
alguns ministros tratam do assunto. Para eles, a derrubada de João
Goulart do poder, que marcou o início do período de 21 anos de ditadura
militar no Brasil, foi um movimento para conter o avanço do comunismo no
País.
"O Exército nos salvou. O Exército nos salvou. Não há como
negar. E tudo isso aconteceu num dia comum de hoje, um 31 de março. Não
dá para mudar a história", diz o apresentador do vídeo. Hoje, o golpe
completa 55 anos.
A peça, que tem pouco
menos de dois minutos e não traz a indicação de quem seria seu autor,
foi distribuída por um número oficial de WhatsApp do Planalto,
usado pela Secretaria de Comunicação da Presidência para o envio de
mensagens de utilidade pública, notícias e serviços do governo federal.
Para receber os conteúdos, os jornalistas precisam ser cadastrados no
sistema.
A assessoria de imprensa do Planalto foi procurada e,
como resposta, disse que o Planalto não irá se pronunciar. A equipe
também confirmou que o canal usado para disparar o vídeo é mesmo
oficial. "Sobre o vídeo a respeito do dia 31 de março, ele foi divulgado
por meio de nosso canal oficial do governo federal no WhatsApp. O
Palácio do Planalto não irá se pronunciar".
O mesmo vídeo foi
compartilhado hoje mais cedo no Twitter pelo deputado federal e filho do
presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). "Num dia como o de hoje o
Brasil foi liberto. Obrigado militares de 64! Duvida? Pergunte aos seus
pais ou avós que viveram aquela época como foi?", diz Eduardo no post
que anuncia o vídeo.
Um dos trechos do material afirma que "era,
sim, um tempo de medo e ameaças, ameaças daquilo que os comunistas
faziam onde era imposto sem exceção, prendiam e matavam seus próprios
compatriotas" e "que havia, sim, muito medo no ar, greve nas fábricas,
insegurança em todos os lugares".
Diante disso, conta o
apresentador, o Exército foi "conclamado" pelo povo e precisou agir.
"Foi aí que, conclamado por jornais, rádios, TVs e, principalmente, pelo
povo na rua, povo de verdade, pais, mães, igreja que o Brasil lembrou
que possuía um Exército Nacional e apelou a ele. Foi só aí que a
escuridão, graças a Deus, foi passando, passando, e fez-se a luz".
O
apresentador convida as pessoas a conhecer essa verdade buscando mais
detalhes e depoimentos nos jornais, revistas e filmes da época. Na parte
final, o vídeo é concluído sob o Hino Nacional, e um outro narrador,
agora apenas com voz e sem imagem, diz: "O Exército não quer palmas nem
homenagens. O Exército apenas cumpriu o seu papel".
Celebrações
No
sábado, a Justiça Federal cassou liminar que proibia o governo de
promover os eventos alusivos ao golpe de 1964. A decisão foi da
desembargadora de plantão no Tribunal Regional Federal da 1ª Região,
Maria do Carmo Cardoso. Apesar de "reconhecer a sensibilidade do tema em
análise", ela decidiu que a recomendação do presidente Bolsonaro para
comemorar a data se insere no âmbito do poder administrador.
"Não
visualizo, de outra parte, violação ao princípio da legalidade, tampouco
violação a direitos humanos, mormente se considerado o fato de que
houve manifestações similares nas unidades militares nos anos
anteriores, sem nenhum reflexo negativo na coletividade", escreveu a
magistrada.
A liminar havia sido concedida na noite de
sexta-feira, 29, pela juíza Ivani Silva da Luz, da 6ª Vara da Justiça
Federal em Brasília, atendendo a um pedido da Defensoria Pública da
União. A Advocacia-Geral da União (AGU) recorreu ainda na sexta e, na
manhã de sábado, saiu a sentença da desembargadora.
Antecipando-se
à data, o Exército realizou na semana passada no Comando Militar do
Planalto, em Brasília, cerimônia para relembrar o 31 de março. Na
solenidade, em que esteve presente o comandante da Força, general Edson
Leal Pujol, o episódio foi tratado como "movimento cívico-militar". Os
oito comandos do Exército também já realizaram semana passada cerimônias
alusivas ao 31 de março.
Conforme revelou o Estadão, Bolsonaro orientou os
quartéis a celebrarem a data histórica, que havia sido retirada do
calendário de comemorações das Forças Armadas desde 2011, no governo de
Dilma Rousseff. A determinação de Bolsonaro foi para que na data as
unidades militares fizessem "as comemorações devidas".
Política ao Minuto
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