Governo desagrada base ao desistir de apresentar antes a reforma da Previdência para líderes partidários
O
governo Jair Bolsonaro abandonou a ideia de explicar a reforma da
Previdência para os líderes partidários antes de enviar a proposta ao
Congresso.
Apesar de assessores da
articulação política do Palácio do Planalto terem defendido e articulado
a reunião prévia, o plano foi descartado pelo presidente, que preferiu
realizá-la depois.
A decisão não
agradou líderes de partidos que tendem a se alinhar à reforma. Eles
foram convidados para um café da manhã com o presidente na quinta-feira
(21) - um dia depois da entrega da PEC (Proposta de Emenda à
Constituição).
Mesmo o DEM, partido
com o maior número de ministérios, não garante a participação no
encontro com Bolsonaro. A sigla, considerada estratégica pela equipe
presidencial para aprovar o texto, tem uma bancada de 27 deputados
federais.
“Vamos
avaliar. Era mais prudente conversar antes de encaminhar o texto para
saber o que pode passar ou não [em votação no Congresso]”, disse o líder
do DEM, Elmar Nascimento (BA).
A
falta de articulação do governo tem incomodado parlamentares. Enquanto a
reforma da Previdência tramitar na Câmara, interlocutores do presidente
ainda precisarão formar a base aliada na Casa, que ainda é uma
incógnita.
Para aprovar uma PEC, são
necessário 308 votos de deputados. O PSL, partido de Bolsonaro, tem a
maior bancada na Câmara, com 54 deputados, mas o Palácio do Planalto
precisará do apoio do chamado “centrão”, partidos como DEM, PP, PR e
Podemos.
Segunda maior bancada
partidária na Casa, o PP, que reúne 37 deputados, pode nem ter
representante no café da manhã na residência oficial do presidente.
O líder da sigla, Arthur Lira (AL), disse que não irá ao encontro, pois já tinha uma viagem marcada.
“Se
houver encontro, pode ser que a gente indique um vice-líder. Mas acho
que a reunião não tem sentido. Um dia depois de entregar a PEC, vai ser
somente para tirar foto”, afirmou.
Responsáveis
pela interlocução com as bancadas, líderes de partidos que podem se
alinhar ao governo dizem que, sem uma apresentação prévia da reforma da
Previdência, os deputados criarão uma opinião pessoal sobre diversos
pontos da proposta.
Por isso, será
mais difícil convencer os parlamentares sobre a necessidade de aprovação
do texto e evitar rejeição de pontos do projeto.
“Pelo
menos a experiência que eu tive em Goiás é que o Executivo sempre chama
o Parlamento para conversar antes de apresentar qualquer coisa”,
afirmou o líder do Podemos, José Nelto (GO). A sigla tem 11 deputados.
Segundo ele, o governo “já começou mal” e que falta articulação política, reclamação recorrente.
Ainda
em janeiro, assessores do Palácio do Planalto montaram uma estratégia
para buscar votos em favor do projeto com regras mais rígidas para
aposentadorias, que faz parte da estratégia do ministro Paulo Guedes
(Economia) de equilibrar as contas públicas.
Esse plano incluía uma reunião com líderes da potencial base de apoio do governo na Câmara antes da apresentação da PEC.
O
objetivo era valorizar o diálogo com as bancadas partidárias e evitar
desgaste com os deputados, que serão os primeiros a analisar a PEC e
podem desidratar as medidas.
Além
disso, técnicos da Economia e o secretário especial de Previdência e
Trabalho, Rogério Marinho, devem ir a encontros com as bancadas da
Câmara para explicar a reforma da Previdência. Isso ainda está previsto.
Mas,
diante da crise que resultou na demissão de Gustavo Bebbiano do cargo
de ministro da Secretaria-Geral, o Palácio do Planalto não se organizou
para apresentar a reforma da Previdência antes para os líderes, segundo
assessores de Bolsonaro.
A
desistência da apresentação prévia também é criticada, em caráter
reservado, por integrantes da Casa Civil, responsável pela articulação
com o Poder Legislativo. Nas palavras de um auxiliar presidencial, o
governo iniciou o processo “com uma falta grave”.
Eles
apontam ainda como desvantagem a queda de Bebianno, que tinha uma
interlocução com partidos da provável base aliada, como PSL e DEM, e com
o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tratava da pauta
legislativa como o ex-ministro.
O
substituto de Bebbiano, general Floriano Peixoto, é um quadro técnico,
com pouco diálogo com lideranças partidárias, o que não é bem-visto por
parlamentares filiados ao partido do próprio presidente, o PSL.
Bolsonaro
irá pessoalmente à Câmara entregar a PEC nesta quarta-feira. Ele também
fará um pronunciamento à nação, em cadeia nacional de rádio e
televisão, apresentando os principais pontos da proposta, fala que será
anterior à reunião com os líderes partidários.
O
governo, no entanto, já vem discutindo pontos da proposta de alteração
nas regras de aposentadoria com governadores e com os presidentes da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Fonte: Noticias ao minuto com informações da Folhapress - Publicado por: Suedna Lima
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