quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

O medo de Sabrina Bittencourt

Mensagens a uma amiga de ameaças feitas a ativista Sabrina Bittencourt antes de se matar


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Em troca de mensagens com amiga na véspera de possível suicídio, ativista diz que estaria sendo perseguida e insinua que João de Deus oferecia casas populares em troca do silêncio de suas vitimas.
Horas antes de supostamente pôr fim à própria vida na noite do último sábado (02), Sabrina Bittencourt, de 38 anos, ainda tentava expandir sua rede de apoio para checar denúncias contra o médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus. Gabriel Baum, filho da ativista, Maria do Carmo Santos, a presidente do grupo “Vítimas Unidas”, e Vana Lopes, fundadora do “Vítimas Unidas”, confirmaram a morte dela. Segundo a ONG, Sabrina estaria em Barcelona; já Gabriel afirmou que ela cometeu suicídio no Líbano. Até o momento, porém, nenhum corpo foi encontrado e ainda não há confirmação oficial da morte, apenas através da organização.
“Protejam a memória de Sabrina”, pede Vana que conta que os homens denunciados por elas se uniram para realizar uma campanha de difamação contra Sabrina. “Ela me falou na tarde de sábado que estava cansada”.
Sob efeito de medicação para dormir e ainda com receio de falar com a imprensa, Vana diz que também sofre constantes ameaças. “Tem um pessoal dizendo que sou assassina, incitando as pessoas a me odiarem. A pressão vem inclusive de advogados desses monstros.”
Tudo teria piorado, conta Vana, quando o grupo lançou um aplicativo. “Passamos a receber muito mais denúncias”, diz ela, uma das vítimas do médico Roger Abdelmassih.
Para ela, Sabrina teria sido forte para ajudar outras vítimas, mas não a si mesma. “Ela ajudou pessoas, mas quando era para se ajudar, ficava tudo difícil. É uma quadrilha muito grande atrás de todas essas ameaças. Os abusadores se juntaram para destruir a Sabrina”, acredita.
A ativista ajudou a desmascarar João de Deus no final do ano passado quando reuniu dezenas de vítimas de abuso sexual. Ela encaminhou os relatos ao Ministério Público de Goiás e à Polícia Civil. Sob pressão de pessoas ligadas ao religioso, preso em Goiás, Sabrina denunciava as ameaças que sofria, motivo que fez com que ela saísse do Brasil.
Acostumada a recolher a dor da violência em Goiânia, a psicóloga Aparecida Alves foi procurada por Sabrina na manhã do que seria o último sábado de vida da militante. Ela pediu a ajuda de Aparecida para entrar em contato com alguém que pudesse investigar casos em que o médium teria se utilizado de casas do Programa “Minha Casa Minha Vida” para silenciar vítimas.
Na conversa a que ÉPOCA teve acesso, Sabrina queria a lista de donos das casas em Itapaci, no interior de Goiás. Segundo Sabrina, uma testemunha teria dito que o médium doava casas para suas vítimas afim de que não o denunciassem.

Sabrina pediu ajuda para investigar suposto esquema de João de Deus Foto: Reprodução
Sabrina pediu ajuda para investigar suposto esquema de João de Deus - Foto: Reprodução
Troca de mensagens de Sabrina com amiga Foto: Reprodução
Troca de mensagens de Sabrina com amiga - Foto: Reprodução


Sabrina relata ameaças sofridas por Paulo Pavesi Foto: Reprodução
Sabrina relata ameaças sofridas por Paulo Pavesi - Foto: Reprodução

Neste mesmo diálogo, a ativista confidencia a perseguição que sofria nas redes sociais por Paulo Pavesi. Em uma carta postada nas redes sociais, Sabrina repete o alerta.
Em seu perfil no Facebook, Pavesi se defendeu de acusações de que ele teria provocado a morte da militante. “Os apoiadores de Sabrina estão tentando fazer um ataque virtual contra mim alegando que ela se matou por minha causa.”
Na mesma conversa com Aparecida, Sabrina alertou: “Uma guia que trabalha na Casa Dom Inácio de Loyola marcou vários dos matadores profissionais do João de Deus, pedindo para me localizarem.”
Para Aparecida, o Estado teria falhado em cuidar da saúde emocional de Sabrina. “A violência tem impacto em nossa mente que ninguém tem acesso. A vítima, como Sabrina, precisa de um acompanhamento médico”, explica.
Segundo ela, a polícia e a Justiça colocam o peso sobre as vítimas e testemunhas.“Ela lutou até onde deu conta. Ela não sucumbiu. Não podemos endeusar, mas também não podemos esquecer seu empenho contra a perversidade do João de Deus. Ela merece nosso respeito”, acrescenta.
No final de janeiro, Sabrina entrou no caso de denúncia coletiva de abusos de um médico no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO). Ela gravou dois vídeos em apoio às vítimas, subordinadas do médico Ricardo Paes Sandré. A defesa nega todas as acusações.
“Sabrina foi muito solícita, parecia indignada”, diz o jornalista José Mário, marido de uma das vítima do médico. “Realmente, uma pessoa que acreditava, se mostrava empenhada em denunciar.”

Fonte: epoca.globo.com

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