sábado, 16 de fevereiro de 2019

Mineradora já sabia de problemas com sensores da barragem

Vale sabia de problemas com sensores de barragem dois dias antes de rompimento



A Polícia Federal identificou em e-mails trocados por funcionários da Vale e da consultoria alemã Tüv Süd que a empresa de mineração já sabia de problemas com sensores da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, dois dias antes do rompimento. As informações constam do depoimento do engenheiro Makoto Namba, coordenador de projetos da empresa Tüv Süd, à PF.
Namba e outro engenheiro, André Yassuda, foram presos no dia 29 de novembro, quatro dias depois do estouro da barragem que despejou o mar de lama em Brumadinho. Na terça, 5, o Superior Tribunal de Justiça mandou soltar os dois engenheiros.
O delegado Luiz Augusto Nogueira leu os e-mails para o engenheiro durante seu depoimento. Segundo a PF, as mensagens “foram iniciadas pelo indivíduo Denis Valentim no dia 23 de janeiro de 2019, às 14h38” e endereçadas a executivos da Vale a da Tüv Süd. No dia 24 de janeiro, às 14h44, funcionários da terceirizada Tec Wise também receberam mensagens.
“(O) assunto tratado diz respeito a dados discrepantes obtidos através da leitura dos instrumentos automatizados (piezômetros) no dia 10 de janeiro de 2019, instalados na barragem B1 do CCF, bem como acerca do não funcionamento de 5 piezômetros automatizados”, narrou a Polícia.
Resultado de imagem para Vale sabia de problemas com sensores de barragem dois dias antes de rompimento
A PF questionou o engenheiro “qual seria sua providência caso seu filho estivesse trabalhando no local da barragem B1”.
“Respondeu que após a confirmação das leituras, ligaria imediatamente para seu filho para que evacuasse do local bem como que ligaria para o setor de emergência da Vale responsável pelo acionamento do PAEBM (Plano de Ação de Emergência para Barragens) para as providências cabíveis”, disse Makoto Namba.
Makoto Namba disse à PF que trabalha há 24 anos na Tüv Süd. Segundo o engenheiro, “a 1ª auditoria externa realizada pela Tüc Süd na Barragem do Córrego Feijão ocorreu em setembro de 2018 e consistiu na avaliação das condições da estrutura da barragem se seus dispositivos de segurança e dos dados referentes à mesma de inspeções anteriores bem como da revisão periódica realizada em junho de 2018”.
“A auditoria externa ou inspeção regular realizada em setembro de 2018 e os respectivos relatórios serviram como base para a declaração de estabilidade assinada pelo declarante em setembro de 2018 referente a barragem B1 do CCF”, contou.
De acordo com o depoimento, o engenheiro relatou ter ouvido uma frase “do funcionário da Vale de nome Alexandre Campanha”, durante uma reunião: “A Tüv Süd vai assinar ou não a declaração de estabilidade?”.
Resultado de imagem para Vale sabia de problemas com sensores de barragem dois dias antes de rompimento
Namba declarou ter respondido: “A Tüv Süd irá assinar se a Vale adotar as recomendações indicadas na revisão periódica de junho de 2018.”
“Apesar de ter dado esta resposta para Alexandre Campanha, o declarante sentiu a frase proferida pelo mesmo como uma maneira de pressionar o declarante e a Tüv Süd a assinar a declaração de condição de estabilidade sob risco de perderem o contrato”, relatou.
O engenheiro declarou também à PF saber “da existência de uma nascente a montante do reservatório da barragem B1 do CCF e que a água excedente desta nascente corria para dentro da barragem”.
“O declarante não sabe dizer ao certo, mas pode afirmar que desde final de julho/2018 foi construída uma barreira e colocada uma tubulação na nascente para desviar a água do reservatório”, afirmou.
“Em setembro de 2018, na apresentação do relatório de inspeção regular, o declarante solicitou à Vale a construção de um SUMP para que o excedente que extravasasse a barreira e a tubulação colocada na nascente ficasse represado neste local e bombeada para o extravasor.”
À PF, o engenheiro disse ainda que “se o DAM BREAK da barragem B1 mostrou que o refeitório e a sede administrativa estavam no caminho da lama que escorreu após o rompimento, a Vale deveria ter transferido a sede administrativa e o refeitório bem como demais construções para outro local fora do caminho da lama”.
Com a palavra, a Vale
“A Vale informa que vem colaborando proativamente e da forma mais célere possível com todas as autoridades que investigam as causas do rompimento da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. Como maior interessada no esclarecimento das causas desse rompimento, além de materiais apreendidos, a Vale entregou voluntariamente documentos e e-mails, no segundo dia útil após o evento, para procuradores da República e delegado da Polícia Federal. A companhia se absterá de fazer comentários sobre particularidades das investigações de forma a preservar a apuração dos fatos pelas autoridades.”
FERNANDO MORENO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Fonte: http://www.itatiaia.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário