Carnaval: Escola de samba Beija-Flor de Nilópolis vai recriar seus 70 anos com fábulas na avenida
Tomaz Silva/Agência Brasil |
Esopo pode não ser um nome familiar para muita gente,
mas não é difícil encontrar quem já aprendeu lições valiosas com suas
histórias, como a cigarra e a formiga, a galinha dos ovos de ouro ou a
raposa e as uvas. Fábulas como essas vão costurar uma outra história na
Marquês de Sapucaí: os 70 anos da Beija-Flor de Nilópolis, que promete
falar de seu passado com o olhar no futuro.
A escola da Baixada Fluminense vem do título de 2018 com a missão de
relembrar seus grandes carnavais. Desde 1976, quando chegou ao Grupo
Especial, a escola ganhou 14 títulos. Para narrar essa trajetória, o
integrante da Comissão de Carnaval Marcelo Misailidis conta que a
agremiação pensou em uma costura entre histórias e fábulas, agrupando os
enredos a serem revisitados em cinco grupos: os temas infantis, os
enredos de referência africana, os carnavais que falaram de regiões do
Brasil, as homenagens a personalidades e as críticas sociais.
“Decidimos assim para não criar uma situação em que houvesse uma
grande divergência temática”, conta Misailidis. A preocupação era que
enredos muito diferentes lado a lado criassem uma confusão visual.
A solução foi organizar setores que caminham cronologicamente pela
abordagem que a Beija-Flor deu a cada um desses temas ao longo dos anos.
Cada um desses setores terá um carro alegórico, uma fábula e uma moral
da história.
O carnavalesco promete que a ideia é provocar o público a encontrar
as referências aos grandes desfiles, que não serão simplesmente
repetidos, mas terão novos contextos. “Se você não recria, não tem a
menor graça. Ninguém tem interesse em uma coisa que todo mundo já sabe
como termina”, diz ele. “Não se pode subestimar a capacidade de
compreensão do público, e muito menos do jurado, que é preparado e
recebe um direcionamento para o que vai julgar”.
Coreógrafo e ex-primeiro bailarino do Theatro Municipal do Rio de
Janeiro, Misailidis compara o desfile de uma escola de samba a um grande
musical: “É um espetáculo com cenografia, com canto, dança,
indumentária, pesquisa de narrativa de enredo. Tudo isso junto em um
processo de alquimia muito semelhante a um musical. Existe uma
integração nessas relações de arte que tornam aquilo um espetáculo”.
Quando as cortinas se abrirem, a Beija-Flor passará pela Marquês de
Sapucaí com 37 alas, cinco carros alegóricos e pouco mais de 3 mil
componentes. No ano em que a escola completa 70 anos, seu desfile mais
consagrado chega aos 30: Ratos e Urubus, larguem a minha fantasia. O
enredo de Joãozinho Trinta voltará à avenida no setor que falará sobre
as críticas sociais, mas a proposta é atualizar essas reflexões. “Não é
só falar do passado, é falar do passado com um olhar para o futuro”,
destaca Misailidis.
Uma das marcas da escola de samba de Nilópolis é a imponência de suas
alegorias. Nos últimos 13 anos, Orlando Sergio fez parte da execução
desses carros. O artista plástico de 42 anos trabalhava com espumas na
decoração de festas infantis, e, no barracão da Beija-Flor, aprendeu a
fazer trabalhos muito maiores.
“A escola me deu oportunidade e aprendi a ser profissional aqui
dentro. Trabalho o ano inteiro voltado para o carnaval. Aqui, meu
trabalho ganhou outra proporção e tive acesso a materiais,
carnavalescos, ideias novas”, conta.
Para Orlando, recriar carnavais campões em novas alegorias é um
trabalho desafiador, mas recompensante por renovar o orgulho dos
componentes da escola: “É um enredo que resgata o trabalho daqueles que
contribuíram com a história da escola. É uma maneira de a galera nova
valorizar mais o carnaval e tudo que a gente já vivenciou”.
Agência Brasil
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