Só Forças Armadas do Brasil impedem golpes, diz Jair Bolsonaro nesta quarta-feira
Em posse do ministro da Defesa, presidente diz que comandante do Exército é responsável por 'eu estar aqui'
© Reuters / Ricardo Moraes
O presidente Jair Bolsonaro
(PSL) afirmou nesta quarta-feira (2) que as Forças Armadas do Brasil são
obstáculo para quem quer usurpar o poder no país. A declaração foi feita
na transmissão de cargo para o novo ministro da Defesa, a única
prestigiada pelo mandatário, capitão reformado do Exército, além da
posse dos novos ministros que atuam no Palácio do Planalto.
O evento em que o general de quatro estrelas (topo da
hierarquia) da reserva Fernando Azevedo e Silva virou ministro foi um
dos mais concorridos do dia de posses em Brasília, dado simbólico em um
governo fortemente marcado pela presença de militares de alta patente em
seu núcleo decisório. "A situação em que o Brasil chegou é prova
inconteste de que o povo, em sua grande maioria, quer respeito, quer
ordem, quer progresso", afirmou.
Disse
que os militares, que comandaram uma ditadura de 1964 a 1985, foram
esquecidos. "Esquecidos por quê? Porque as Forças Armadas, senhor
ministro [Dias] Toffoli [presidente do Supremo, presente], senhora
[procuradora-geral da República, também no evento] Raquel Dodge, são na
verdade um obstáculo para aqueles que querem usurpar o poder", disse.
"O
tempo passou, as Forças Armadas sofreram um brutal desgaste perante a
classe política, mas não junto ao povo, que continua acreditando em
nós", disse. A frase vai contra tudo o que as Forças Armadas desejam
neste momento, que é a identificação política com o novo governo, embora
o próprio comandante do Exército já tenha dito em entrevista recente
que isso acaba sendo inevitável na retórica ao menos.
Ao longo da
campanha eleitoral, Bolsonaro cercou-se de militares da reserva, que
comandaram a confecção de seus planos de governo. Em mais de um momento
foi levantado o temor de que isso significasse uma tutela de farda sobre
o poder civil, algo de resto diferente da ideia clássica de um golpe.
Bolsonaro,
que não discursou na posse pela manhã no Planalto, fez uma fala
considerada algo deselegante por alguns dos generais presentes no
evento. Nela, criticou de forma indireta Fernando Henrique Cardoso, a
quem já disse que teria mandado fuzilar na ditadura - os militares de
forma geral têm os anos FHC no poder (1995-2002) como um dos
piores momentos do pós-redemocratização.
Falando que irá recompor a
carreira militar, ainda dependente de regulamentação, o presidente fez
uma retrospectiva. Falou de José Sarney (1985-1990), Fernando Collor de
Mello (1990-92), hoje senador e que estava presente, e Itamar Franco
(1992-94). Elogiou os esforços deles sobre a carreira, mas quando foi
falar de FHC disse que "depois tivemos outro governo, o senhor [o
ministro Azevedo e Silva] sabe qual foi". Falou que a categoria teve
problemas, "em especial comigo, mas seguimos a nossa jornada".
A
plateia riu, mas houve censura velada em rodas de conversa após o fim da
solenidade. Os governos petistas subsequentes e o mandato de Michel
Temer não foram nem citados, ainda que o presidente tenha se apressado
em agradecer a presença de Raul Jungmann, civil que ocupou a pasta de
2016 a 2018. Bolsonaro lembrou que foi um dos três deputados a votar
contra a criação do Ministério da Defesa, em 1999 sob FHC, por
considerar que ele não atendia naquele momento as demandas militares.
Azevedo
e Silva será o segundo militar a chefiar a pasta, substituindo o também
general da reserva de quatro estrelas Joaquim Luna e Silva. Entre os
vários elogios dispensados, Bolsonaro dedicou uma fala especial ao
comandante do Exército que deixará o cargo, general Eduardo Villas Boas.
Considerado
um grande fiador de moderação nos turbulentos dois anos do governo
Temer, ele disse que o general é "um dos responsáveis por eu estar
aqui", citando uma conversa que ambos tiveram entre os dois turnos da
eleição. "O que já conversamos fica entre nós", disse. Oficiais,
questionados sobre o real significado da fala enigmática de Bolsonaro,
apenas disseram que ele queria se dizer agradecido pelo papel de Villas
Bôas, recusado a ideia de tutela militar sobre o novo governo.
Já
Azevedo e Silva também citou o balanço institucional da nova conjuntura
em sua fala. Elogiou em seu discurso o papel do Judiciário e do
Ministério Público Federal em prol da "estabilidade nacional". Disse a
Toffoli e a Dodge que eles são "catalisadores da estabilidade nacional".
Ambos
estavam presentes à posse do general. Azevedo e Silva foi chamado por
Toffoli quando ele assumiu a presidência do Supremo, em setembro de
2018, para o assessorar e sempre foi visto como uma ponte de ligação
entre as Forças Armadas e o Judiciário para garantir interlocução nas
eventuais turbulências do governo Bolsonaro. Agora, seu peso político
multiplicou-se – não menos porque generais como o novo chefe do Gabinete
de Segurança Institucional, Augusto Heleno, deixaram seu papel de
consultores de campanha e agora estão no próprio governo, reforçando a
teoria da tutela militar.
Heleno seria o vice de Bolsonaro, mas
uma questão eleitoral acabou tirando o seu PRP da coligação do agora
presidente. O cargo acabou com o polêmico general Hamilton Mourão, que
em 2017 defendeu a intervenção militar em caso de caos civil e deixou a
ativa no começo de 2018. Sobre a frase de Bolsonaro acerca de Villas
Bôas, Heleno desconversou.
O novo ministro da Defesa fez uma
deferência à mídia, agradecendo sua presença na cerimônia e o papel de
cobrança de autoridades – uma postura bem diferente da de Bolsonaro e de
seus entorno, hostis à imprensa. Ele ressaltou que as Forças Armadas
irão agir apenas dentro do que estabelece a Constituição, inclusive em
questões de segurança pública.
De saída do cargo, o também general
Joaquim Silva e Luna despediu-se com um discurso no qual defendeu o
trabalho de sua pasta. Elogiou sua equipe, "uma seleção da Copa de 1970
de amigos", e citou valores caros ao bolsonarismo. "Nesse mundo volátil,
é preciso ter valores sólidos. Vemos instituições destruídas pela falta
de Deus", disse.
Bolsonaro o elogiou bastante e disse que, no que depender dele, o
general "não vai botar o pijama, não". Há especulação de que ele poderá
ser aproveitado em algum cargo no Planalto.
Notícias ao Minto com informações da
Folhapress
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