Sobrevivente da tragédia de Brumadinho, mulher perde bebê, marido e irmã: 'Estou indignada'
Paloma Cunha, de 22 anos, disse nesta terça-feira, 29, ao sair do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, que não quer recordar o pavor do dia em que houve o estouro da barragem
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Ela foi resgatada com vida
dos escombros na área da pousada Nova Estância, perdeu o bebê, o marido,
Robson, enterrado no domingo, uma irmã, Pâmela, mas sobreviveu puxada
por um socorrista que usou uma corda para o resgate na lama. Paloma
Cunha, de 22 anos, disse nesta terça-feira (29)ao sair do Hospital João
XXIII, em Belo Horizonte, que não quer recordar o pavor do dia em que o
estouro da barragem em Brumadinho levou parte da vida dela e da família.
"Vocês me desculpem, mas prefiro não relembrar porque é muito difícil",
contou, caminhando amparada pelo pai, Lucimar, no fim da tarde. Ela
disse que, por enquanto, não quer voltar a Córrego do Feijão, onde
vivia.
Apresentando as marcas da tragédia espalhadas pelo corpo, ela e
o pai criticaram a mineradora. "Até agora, a Vale não proporcionou nada
pra nós", afirmou Lucimar. "Estamos dependendo de amigos", contou.
Paloma
disse que a "perda é muito grande". Ela lembrou que ainda tem esperança
de que seu bebê esteja com vida e lamentou a morte de Robson, já
sepultado no domingo. Segundo ela, o marido morreu por "causa de
imprudência" da Vale. "Estou indignada", afirmou. "Eu estava todo o
tempo consciente."
Também
internada no mesmo hospital, outra sobrevivente, Talita Cristina, de 15
anos, passou por cirurgia na tarde desta terça-feira. A menina foi
resgatada dos escombros da pousada Nova Estância, em Brumadinho,
arrasada pela avalanche de lama. Alessandra Pereira, que trabalhava na
pousada, também está hospitalizada por ter aspirado o lodo de minério da
barragem. A filha dela, Laís Gabriela, de 14 anos, está desaparecida.
"Ainda
não sei como está a Talita, que foi operada agora", contou José Antonio
Pereira, marido de Alessandra, que também trabalhava na pousada, mas
não estava no local na hora do desastre. "Vou subir agora para saber."
Pereira contou ao jornal O Estado de S. Paulo que a mulher, que
tem o rosto muito inchado e está com problemas respiratórios pela
inalação de lama, estava com as meninas quando a casa desabou. A filha
dele, Lais Gabriela, até hoje não foi encontrada.
O
resgate de Alessandra e Talita foi feito por um amigo da família, que
arrancou as duas da lama, usando os próprios braços. Abalado, Pereira
contou ainda que a pousada foi arrastada pela lama. Alessandra estava na
parte da casa que tinha telhado. Talita e Laís Gabriela estavam na
parte da construção na qual havia uma laje de concreto, o que, segundo a
família, provocou as fraturas na menina.
Até o fim da tarde,
Talita ainda se recuperava de cirurgias corretivas na UTI. Alessandra,
segundo o marido, poderia ser transferida para outra unidade médica
ainda nesta terça-feira. Segundo o Hospital João XXIII, além delas foram
internados um homem, de 55 anos, com fratura na perna. Há ainda outro
internado, de 59 anos, afetado pela perda de um parente na tragédia.
Resgate
O
major Flávio Santiago, porta-voz da Polícia Militar, informou que
quadruplicará o efetivo responsável pelas buscas e pela proteção das
áreas afetadas. Já são 250 PMs na região e o total deve chegar a quase
mil até hoje, segundo ele.
Equipes de São Paulo, Goiás, Espírito Santo e Santa Catarina também
chegam nesta quarta-feira, 30, para ajudar. Serão mais 80 militares e 4
aeronaves, além de cães farejadores. Os grupos de resgate serão
distribuídos em 16 regiões diferentes. "Cada pelotão fará a atividade de
varredura da área, ampliando o serviço, fazendo a abordagem e
manutenção da ordem para que ninguém acesse as 'área quentes' (locais de
buscas)", disse o major.
Brasil ao Minuto com informações do Estadão Conteúdo
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